Um significativo contingente (a maioria de aposentados) migra, ano a ano, da cidade para a Região dos Lagos e Costa do Sol em busca de qualidade de vida. Uns optam pela infraestrutura e o conforto proporcionados por condomínios urbanos fechados. Outros procuram sítios ou condomínios rurais. Ao adquirirem sua área no campo, uma das primeiras providências é a temida "limpeza".
Quase sempre, -infelizmente-, essa limpeza consiste em passar da vertical para a horizontal, tudo o que não for árvore frutífera. Dá-se início à devastação e destruição não só da flora como também da fauna. Árvores nativas centenárias, com propriedades medicinais extraordinárias e cada vez mais raras são impiedosamente derrubadas: Alecrim do Campo, Aroeira, Cambará, Cedrinho, Embaúba, Ipês (amarelo, branco, rosa e roxo), Pau d'Alho, Pitangueiras, Orquídeas, Bromélias e outros vegetais que alimentam a fauna existente.
O fogo leva ao desespero inofensivos sagüís, lebres, preás, gambás, ouriços, lagartos, batráquios, cobras, socós e pássaros como canários da terra, cambaxirras, 'caga-sebos', colibris, coleiros, biquinhos-de lacre, corujas, sabiás, sanhaços, pica-paus, saíras e urutaus (raríssimos), entre outros. Todos legítimos habitantes da região.
Somos os maiores predadores do Planeta. Precisamos reverter esse quadro, se é que buscamos mesmo a tão falada 'Qualidade de Vida'. Na maioria dos casos, quem vem hoje para a área rural busca uma interação com a natureza, o poder pisar na terra e nela plantar um variado pomar, uma selecionada horta caseira, manter um galinheiro, uma área de lazer. Restará espaço suficiente para você preservar e cultivar o seu charmoso bosque de Mata Nativa, com todo encanto que ele pode proporcionar. Pense nisso.
Ao proceder a limpeza de seu terreno solicite a orientação de guias e pessoas que possam identificar as árvores e plantas a serem preservadas. O COMAR (Círculo Orquidófilo Maricaense), por exemplo, tem pessoas capacitadas para prestar esse auxílio, assim como a Secretaria Municipal de Agricultura e Pesca de Maricá, ou de sua cidade.
É conveniente que se abram as ruas internas, da porteira à casa sede, desviando-se das árvores mais robustas (e mais valiosas). Quanto mais sinuosa, mais bonita ficará sua estrada. Se você pensa em introduzir novas espécies, fruteiras, etc..., é aconselhável, antecipadamente, colher amostras de terra de partes diferentes do terreno e solicitar a ajuda de um técnico da Emater para a análise desse material e avaliação da necessidade de correção do solo. Enquanto sua mudinha vai se desenvolvendo, as árvores nativas vão protegendo-a do excesso de sol e de vento.
Bem vindo à vida no Campo. Mas, por favor, esqueça a moto-serra.
A Natureza agradece.
Edson Cherem
Jornalista é colaborador do Greenpeace e da WWF-Brasil
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