Tréplica ao mestre com carinho e sem racialismo!

Bom amigo e companheiro de lutas anti-racistas professor universitário e cientista político Ailton Benedito. Os anos sem nos vermos nem nos comunicarmos, não puseram fim à fraternidade, respeito e unidade entre dois contemporâneos das mencionadas lutas. Sequer pensamos duvidar – pois somos cientes - dos predicados humanos e profissionais enfatizados por você acerca do irmão em questão. Inclusive sabemos que ele é bacharel em Direito, um estudioso da área criminal especialmente no tocante ao racismo. Ou seja, na prática ele é um competente advogado que só não exerce plenamente a profissão por impedimento legal uma vez ser servidor público estadual. Nos reencontramos aqui em Macaé no ano de 2004, se não me engano.

Não era socialismo o regime que depois de 1989 – conforme suas expressões – ruiu por excesso de sectarismo, repulsão ao debate, entronização da verdade única. Existiram no leste europeu, estados operários burocratizados que foram impostos a ferro e fogo pelos contra-revolucionários estalinistas ao apelidar o regime de socialismo real. Eram antíteses do legado (e não dogmas tipo o caminho, a verdade e a vida) ensinado pelos genais Marx, Engels, Lênin e Trotsky. Este, aliás, tem vasta obra literária não-devidamente reabilitada na história do mundo. Haja vista, por exemplo, o livro “Nacionalismo Negro” no qual, Trotsky (1879-1940) concebeu originalmente que a luta anti-racista é específica, estratégica e indissociável da luta de classes.

Para não nos alongar, no Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN) felizmente nos conhecemos. Assim como a quem rendemos nossas homenagens póstumas (o saudoso Olympio Marques dos Santos) histórico militante negro e anti-racista assumidamente marxista-leninista. Com ele dialoguei, debati enfim aprendi muito.  Quanto a você se considerar de esquerda, não um “independentista” que colabora com a revista do PPS. Se esta for sua opção partidária, lembro-lhe que o PPS tem origem estalinista cuja sigla se denominava PCB. O informamos que conhecemos o livro “Nacionalismo Negro” obra do genial Trotsky no IPCN. Porém, não foi, nem poderia ter sido através do saudoso Olympio nem de você, por motivos óbvios.

Um professor e contemporâneo militante negro e anti-racista nos emprestou a mencionada obra trotsquista, porém ele nunca pôs em prática a concepção de luta anti-racista nela ensinada. Ele assim como você defende o racialismo. Trata-se do líder do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP) que é uma ONG carioca, dentre as inúmeras patrocinadas no Brasil e no mundo pelo imperialismo para a “humanização” do capitalismo através da chamada Nova Governança Mundial (NGM). Para tanto, o imperialismo usa dois eventos globais. O mais geral é o chamado Fórum Social Mundial (FSM) onde, pela negação do princípio da luta de classes, se juntam todos (ONGs, movimentos sociais, partidos de “esquerda” e  governos). 

Já o evento global-específico é a chamada Conferência Mundial contra o Racismo, Xenofobia e demais intolerâncias de gênero e ditas “raças”. Não por mero acaso, em 2004 durante a I Conferência Mundial que foi realizada em Durbam na África do Sul surgiu o racialismo em meio às teses de afro-descendência que, por sua vez se desenvolvem através das velhas e carcomidas políticas compensatórias; todavia a partir daquela Conferência modernamente apelidadas de Ações Afirmativas (AAs).  Estas servem para pôr em prática variadas vertentes do racialismo (ideologia e ou crença na existência de “raças” entre os seres da espécie humana) como cotas, discriminação positiva (sic), indenização, reparação e estatutos (de suposta igualdade racial ou civil).

Reafirmamos, não tem sequer legitimidade ante as necessidades, anseios e interesses da massa de negros e negras do povo trabalhador, o pragmatismo - isto é o conservadorismo baseado na filosofia do estadunidense Charles Sanders Pierce (1839-1914) – dos defensores do racialismo e de AAs como as paliativas cotas universitárias raciais para negros e indígenas. Daí porque o MNS se opõe ao PL 73/1999, reivindicando Escolas e Universidades Públicas Gratuitas e de Excelência na Qualidade para Todos e Todas.  Convido-o a ser observador em novembro vindouro no 1º evento internacional do MNS que é dirigido e constituído por grande maioria de negros e negras que são operários e jovens militantes anti-racistas e também anti-racialistas.

Sobre a alusão “para os brancos ricos as cotas sempre existiram, mas a esquerda jamais diretamente contestou”. Em 1º lugar, por mais que seja intrínseco ao capitalismo se desenvolver e renovar-se - conforme nos ensinaram Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) -, no Brasil a burguesia é inteiramente branca; diferentemente dos EUA onde há burguesias negra e branca. No caso brasileiro, isso ocorreu dado à escravidão e à paliativa abolição, sendo a causa do pequeno-aburguesamento dos negros que são defensores de uma impossível humanização do capitalismo via-racialismo. Os racialistas querem que tal “humanização” ocorra através de  AAs como as cotas  e o nefasto Estatuto da Igualdade Racial (EIR) que é o PL 3198/2000.  

Em 2º lugar, quanto à “esquerda jamais ter contestado diretamente cotas para os brancos ricos”. Vamos ao fundo da questão. Na já citada e genial obra literária Trotsky ensinou “O Racismo praticado contra os negros é uma opressão específica, estratégica e indissociável da luta de classes”. Esta, entre tantas genialidades, levou o déspota Josef Stalin (1879-1953) a mandar assassinar Trotsky. Em outras palavras, as sociedades estruturadas na propriedade privada dos meios de produção significam dogmas para a burguesia (branca e racista no caso do Brasil), os estalinistas (originais ou não) e também capitalistas de todos os matizes (racialistas ou não). Afinal, Steve Bantu Biko (1946-1977) ensinou “Racismo e Capitalismo são as duas faces da mesma moeda”.


*jornalista – é militante da corrente intra PT Esquerda Marxista e membro da coordenação nacional do MNS

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