Fidel derruba Fulgêncio Batista. A Bossa Nova nina o Brasil. Jânio
renuncia. Jango é derrubado. A ditadura é instalada no Brasil. A Jovem
Guarda oferece alienantes e bobinhas melodias. O homem foi à lua (abro
um parêntese: pra quê?). A tropicália faz zoeira. O AI-5 cassa, caça,
expulsa e mata, mandando "às favas os escrúpulos", conforme o Coronel
Jarbas Passarinho. O Brasil é tricampeão de futebol. Salvador Allende é
assassinado. Secos e Molhados choca a MPB. Wladimir Herzog é
"suicidado". Começa a abertura política. Exilados regressam. O PT é
fundado. Acaba a ditatura Militar. Morre Tancredo, assume Sarney. O
Rock brasileiro está no auge. Primeira eleição direta após a ditadura.
Collor vence Lula e assume a presidência. A onda agora é a música
sertaneja. Collor é expulso do governo e Itamar assume e faz de FHC o
seu sucessor batendo Lula. A reeleição é negociada e aprovada. Lula
apanha novamente de FHC. Nova eleição e finalmente Lula ganha. O funck
(ou fanck, fank, ou sei lá) dá os seus passos e mensagens. O PT se
lambuza e afunda no lodo. Sarney continua assumidamente de situação,
seja ela qual for.
Fatos, são inúmeros fatos da história recente. Mas eles por si só não
se explicam. São apenas fatos. O que lhes dão vida são as versões .
Elas, as versões, são mais importantes que os fatos em si. Elas
direcionam, amoldam e dão a conclusão final aos fatos.
Nada é concreto sem uma visão ou sem várias visões para virar história. Um relato não é um registro. Um relato pode se esfumaçar alguns minutos depois. Um registro é mais consistente, já é uma base para a concretização de um fato. Verdadeiramente é onde o fato "nasce", apesar de já ter nascido. Até então é uma criança sem registro de nascimento.
Pois bem, muitos fatos também acontecem na nossa vida cotidiana. O que contamos hoje pode não ser contado da mesma maneira amanhã e nem por isso deixa de ser verdade. As versões não invalidam nem desmentem os fatos, pelo contrário, as versões é que dão vida e sabor aos fatos.
Os tópicos levantados lá em cima só se eternizaram e são ainda discutidos porque as versões se prestam a esse papel: transformar-se em verdades, mesmo que etéreas, cíclicas ou permanentes, mas, inserindo um tempero aos fatos, emoldurando os ângulos, conforme as conveniências.