Órfão de pai aos seis meses eu fui educado por mãe beata pelos princípios das leis divinas escritas pelos homens comuns. Também estudei em escola religiosa, oprimido pelas ameaças da ira do Criador de todas as coisas, senhor do universo conhecido e do paraíso prometido.
Chutei o “balde” da obediência e assumi meu direito de herege, de exercer o livre arbítrio, de não acreditar em tudo que ouvia ou lia, antes do meu próprio convencimento.
De todos os deuses dos quais já ouvi histórias, o que mais chama a minha atenção é o Deus dos políticos, sempre chamado as lides públicas para testemunhar a favor da inocência dos seus filhos injustamente denunciados, injuriados e caluniados por adversários e inimigos, acusados dos mais variados crimes contra a humanidade.
Apesar da minha convicção na existência de um ser superior, não tenho qualquer lembrança de um dia, por um instante, ter recebido a honra da sua especial atenção em linha direta, enfrentando tribunais como minha testemunha de defesa.
Abençoado seja Garotinho, um desses homens puros, merecedor da honraria, abençoados todos os pastores, dessa ou daquela religião que ingressaram na vida pública por vontade do “rei do ouro e da prata, escolhidos para moralizar nossas instituições e, retaliados pelos inquisidores do ateísmo, a esses se mostram intocáveis com a proteção dos seus escudos de escolhidos por Deus, inalcançáveis pela justiça da terra.
Maldito seja aquele que acredita num outro Deus, pai e protetor dos fracos e oprimidos, o sem-terra, sem teto, sem emprego, sem educação, que se rebela contra a penitência da exclusão pelos seus pecados, única via de remissão e de retorno ao caminho que o conduzirá ao seu lote no paraíso.
A desmoralização das instituições deste País, o descaramento e o cinismo dos homens públicos dos mais altos escalões e das autoridades superiores brasileiras, ultrapassam os limites criativos da ficção e o inacreditável se transforma na realidade palpável.
Invocando o nome do Deus político, inspirado por um dos versículos da Bíblia escrita pelos homens, modificada por outros, os plenários das Assembléias Legislativas nacionais iniciam suas sessões e, antecipam o testemunho de que seus julgamentos serão isentos e justos, impedindo que ladrões de verbas públicas sejam mantidos na cadeia, cassados, ou simplesmente negando autorização para que possam ser processados e julgados.
No BRASIL, TERRA DOS INOCENTES, OS ÚNICOS CULPADOS SÃO OS EXCLUÍDOS, QUE JÁ NASCERAM CONDENADOS PELOS CRIMES COMETIDOS MESMO ANTES DE TEREM NASCIDO.
Busco e encontro a luz no fim do túnel em cada edição do jornal O REBATE, e sei que o DEUS POLÍTICO não terá vida longa.
Paulo Carneiro