Bolívia e a 'Nación Camba'

"... dotar a la Nación Camba del poder de decisión para ejercer soberanía plena sobre su economía, su territorio y su cultura".
(El Movimiento Nación Camba de Liberación)

 

- Bolívia

A Bolívia, berço de civilizações indígenas, integrou o império Inca a partir do século XV. No século XVI, com a chegada dos espanhóis, foi incorporada ao vice-reino do Peru, e mais tarde ao de La Plata. A luta pela independência, iniciada em 1809, culminou com sua libertação, em 1825, graças a Simón Bolívar. Após uma breve união com o Peru, tornou-se independente e, desde então, perdeu parte do seu território como resultado de negociações e guerras. A Guerra do Pacífico, entre 1879 e 1881, em que o Chile entrou em confronto com as forças da Bolívia e Peru, resultou na anexação, por parte do Chile, de ricas áreas em recursos naturais dos países derrotados. A Bolívia cedeu a província de Antofagasta, ficando sem saída para o mar, o que se transformou num objetivo nacional boliviano.

- 'Nación Camba'

 A 'Nación Camba' é uma região da Bolívia Oriental que cobre dois terços do país e é formado pelos estados de Santa Cruz, Beni, Pando, e departamentos de Chuquisaca e de Tarija. Em pouco mais de um século a região se converteu na primeira potência econômica do país, graças sobretudo à venda do gás e da soja. As características históricas e culturais singulares existentes entre o Altiplano boliviano e as Zonas Baixas dão origem a movimentos autonomistas e separatistas.

- Constituição Boliviana

Artigo 1º - A Bolívia se constitui em um Estado Unitário, Social, de Direito, Plurinacional, Comunitário, livre, autonômico e descentralizado, independente, soberano, democrático e intercultural. Funda-se na pluralidade e no pluralismo político, econômico, jurídico, cultural e lingüístico, dentro do processo integrador do país.

O reconhecimento de 36 idiomas oficiais, as indefinições quanto aos direitos e privilégios dos povos originários sem definir quem e quantos são, a falta de demarcação dos limites de seus territórios está causando, como era de se esperar, conflitos étnicos e estimulando o radicalismo regional. A 'restituição' de poderes às 'nações indígenas originárias' atende perfeitamente ao projeto da Nação Camba. A conciliação dos nacionalismos do Altiplano e das Zonas Baixas é impossível, pois todos pretendem utilizar, em benefício próprio, as rendas do gás e do petróleo.

- 'Movimiento Nación Camba de Liberación'

A população de Santa Cruz, 'locomotiva' econômica da Bolívia, acusa o governo de não priorizar seus interesses e prega autonomia da região de Santa Cruz de la Sierra ('Meia-Lua'). O 'Nación Camba' considera que o governo boliviano é centralizador e não prioriza investimentos na 'Meia Lua'. Consideram que o governo tem toda sua política voltada para o Altiplano: "Mas também existe outra 'Nação' não oficial e que representa mais de 30% da população e se assenta sobre um território predominantemente constituído por selvas e llanuras do coração da América do Sul e que constitui mais de 70% do território nacional - uns 700 mil km quadrados -, cuja cultura mestiça vem do cruzamento dos espanhóis e guaranis. Seu analfabetismo não passa de 7% e, do ponto de vista produtivo, é o quinto produtor mundial de soja. A cidade de Santa Cruz de la Sierra (1,2 milhão de habitantes) realiza mais de 600 eventos internacionais por ano e demonstra sua ampla e indiscutível inserção no mundo globalizado. Constitui 'a outra versão' da Bolívia e cujo Movimento aspira obter a autonomia radical desta nação oprimida".

- O referendo da Autonomia

O referendo de domingo passado, dia 4 de maio, convocado pelo governador de Santa Cruz, Rubén Costas, e pelo presidente do Comitê Cívico local, busca implementar o estatuto do departamento elaborado em dezembro de 2007. Apesar do presidente Morales e seus simpatizantes terem feito de tudo para boicotar o evento, por considerá-lo ilegal e separatista, mais de 80% dos convocados votaram neste domingo pelo 'sim'. O resultado do referendo demonstra, sem sombra de dúvida, o quanto a irresponsabilidade e a incompetência de uma liderança política pode ser desastrosa para o futuro de uma nação.

- Separatismo

"São intenções separatistas absolutamente ilegais. Os países da região - e eu falei com vários presidentes - não vão permitir esse tipo de ação. Não permitiremos essas tentativas separatistas que, ademais, refletem influência estrangeira", advertiu o presidente do equador Rafael Correa.

"Estamos, como todo o continente, preocupados com esta agressão contra a Bolívia que vem de fora. É a política do império, é um golpe contra a Bolívia e um golpe contra a América do Sul", comentou o presidente da Venezuela Hugo Chávez.

- Movimento de Pinça

Encoberto por matizes étnicos e econômicos notamos um 'movimento de pinça' que envolverá necessariamente o Brasil e que tem, sem sombra de dúvida, os USA por trás do processo. Os líderes do Movimento Nação Camba garantem que se não conseguirem a almejada autonomia o caminho será a separação e a luta armada. Os insurgentes contam com milícias de mais de 15 mil homens, treinados por paramilitares das Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), e armamento de última geração negociado com Israel. É notória a ligação dos paramilitares da AUC com o primeiro escalão do governo colombiano de Álvaro Uribe, maior aliado dos USA na América do Sul, e como o fornecedor de armas é Israel, maior aliado dos USA no mundo, se conclui, sem muito esforço, quem está por detrás do movimento separatista. Instalado o conflito, os USA intervirão diretamente, já que eles mesmos o fomentaram e nesta ocasião seremos envolvidos em um movimento de pinça cujos resultados são imprevisíveis.

 

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