Brasileiros roubam brasileiros, sem nenhum pudor. Roubar estrangeiros também não é uma virtude, e tem brasileiro fazendo isso com a maior naturalidade como se fosse uma coisa comum, normal, legal e permitida.
A imagem do Brasil se deteriora aqui e lá fora por causa das atitudes desses brasileiros inescrupulosos. Sim, porque um país se faz de pessoas e são essas pessoas que sujam a visão dos outros sobre o nosso Brasil. Minha recente experiência, em férias em Natal – RN, me deixou mais que indignada. Me deixou estarrecida. Doze meses de trabalho, economia e planos para doze dias de férias, com a família à beira mar, acabaram por me colocar frente à frente com situações, no mínimo, constrangedoras.
De cara, o preço do aluguel das cadeiras e do guarda-sol é dado de acordo com a cara do freguês. Para gringo é um preço alto, para brasileiro otário o preço também é alto e para brasileiro briguento é de graça.
Na praia existem dois cardápios nos bolsos dos atendentes. No bolso esquerdo fica o cardápio para gringos e no direito fica o cardápio para brasileiros. Só os brasileiros briguentos conseguem 30% de desconto no cardápio destinado a nós. Os brasileiros otários acabam pagando R$ 35,00 numa porção de camarões fritos numa terra onde o quilo do camarão não passa de R$ 5,00. E os gringos? Os gringos pagam R$ 45,00 pela mesma porção.
E o pessoal que faz tatuagem de henna? Eles combinam um preço e depois diz que o trabalho vale mais!
E os vendedores de redes? Esses jogam as redes na areia e querem porque querem que você pague R$ 120,00 numa rede de fibra de coco! Rede essa que é desconfortável e que custa R$ 15,00 a 300 metros da praia! Um verdadeiro constrangimento.
E os pedintes? Os pedintes de beira de praia são um parágrafo à parte. Para se ter uma idéia da cara de pau de alguns brasileiros vou citar um cara famoso, em Natal, que só tem uma perna e que há 14 anos pede dinheiro na famosa Praia de Ponta Negra. Um dia ele encontrou uma senhora, dona de uma fábrica de próteses, que se ofereceu para ajudá-lo com uma perna mecânica. Ele quase bateu na mulher. Ele disse que queria dinheiro e não uma perna. Se ele ganhasse a perna perderia o argumento para pedir dinheiro, dinheiro esse que já comprou duas camionetes e quatro apartamentos à beira mar. Hoje o dito cujo só pede dinheiro aos domingos, na baixa temporada, e três vezes por semana na alta temporada.
Além desse tipo de lesão, existe o furto material. Entraram pela janela do banheiro no apart-hotel em que eu, meu marido e filhos estávamos dormindo. Isso mesmo: dormindo! levaram carteiras, documentos, cartões de crédito, celulares e a câmera digital que estava registrando nossos momentos de lazer. Por sorte, cansados de mais um dia de praia, não acordamos com os bandidos ainda dentro do quarto.
Ao acordarmos e darmos falta dos objetos roubados fomos até a administração do apart-hotel e o gringo que o gerencia nos encaminhou para a delegacia mais próxima para fazer o famoso Boletim de Ocorrência. Não era lá que se registrava uma queixa. Era, pasmem, numa delegacia especializada em atendimento aos turistas! Lá na delegacia certa, encontramos com turistas estrangeiros que também estavam passando pela mesma situação. Que vergonha!
Ao registrar a queixa eu disse para o atendente que suspeitava de uma moça, desenhista, que conhecemos na praia. Ela tinha ido ao nosso apart-hotel para fazer uma caricatura da família e que possivelmente essa moça seria a pessoa que passou as informações sobre o local para os bandidos. Ele não quis colocar essa informação no papel. Ele disse que iria passar essa informação, em off, para os investigadores e que nós aguardássemos que alguém nos procuraria para dar seguimento às investigações. Seis dias depois, desse episódio, embarcamos de volta à Rio Branco somente com o B.O. como documento e ninguém nos procurou.
Com relação ao prejuízo com os equipamentos, o administrador do apart-hotel ficou de nos reembolsar assim que mandássemos as notas fiscais. Sendo ele espanhol, ainda não contaminado com o jeitinho brasileiro, acredito que cumprirá com o combinado.
No mais, é preciso uma revolução moral. É preciso dizer basta à tantas canalhices. É preciso reformular o ser humano como um todo. Quem é do bem precisa tomar atitudes mais drásticas para acabar com o cinismo, precisa deixar de ser otário e exigir respeito. Quem é do mal precisa levar umas boas coças e passar por uma escola de boa conduta onde aprenderá a ser gente.
Se Deus é brasileiro, que Ele abençoe somente os bons brasileiros e as pessoas de bem que adotaram essa pátria como sua, as pessoas que podem orgulhar nosso país.