Ao artista é permitido o devaneio, os flashes de loucura ou a
permanência nela, o blefe, a dissimulação, as metáforas muitas vezes
nunca decifradas, enigmas e admiração da genialidade pelos demais
mortais, enfim: "O artista não tem compromisso com a realidade".
Um bailarino, um pintor, um cantor, um escritor, um mágico, um ator e,
por que não também, um Pastor. Isso mesmo, um Pastor, na minha
concepção, é um artista.
Sei que a tarefa desse tipo de "artista" não deve ser muito difícil,
pois o "peça" que ele encena já vem sendo repetida exaustivamente por
séculos e séculos. Toda sua troupe vem-se aprimoramento e se
modernizando no transcorrer dos anos. Como se diz, dançando conforme a
música e os governos.
Houve mil artimanhas para capturar e manter submisso o "rebanho". Primeiro o "olho por olho", o céu azul, suave (com ar aclimatado?) e maravilhoso e o inferno vermelho, ardente e tenebroso. Trevas, trevas e trevas, ranger de dentes, sofrimento eterno. Ameaças apavorantes para se fazer a cooptação dos infelizes. A fé através do medo. Deduz-se: Quem tem fé tem medo.
Depois nasceu um menino de uma mãe virgem (parece que o pai do menino acreditou nas explicações da mãe. Acho que aí surgiu o primeiro "Zé" da história da humanidade). Esse menino cresceu e não sei se trabalhou na vida, só sei que, já passado dos trinta anos, começou a discursar amenizando a barra do seu Pai lá do céu, falando de amor, perdão e candura. Lindas parábolas, "altas viagens" contemplando nuvens, jejum e orações de exaltação. O olho por olho ficou esquecido, a onda agora era "dar a outra face".
As autoridades (religiosas inclusive) daquela época, não estavam gostando nada da agitação que o cabeludo provocava por onde passava. Resolveram agir. Mataram o agitador.
Criaram um mártir. O povo, mesmo perseguido, não se intimidava e continuava endeusando o crucificado. Vendo que poderia dar "com os burros n'água", o poder, esperto como sempre, mudou de lado. Agora já perseguia e matava, em nome da fé, quem não acreditava.
Escreveu um livro (não tem uma linha sequer que foi escrita por uma mulher. Disso elas podem se orgulhar) e fundou-se uma Instituição. A Instuição transvestiu-se em Estado e o mundo navegou na "Idade das Trevas" por quase quinze séculos, ou seja, quase mil e quinhentos anos.
Ensinamentos de Platão, Aristóteles, Sócrates, Arquimedes, Pitágoras, e etc, ficaram congelados por milhares de anos.A adoração à ciência poderia, quase sempre, condenar os corpos dos supostos "bruxos e bruxas" à morte na fogueira.
Tudo patrocinado pela Intiuição. Desde a investigação facilitada(sempre ouve dedo-duro no mundo), a captura, a condenação e a execução.
Mas o mundo gira (não o sol) e toda a repressão desembocou numa era chamada Renascimento. Houve um racha. A Instituição se fragmentou. Um insurgente criou uma nova ordem. Um novo braço que se ramificou e se ramifica sem parar. Veio o Iluminismo, a Revolução Francesa, a Revolução Industrial, guerras e mais guerras, sofrimentos, ambições assassinas e a Instituição e suas ramificações impassíveis, se ajustando conforme o poder do momento.
Chegamos aos dias atuais e a mesma história continua sendo contada em milhões de lugares por esse mundo à fora pelos artistas escolhidos pelo chefe supremo (normalmente um grande empresário de comunicações, um grande político ou mesmo um magnata religioso, dono de uma cadeia imensa de templos de variadas denominações).
Uns vivendo em castelos, no fausto, em camas super king size, com roupas com fios de ouro, conseguem convencer multidões que fizeram votos de pobreza, são humildes e têm amor aos pobres. Outros já são mais descarados. Votos de pobreza coisa nenhuma. O negócio é ser rico e ostentar e prosperar indefinidamente. Ganância e ambição, é disso que o povo gosta e é esse o versículo que mais deve ser ressaltado É a Teologia da Prosperidade. Onde o céu está bem longe e é aqui na Terra que a farra é boa.
Ótimos artistas. Conseguem inverter a gramática e a matemática, pois manuseiam milhões de "ovelhas" embevecidas, que não raciocinam ou questionam a mais esdrúxula argumentação.
Se antes a fé era calcada no medo do que poderia acontecer após a morte, hoje a fé é exaltada como o único caminho para curar as doenças e proporcionar riqueza.
Eu, humildemente descrente, sempre trabalhei, não para ficar rico mas para me sentir bem e conseguir um nível de vida sem privações relevantes e, quando adoeço, procuro um médico.
Cá pra nós, quando o "bicho pega", com quem você acha que os artistas da fé e a platéia deles se consultam?