Cara companheirada,
Certamente leremos muitos textos alusivos a 64. A própria data,
truncada, anunciava o que estava por vir. Os ideólogos do golpe de
1964, além de escolherem uma data ambígua, não se preocuparam com a
incoerência do ato que praticavam: para 'redemocratizar e moralizar' o
país, recorreram ao arbítrio e à imoralidade da violência. O 'mal
provisório' virou um remédio permanente, de amargo gosto, que duraria
duas décadas. Nelas não se podia divergir. A lei era imposta e dizia
que 'a revolução cria sua própria legitimidade'. Ser espancado e morrer
em um porão qualquer era um fato corriqueiro e sabido, mas não podia
ser reconhecido publicamente. Só quando não foi mais possível esconder,
justificou-se o fato dizendo que 'havia uma guerra'.
Censura, cassação de direitos, repressão e tortura. Generais em todos os postos-chave da nação, inclusive à testa de empresas públicas. Enriquecimento ilícito, em alguns casos. Era a 'Revolução redentora' e 'moralizadora' em ação. "Você sabe com quem está falando?" (essa e outras frases típicas do período precisam ser recordadas)- "Se foi preso/a, é porque deve ter feito alguma coisa errada" ... "Vamos mudar de assunto, que pode dar encrenca" ... "Não temos presos políticos no Brasil" ... "Os comunistas queriam transformar o país em uma ditadura!"... "Demos o golpe antes que eles o dessem"...
Quem, de fato, transformou a América Latina em um mar de ditaduras? School of Americas, CIA, USAID, State Department, Exxon, Chase, Shell ... - e depois dizem que os comunistas é que eram perigosos. Quem enriqueceu com o processo? Azevedo Antunes, Saffra, Klabin, Ermírio, Andreazza ...
Lembrai-vos de 64, o ano da tomada do estado brasileiro pelas elites conservadoras, para o benefício do grande capital interno e externo. Lembrai-vos de 73 (Chile e Uruguai). Lembrai-vos de 76 (Argentina).
F.Prieto