Ainda sobre nosso reencontro de 2006 em Macaé informo-lhe que compareci ao evento com a única finalidade de reencontrar contemporâneos-companheiros de luta anti-racista, apesar de me opor às paliativas cotas universitárias racialistas para negros e indígenas inclusas no PL 73/1999 de autoria da então deputada federal Eunice Lobão (DEM-MA) que é uma parlamentar-burguesa, oligárquica e branca. A propósito, o evento de 2006 em Macaé foi promovido pela Coordenação de Cultura Afro-brasileira (Corafro) órgão da Secretaria Municipal de Cultura, ambos espécies de senzalas para os negros uma vez que a casa-grande, o Poder Executivo, há 31 anos é dominado por uma oligarquia burguesa, populista, branca e mal-disfarçadamente racista.
Também no ano de 2006, a convite do diretório acadêmico eu e o Carlos Alberto Medeiros travamos um debate sobre cotas no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Já nesse debate ficaram explícitas duas divergências de princípio que são intrínsecas e acabam, opondo, antagonizando, nós do Movimento Negro Socialista (MNS) à quase totalidade dos movimentos negros. Tais divergências são históricas e ideológicas. A 1ª trata-se do significado do racismo que oprime a nós, os negros. A 2ª - o racialismo - é conseqüência da 1ª inclusive porque tanto o racismo quanto o racialismo foram criados, fundamentados, desenvolvidos internacionalmente pelos próprios opressores racistas.
Em relação ao racismo, embora os demais movimentos negros o definam como ideologia de dominação específica e estratégica, portanto uma opressão; para nós do MNS a opressão racista é indissociável da luta de classes que, por sua vez é o significado essencial da História. Isto foi compreendido genial e internacionalmente pelo herói-negro e mártir da Consciência Negra, o sindicalista e socialista sul-africano Stephen-Steve Bantu Biko (1946-1977) “Racismo e capitalismo são os dois lados de uma mesma moeda”. Não por acaso, esta célebre frase tornou-se o slogan do MNS, a partir da fundação em 13/05/2006 quando passamos a conceituar como racialismo, a ideologia e ou crença fundamentalista da existência de “raças” entre os seres da espécie humana.
Quanto à sua observação de que tenho me mostrado arrogante e prepotente, enquanto jornalista e militante do MNS ao me comportar como “a maior autoridade intelectual, política e cultural cujo entendimento está acima da compreensão dos simples mortais”. Embora respeite e não me incomode com sua opinião, esclareço-lhe jamais pensei considerar-me sequer um intelectual. Como militante anti-racista e um de seus fundadores, no IPCN aprendi muito mais do que no IFCS-UFRJ, onde estudei. Mas, não foram lá os únicos meios de aprendizado. Diferentemente de você, adotei, estudo e aprendo diariamente o marxismo com o qual busco ser coerente enquanto trabalhador-socialista além de negro anti-racista e anti-racialista, sem crise de consciência alguma.
Sobre sua ponderação “podemos divergir, polemizar, entretanto não podemos cercear o direito de outros exporem suas idéias; muito menos adjetivar e rotular preconceituosamente àqueles de quem discordamos”. Esta carapuça não cabe em minha cabeça. Isto é, os textos que redijo sempre os assino, pondo nome completo, identificação de categoria profissional e também de militância; inclusive deixo endereço eletrônico à disposição para o salutar debate de idéias. Desculpe-me a imodéstia, porém, é você quem me ajuda a tornar isto óbvio e ululante. Refiro-me ao fato de você contextualizar a frase em seguida, após tê-la pinçado de outro texto que redigi “São policiais civis, professores universitários, antigos militantes do movimento negro, todos racialistas”.
Esclareço-lhe, ao responder a um torcedor do GRES Beija Flor rechacei à tentativa do mesmo, não de debater idéias, mas em desqualificar o texto que havia redigido com o título “Hegemonia da Beija Flor expõe mazelas do privatizado Carnaval carioca”. Na resposta mencionei as agressivas desqualificações. Espero que você tenha prestado atenção a isso. Daí, os revides (sem dar a outra face) quando em meio ao debate de idéias fundamentado em fatos, acabei por classificar tal torcedor da Beija Flor de “analfabeto, fanático e grosseiro”. Concluindo, o professor e nosso contemporâneo de IPCN que você cita como amigo dileto, assim igualmente ele é considerado por mim. Tanto que, ele e você sempre recebem de mim uma pluralística comunicação eletrônica. Rsrsrs...
Fraternidade, Igualdade e Liberdade!
Macaé (RJ), 23 de agosto de 2.008.
*Almir da Silva Lima(Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.)
jornalista – um dos fundadores do IPCN (1975) e do MNU (1978) é membro da coordenação nacional do MNS desde 2006.