O Joio, o trigo e o macaco Tião.

Quem se lembra do Macaco Tião? Era um candidato protesto, lembram? Lógico que, votado, não poderia ser eleito, mas mesmo assim recebeu inúmeros votos, tamanha era a indignação do povo em relação aos nossos políticos. Aliás, perdão. "Aos", é artigo definido e dá a idéia de totalidade, e é verdade, e toda verdade tem que ser dita, que nem todos os que se deram ao labor da vida pública, pela política, trilham os mesmos (des) caminhos de muitos velhos conhecidos, contumazes freqüentadores da mídia investigativa ou quando não da própria policia civil ou federal. Nem todos envergonham o ideal da República, nem todos prostituem a soberana palavra Democracia. Nem todos são vampiros a sugar a nossa pátria-mãe, nem todos se esqueceram do 8º mandamento (Não roubarás!). Aliás, onde encontramos esta ordem, encontramos também outro valioso conselho: saber separar o joio do trigo...  O problema é que parece que há, cada vez mais, joio demais e trigo de menos, no imenso campo da política brasileira. Para piorar a situação, o joio (em grego "zizanion", em bom português "capim cevadinha", na sua classificação cientifica, Lolium Temulentum) é uma erva daninha que cresce entre os trigais; que enquanto semente se parece muito com a do trigo e que após crescida ainda se assemelha muito com este, causando mesmo confusão a quem os observe. Somente quando amadurece é que denota sua verdadeira natureza, por sinal imprestável. Melhor metáfora impossível.  

Precisamos nos ater mais aos manuais de "agronomia" e aprender a reconhecer esta terrível erva daninha, que a largos passos, toma conta de nossas "pradarias", de nossos "trigais". Não façamos isso e corremos o sério risco de em breve, passarmos fome, pois nos faltará a matéria-prima para o pão nosso de cada dia. Urge nos determos sobre os nossos campos, enquanto ainda é tempo de plantio. Escolher as boas sementes, as do trigo verdadeiro, é de suma importância neste instante. Mesmo sendo quase impossível impedir, por parte dos inimigos, o plantio das más sementes, é mister que lhes cortemos pela raiz assim que se nos mostrem sua real essência. E quando isso acontece, somente um lavrador cego, preguiçoso, irresponsável, ou responsável pelo plantio da má planta, se furtará do trabalho de se separar um do outro.  

Saindo das metáforas, como escolher um candidato, nesse mar de maquiagem e quase cinematográfica produção eleitoral? Nesse mercado onde a verdade se perde muitas vezes, onde tantas vezes a mentira é maquiada e vendida como a perfeita exatidão? Como discernir sem erro, o integro do desonesto, o sincero do calhorda canastrão, o ladrão do bendito? Como não nos influenciar pelas doces melodias, pelas bem elaboradas campanhas publicitárias, com seus discursos comoventes, tomadas em câmera lenta, depoimentos fraternos, beijos nas criancinhas, abraços nos idosos, oratórias inflamadas, promessas fascinantes? Sim. Há quem plante as más sementes, e há também quem as doure, por trinta moedas ou um pouco mais. Mas como não ser então, aquele que às compre? Simples. Ouvindo não as promessas (e muitas vezes é só o que há: promessas e nada mais); ouvindo não o discurso futurista do candidato ("eu farei..."), mas sim o seu presente e o seu passado. O que ele afinal FAZ? E como muitos já ocuparam, ou ainda ocupam, cargos eletivos, investiguemos: o que foi, realmente, que ele FEZ? Aqui vale também outra máxima: "Me diga com quem tu andas e eu te direi quem és...". Há muita gente pregando a retidão e a honestidade, mas ladeada está de toda sorte de má gente...  

Seria cômico se não fosse nauseante. Desfilam pelas ruas, avenidas, feiras, shows, partidas de futebol, casamentos, enfim, onde gente há, uma multidão de candidatos, apertando mãos, distribuindo sorrisos, santinhos, prometendo, prometendo, prometendo. Detalhe: são, todos, obviamente, convictos e praticantes cristãos (desconheceriam o 3º mandamento?...). Muitos retornam, depois de longos quatro anos, ao local onde esteja o povo que os elegeu, anos atrás. Onde estavam eles, durante todo este intercurso? Não conheciam as pútridas feiras que deveriam gerir e que hoje revisitam? Não sabiam das esburacadas e poeirentas e abandonadas e inseguras ruas da periferia que deveriam (e que prometeram) ter asfaltado e saneado e protegido? Não sabiam da dor dos que buscavam pelas madrugadas frias o atendimento nos postos de saúde quase abandonados? Não sabiam das péssimas condições das escolas públicas, de seus alunos, de seus professores? Onde estavam esses senhores, essas senhoras, que hoje reclamam (novamente) nossos votos? Que fim levaram suas antigas obrigações? Porque é tão fácil encontrá-los nos mais perdidos rincões das zonas rurais, nas nossas dezenas de praças abandonadas, em época de eleição, e tão difícil ter a eles acesso, após empossados no cargo? Para vê-los, (a muitos, pelos menos), antes das eleições, basta simplesmente ser um eleitor. Ser, por muitos deles, atendido, após o pleito, é algo somente possível após penosa via crucis. Outros tantos, nem assim.  

Esqueçamos a foto bonita, o largo sorriso, a doce melodia, as promessas. Resistamos ao canto da sereia. Lembremos que "vivemos em maya, a ilusão dos sentidos", e temos que nos libertar disso. Não votemos em promessas, cobremos projetos; pesquisemos a vida pregressa dos candidatos. Muitos querem retornar, ou continuar, num cargo que somente agora, às portas de nova eleição, sabemos ou lembramos que ocupavam, que ocupam. E se muitos nem conhecemos, se de muitos nem nos lembramos; de outros tantos nos lembramos SIM, e  conhecemos muito, muito bem o seu passado... 

Tenho saudades do macaco Tião. Claro que não era um candidato sério. Mas pelos menos assumia isso. Sem mentiras, sem floreios, sem promessas, sem pó de maquiagem na façe, no nariz. Não era joio, nem se dizia ser trigo. Assumia sua natureza simples e inegável de macaco. Honesto, franco assim, poucos. Poucos mesmo...  

Josafá Santos
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Historiador, Esp. em Educação
Vit. da conquista,BA. 24.08.08 
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