O bom senso é o senso do momento

Verdades e mentiras

Dizia Bismark que nunca se mente tanto quanto depois de uma caça, durante uma guerra e antes de eleições. Como estamos permanentemente antes de eleições, sobram razões aos políticos para se entregarem ao doce ofício de deturpar a verdade. Muitas vezes esse  “afirmação contrária à verdade a fim de induzir a erro”, na definição do Houaiss, pode ser fruto de ignorância e não produto de má-fé. Infelizmente, o resultado é o mesmo: a indução a erro. O resultado? Admiração imerecida por parte de uns ou revolta dos que identificam o engodo. Caso o número daqueles superar o número destes o resultado de toda manifestação plebiscitária estará eivado de trágicos equívocos. Alguns exemplos.

O famoso PAC, sigla pomposa que designa o Plano de Aceleração do Crescimento não passa de uma colagem de diversos planos pré-existentes, que de palanque em palanque tenta incutir a sensação de que “nunca antes nesse País” houve semelhante achado administrativo, com algumas concessões aos Planos de Metas e PND. O discurso preferido do Nosso Guia, posando de vítima – como de hábito – é que apesar das cruéis  desalmadas e reacionárias elites, ele, o único – ou dos poucos, vá lá – que quer o bem do Brasil, promoverá o espetáculo de crescimento, em que pese a “herança maldita”. Esses altilóquios fascinam audiências e rebaixam a incômoda realidade ao patamar de mero detalhe. No entanto, esse PAC lembra muito a “lata ao rabo de um cachorro”, do Machado de Assis. Fica retinindo pelas ruas e nos eventos que a Sra. Ministra Chefe da Casa Civil, Dilma – “mãe do PAC” – até chamou de comícios. Inaugurar e lançar pedras fundamentais, tudo bem, mas onde estão os resultados? Se, por acaso, daqui a algum tempo, esses não forem estrondosos, a mãe não passará de barriga de aluguel.

Já se falou na “dívida externa quitada”. Ora, ela continua existindo. Temos, no momento reservas, adquiridas à custa dos nossos superávits comerciais e do endividamento interno, situação invejável, mas que não é sinônimo de dívida quitada. Caso o balanço de nossas transações correntes venha a se degradar – e isso está acontecendo – voltaremos a ouvir falar em “auditoria da dívida externa”?

Temos o fundo FSB – mais uma sigla reluzente – o tal fundo só berrando, que mais se parece com um camelo, que, como todo mundo sabe, é um cavalo produzido numa mesa de reunião. Esse “fundo Bombril de mil e uma utilidades” mereceria um pouco mais de cuidado e de competência ao ser definido. Tomando o exemplo do chefe, do qual herdou, aparentemente, o gosto pelas parábolas destinadas a impressionar pela profundidade, o ministro Mantega já falou em “cofrinho”. Desse cofrinho, no qual ainda não se sabe  exatamente a origem das moedinhas que nele serão ser colocadas resultarão recursos para ações geopolíticas, investimentos esplendorosos, que se mal dirigidos transformarão o cofrinho em caixa de Pandora de nossa  economia. Fala-se em aumentar o superávit primário como fonte possível. O ex-ministro Ibrahim Eris falava em torneiras – parece que sem o apoio dessas metáforas ridículas a platéia, afetada por inópia mental, não consegue assimilar a sutileza da logorréia oficial. Nossos luminares rejeitam a possibilidade de se chegar a um superávit nominal – ou seja a alcançar a situação de obter um superávit depois do pagamento dos juros da dívida. Trocando em miúdos, isso quer dizer que se o tal superávit primário não for suficiente para pagar os juros e encargos, de acordo com o conselheiro Acácio, aumenta o endividamento. Se isso é bom ou catastrófico não se pode afirmar a priori. Colocar recursos no tal FSB – “cofrinho” como medida anticíclica – belo termo – fará sentido se a remuneração obtida for maior que o custo da dívida cujo pagamento se decidiu postergar.  O retorno de projetos africanos por ser estratégico não permite essa comparação pedestre. Boa sorte ao FSB!

Desde abril 2006 somos auto-suficientes em petróleo. Comemoramos e... Hoje o ministro Miguel Jorge afirmou que se a tendência do primeiro quadrimestre se repetir o saldo da balança comercial no item petróleo acusará um déficit de 10 bilhões de dólares. Mas como? – perguntarão os lorpas, os pascácios, os bovinos, os idiotas da objetividade, em suma. Parece, pois nunca se sabe ao certo que se tratou de uma mentira, ou melhor, de uma verdade com a data errada. Ou então, que por algum critério tenhamos conseguido um equilíbrio. Ninguém está falando numa mentira grosseira que assumisse que a capacidade dos barris importados fosse diferente daquela dos exportados. O mais provável é que a quantidade de barris produzidos menos os consumidos mais os exportados menos os importados tenha sido maior que zero, em algum momento. Ocorre que temos de importar o chamado petróleo leve (mais caro) e exportamos, basicamente, nossa gasolina de qualidade infame. Mesmo se a quantidade de barris for equilibrada, a conta em dólares, euros, rúpias ou reais não fecha. Assim como o grau de investimento, a auto-suficiência não é uma condição, que uma vez adquirida torna-se definitiva. Não confundamos, pois, com os direitos adquiridos alhures. Nesse caso não existe cláusula pétrea. Quanto à qualidade de nossa gasolina, não há evidência mais estridente do que o projeto de refinaria maranhense que produzirá derivados de alta qualidade, visando preferencialmente a exportação.

De acordo com Mark Twain, ao se referir às mentiras: existem as mentiras, as mentiras sagradas e as estatísticas.

Resta uma verdade no meio de tantas mentiras, ou versões, como queiram, que envolve o “vazamento” do senhor Aparecido. Com uma boa dose de certeza, é possível afiançar que uma percentagem nada desprezível do nosso eleitorado não sabe o que significa a palavra dossiê. Isso torna estéril o debate com o qual a respeitável oposição tenta enfraquecer a não menos respeitável situação, sob o olhar entediado do respeitável publico, afetado por overdose de pizzas.

Naturalmente, nos círculos oficiais reprova-se a mentira, mas há um excesso de pudor  no zelo com o qual se evita a verdade. Ou como disse alguém na era pré-Lula “o que é bom a gente divulga, o que é ruim, a gente esconde”.

Alexandru Solomon é escritor, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas. Tem seu recente romance´Não basta sonhar` (Ed. Totalidade) disponível nas livrarias Cultura (www.livrariacultura.com.br), Saraiva (www.livrariasaraiva.com.br) e Laselva (www.laselva.com.br). | E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
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