Não foi o caso de uma suposta contra-reação policial a um jovem negro (ele estava desarmado) que pudesse ser influenciado pela frase corrente nos movimentos negros de lá (EUA) e de cá (Brasil) “reaja à violência policial!” Ao fim de um julgamento de mais de um mês, foram absolvidos, 6ª feira última 25/4/2008, três policiais de Nova York que executaram com quase 50 tiros um jovem negro, horas antes de seu casamento, no bairro do Queens. O brutal assassinato de Sean Bell, 23 anos, ocorreu em 25/11/2006 depois que ele saiu de uma boate-discoteca onde festejou sua despedida de solteiro. O trio (três dos cinco seguranças à paisana da discoteca) seguiu o carro de Bell, cobrindo-o de balas, alegando “ele não parou e não sabíamos que estava desarmado”.
O veredicto (de absolvição) foi recebido com indignação e tristeza, aos gritos de “Que Vergonha” por centenas de pessoas que se reuniram na entrada da Suprema Corte de Queens, tão logo a decisão foi pronunciada. Ao ouvir a sentença, a mãe da vítima começou a chorar e sua noiva se retirou do tribunal indignada. Haja vista, este foi o caso de violência policial mais grave, com comoção social (grande maioria de negros) que aguardou do lado de fora da Corte do Queens. Enquanto isto, as imediações do tribunal foram vigiadas por centenas de agentes, sendo que vários helicópteros sobrevoaram o local. Muitos manifestantes vestiram camisetas com a inscrição “Sean Bell, descanse em paz. Mas só isso não é justiça”.
Um jovem morador do bairro de Queens que se identificou como Troy disse à Agência de notícias AFP “Não se pode aceitar o assassinato de um inocente”. Lorenzo Steel, 42 anos, ex-carcereiro na penitenciária de Rikers Island, em Nova York, declarou “Nunca alguém dispara 40 ou 50 vezes. No máximo, dois tiros para estar seguro. Foi um assassinato!” George Mac, 48 anos, voluntário do Partido Democrata e membro de “uma associação de nova-iorquinos contra a violência armada” afirmou que o veredicto será objeto de uma ação em um Tribunal Federal. “Isto não pode ficar assim. Era um homem inocente”; exclamou enfaticamente. A morte (por assassinato) de Bell é o principal caso de violência policial, após o ano final do século passado (1999).
Naquele ano, ali mesmo em Nova York o imigrante negro Amadou Diallo também foi assassinado (executado, crivado de balas) com 41 tiros, causando distúrbios de ruas que acarretaram centenas de detenções. O prefeito (atual) de Nova York, Michael Bloomberg em relação à comoção social causada pelo assassinado de Bell, disse “Não existem vencedores em um julgamento como este. Os EUA são um país de Leis e, embora nem todos concordem com os veredictos e opiniões das Cortes, aceitamos sua autoridade!” O prefeito Bloomberg concluiu “Existirão oportunidades para discordar pacificamente e para apelar legalmente dos direitos de que gozamos em uma nação democrática. Esperamos que não tenha violência”.
*jornalista – é militante da corrente intra PT (Esquerda Marxista) e coordenador nacional de Organização e Formação Política do Movimento Negro Socialista (MNS).