NAZISMO NA BOLÍVIA?

O domínio burguês escamoteia um estado nazista contra as culturas sujeitadas?

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CARREATA EM PROL DA AUTONOMIA DO DEPARTAMENTO DE SANTA CRUZ DE LA SIERRA-BOLÍVIA, COMO FORMA DE INSURGÊNCIA CONTRA O GOVERNO DE EVO MORALES.

Todo esse frenesi é somente pelo fato de um indígena estar na presidência da república? É somente isso? Não estaria por traz desses comportamentos um milênio de lutas raciais, significativamente escamoteadas? Será que os manuais modernos dão conta dessa realidade, considerando os modelos teóricos e metodológicos que têm marcado significativamente as explicações produzidas por um bom número de intelectuais, em particular de esquerda? O que está acontecendo hoje na Europa e nos Estados Unidos da América com os imigrantes não seria também uma face dessa manifestação? Os brados manifestos no discurso de Sarkozi contra o discurso da geração dos protagonistas das barricadas do desejo dos anos 60, e a forma truculenta com que tratou as barricadas atuais emergindo vigorosamente na periferia da tão famosa “Cidade Luz”, dão a clara conotação do discurso ocidental e sua forma negadora da multiplicidade cultural e de suas formas de subjetivação. 

As lutas raciais são bem explicadas por Michel Foucault em suas aulas de 1975 e 1976, no College de France. Contrapondo-se a uma máxima que tem guiado o discurso jurídico-político do Estado-Nação que norteou o modelo liberal, ele nega o aforismo de Claussewitz, ao afirmar que “a guerra é a continuidade da política por outros meios”. “Ao afirmar que “a política sim, é a guerra continuada por outros meios”, esse grande pensador, ainda ignorado pela arrogância de muitos de seus detratores, que ao invés de lerem suas obras para poder criticá-los, limitam-se a um resmungamento próprio daqueles que não sabem o que fazer com o Frankstein que ajudaram a produzir, com suas leituras estáticas de sociedade, que não conseguem captá-la na dinâmica que possui. 

Com isso, os espaços culturais do sensível e as multiplicidades culturais daí advindas, deixaram de produzir os seus cultivos vitais, sobrepostos a ruínas pela arrogância européia de se querer implantar um saber europeu, branco, masculino sobre todas as diferenças culturais. Essas foram reduzidas ao status de culturas atrasadas, arcaicas, que necessitariam se submeter aos seus mandos e credos. O símbolo da cultura européia trazia dentro de si o ouro como símbolo de valor. A moeda, tal qual era seu destino simbólico, passava a dar-lhe novos valores, que era essencialmente, o de significar o preço das coisas. Portanto, o mercado passava a controlar as sociabilidades, e o ouro e a prata passavam a representar o preço. Advém daí o termo metais preciosos, pois só tem valor o que tem preço; logo, preço vira preciosidade e a troca torna-se o ícone de riqueza. 

Garantido esse novo valor da moeda, facilita-se a aceleração do comércio europeu e a noção da velocidade que está esmagando o homem moderno. Suas próprias engrenagens surgem dessa noção de progresso que é a circulação de mercadorias. Quanto mais rápido se realizasse a circulação, mais veloz seria a produção. Desse novo conceito de riqueza, que é o preço lucrativo das coisas no mercado, então se inaugurava a máxima de que riqueza e preço garantiam uma vida “preciosa”. Ao cruzar história com pensamento, daí decorre uma das infindas riquezas das desconstruções de Foucault, que não trabalha com um saber que, a partir do platonismo, separou o corpo da alma. Podemos entender que, ao mesmo tempo em que se inventa, no século XVIII, essas noções de vida, linguagem e economia, instalava-se as possibilidades reais de emergência do modelo burguês de sociedade. Onde está a relação do racismo com isso? Vejamos. 

Para que fiquem pasmos os incrédulos racionalistas transcendentais em seu sonambulismo que tão caro custam ao erário, para garantir seus alisamentos de barba, para alimentar a vaidade de uma intelectualidade inócua, foi Karl Marx quem alertou em carta a Engels (estranhamente,  gurus de muitos desses), sobre a necessidade de olhar para o século XVIII e a proliferação da administração burguesa no espaço do Estado Moderno Monárquico europeu. Marx lembra a necessidade de estudarmos o papel do exército e da guerra de conquista e aniquilação, tão cretina e cinicamente chamada nos manuais escolares de “pacificação”. Citemos dois exemplos do surgimento do deslocamento dos discursos das raças para o discurso de classes. A Inglaterra e a França tiveram, simultaneamente ao tempo em que se modificavam os saberes na Europa, a transformação de sua memória guerreira das lutas de raças. Na Inglaterra a luta entre Normandos e Saxões dão lugar ao domínio saxônico e o apagamento da memória dessa guerra com o surgimento do Estado-Nação como a única raça a ser cultuada. Daí para outro tempo e outros espaços, houve diferentes apropriações dessa forma discursiva mantenedora das relações de força e dominação, portanto, relações políticas como guerra contra as raças e a formação de uma única raça: a nação. 

Sob esse novo signo do valor-moeda e a necessidade de transição para a produção capitalista como novo meio de enriquecimento, é que se criaram os Estados Republicanos na América do Sul. Portanto, as culturas que existiam antes da chegada dos espanhóis já vinham de experiências de lutas com outras formas de domínio. O atual presidente da Bolívia tem sua origem, se não me falha a memória, na cultura do povo Nacza, (não tenho certeza do nome correto). Essas culturas já trazem em si experiências da dominação Inca, da dominação espanhola, inglesa e norte americana. Todas elas trazem dentro de si a noção do discurso da nação sobrepondo o discurso das raças, o que anula as múltiplas formas de vidas culturais, aniquilando suas possibilidades de direito a existência. 

Quando vemos essa foto,  vem-nos  claro à mente de que mais do que nunca a memória burguesa traz dentro de si esse discurso da nação escamoteando o racismo do Estado. Enquanto o Estado Boliviano esteve nas mãos dos brancos e dos interesses internacionais, a Bolívia não causava furor no mundo da mídia. Tornavam-se como que souvenires para turistas em suas indumentárias, e as suas últimas formas de sobrevivência, com seus artesanatos e comidas típicas, faziam a alegria das agências de turismo exótico e de seus clientes. As noticias sobre a tragédia que recaiu sobre os povos das ramificações lingüísticas Aymará e Quéchua pouco tirou o sono dos obedientes  contribuintes ocidentais. 

Depois de um movimento milenar que se expande por toda a América, que começa a colher pequenos frutos de uma luta e de uma resistência sem par na história dos povos, tem início um frenesi sem limites na mídia ocidental. Ameaças e mais ameaças contra o governo indígena que tem em Evo Morales seu representante. O único escândalo que  sobressai e causa furor é o fato dos índios buscarem de volta para a pátria boliviana a riqueza comprada com a prata de Potosí. Essa prata que custou a vida de milhares de bolivianos submetidos pela arrogância espanhola e européia na figura do império inglês, e mais recentemente do império norte-americano. Se o nazismo nasceu do discurso do Estado Francês, ele se manifesta de forma mais vil no discurso do pangermanismo nazista. O fascismo está mais do que nunca vivo em todo o mundo. Ele está se manifestando no Brasil contra os nordestinos e pobres. O nosso conceito que institui padrões de beleza é claramente racista. A manifestação contra os negros e índios é claramente nazista e conseqüentemente fascista. A papel dos estados da Europa e dos E.U.A contra os imigrantes é totalmente fascista e nazista por ser um discurso racista e segregador. Roubaram e roubam toda riqueza dos países e culturas do mundo todo. Ainda continuam a rapina, deixando os demais Estados arruinados em sua saúde, educação e moradia decente. Tanta coisa poderia falar, mas não cabe agora ampliar. Espero que outros dêem prosseguimento e que este gesto que a imagem fotográfica registrou e aqui foi reproduzida, não fique impune. É preciso uma atitude contra isso. Que seja da parte dos que não comungam com o fortalecimento desse gesto insano ou do governo através do Itamarati. Se não gritarmos agora poderemos perder nossa língua e aí nunca mais gritaremos. É preciso tirar os raios para parar a roda do fascismo. (Mestrado em História pela Unicamp e atua como Professor Assistente no Departamento de História da UFMT de Rondonópolis. Email Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. escreve na coluna www.leotti.blogspot.com do www.jornalorebate.com.br

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