Nasci e me criei ouvindo da minha mãe (uma severa matriarca!) que o
homem de caráter tem de pautar sua vida por duas regras básicas de
conduta: honrar seu sobrenome e honrar sua palavra.
As últimas declarações do ministro da Fazenda Guido Mantega, das quais
se depreende que os compromissos assumidos em 2007 tinham prazo de
validade e este já venceu, nos fazem lembrar daquelas letrinhas miúdas
dos contratos nas quais estão embutidos os engodos.
Isto não é engraçadinho, mas sim um verdadeiro escárnio para com o cidadão que sustenta a corte de Brasília, arcando com uma escorchante carga tributária sem a contrapartida de uma prestação de serviços remotamente aceitáveis.
Em dois momentos distintos, no seu jogo com as palavras, o senhor Mantega acintosamente debochou do povo em nome do qual ocupa seu cargo. Talvez suponha que os brasileiros sejamos burros demais para compreendermos a subliminariedade da negação dos compromissos empenhados por palavras.
A experiência pregressa tem nos demonstrado à larga que os governos cumprirem a palavra empenhada é exceção, jamais regra. No entanto, os bons brasileiros têm o senso de honradez que acaba tornando-os vítimas indefesas da má fé dos políticos.
E o discurso da ausência aos compromissos soa afinado. O secretário-adjunto declara à Folha On-Line que a incidência de alíquta sobre IOF não vai nos onerar. Não, de modo nenhum...
Sofreremos a incidência da alíquota do DPVAT ao seguro de saúde (quem ainda pode bancar um?). Ao que parece o ministro não leva em consideração -- e não é necessário ser um tecnocrata para sabê-lo -- que o povo vive pendurado, tendo de administrar as contas do mês por meio de uma matemática complicadíssima, já que sempre sobram despesas no fim da receita; e achacado pelos astronômicos juros dos cartões-de-crédito, cheques especiais e empréstimos que muitas vezes se fazem peremptórios. E será esta a parcela da sociedade que vai ser mais penalizada ainda.
E permanece a contradição entre "A PALAVRA" e "a palavra".
As tergiversações em politiquês e economês são a cortina de fumaça que encobre uma situação intolerável: exaure-se o povo, mata-se o "hospedeiro", exangue, combalido, esmagado pelo peso dos endividamentos que não lhe proporcionam vida digna, apenas mantêm funcionando as engrenagens que só favorecem ao Capital.
Podem sorrir, chacotear, ironizar! Mas nós, cidadãos brasileiros, não somos burros, ao contrário do que supõem os Governos! Não nos subestimem, pois temos o poder da democracia em nossas mãos.
*Gil Soul é compositor, músico e articulista free-lancer