Um erro que durou séculos começou a ser corrigido nos novos livros
didáticos editados e distribuídos nas escolas de todo o território
brasileiro desde 2002. Trazem o Monte Caburaí como verdadeiro Extremo
Norte do Brasil.
Hoje podemos dizer que o Brasil vai do “Caburaí ao Chuí”. Essa correção começou a ser feita em 1996 com a criação do Município de Uiramutã. O primeiro prefeito eleito, Venceslau Brás, nos nomeou secretário do Meio Ambiente e Turismo e deu carta branca para que eu tomasse providencia para que o Ministério da Educação a reconhecesse o Caburaí como verdadeiro extremo norte do país.
As investigações davam conta que o Marechal Cândido Rondon, na década de 30, passou nessa região, demarcando as fronteiras entre Venezuela, Guiana Inglesa e o Brasil. Naquela época ele já comprovou que o extremo norte era o Monte Caburaí. Essas informações foram enviadas por Rondon para a 1ª Comissão Demarcadora de Limites do Ministério das Relações Exteriores e não foram levadas em consideração.
Isso permitiu que durante décadas os livros didáticos informassem erradamente, e que o Oiapoque era o extremo norte do Brasil, e a inercia dos técnicos do Ministério da Educação contribuiriam para perdurar esse erro.
No muro do quartel do Exército, no município de Oiapoque, ainda está inscrito “Aqui começa o Brasil”.
Essa referência deve-se ao fato dos primeiros cartógrafos terem pertencido a uma civilização marítima, portanto tendo o mar como principal referência. Assim, o cabo Orange, para eles, era o ponto Extremo Norte e o Chuí o extremo sul. Essa equivocada informação tornou conhecida a expressão do Oiapoque ao Chuí, difundida principalmente pelos meios de comunicações.
Uma nova expedição, seria a forma para força o Ministério a fazer as correções nos livros didático, mais recém criado município não dispunha de recursos. Para essa grandiosa missão.
Elaborei projeto e apresentei ao prefeito, ele aprovou e me nomeou “Coordenador e relator da expedição”
Busquei os parceiros que poderiam ajuda-nos naquela operação de guerra. Entre eles destaco: Exército, Aeronáutica e diversos organismos públicos, como IBGE, Incra, Ibama, Funai, Universidade Federal de Roraima, Ministério da Educação, Coordenação Estadual de Turismo, Museu Integrado de Roraima, Assembléia Legislativa e Governo de Roraima, além dos órgãos de comunicação do estado.
Participaram, também, profissionais especializados nas áreas de cartografia, engenharia florestal, botânica, jornalismo e antropologia.
A expedição teve início no dia 3 de setembro de 1998 e término no dia seis. Nos três dias de acampamento no topo do Monte Caburaí tudo foi pesquisado e vasculhado. O marco fincado pelo Marechal Cândido Rondon não foi encontrado. Acreditamos que com o passar dos anos a vegetação o tenha encoberto. A outra hipótese é que as dificuldades encontradas para chegar ao topo do Monte Caburaí tenham obrigado Rondon a calcular as coordenadas pelas estrelas e com utilização de sextante, como era comum na época.
Essa tese era a mais correta e foi comprovada ao compararmos as coordenadas tiradas por Rondon, indicando que o Marco Internacional B-BG/11A foi colocado no Monte Caburaí, entre a nascente do rio Uailã, (afluente do rio Maú ou Ireng, na bacia do rio Amazonas) e o rio Caburaí (afluente do Cucui, bacia do Essequibo), com as coordenadas geográficas N5º 16’19, 60/W60º 12’43, 29”.
Ao colocarmos uma linha reta entre o Estado de Roraima e o Estado do Amapá, temos a exata noção de quanto o Monte Caburaí está acima do Oiapoque.
Baseando-se nas coordenadas de Rondon, colocadas em equipamentos de precisão (GPS) comprovaram que o Monte Caburaí, estava a 1.456,10 metros de altitude, no seu topo, está situado a 5º 16' 20" de Latitude e 60º 12' 37. 3", de Longitude, onde deveria está colocado o marco Internacional B-BG/11A.
Em 6 de setembro, último dia da expedição, os expedicionários cantaram o Hino Nacional e hastearam a Bandeira brasileira no topo da montanha. O coral indígena de Uiramutã entoou o Hino brasileiro na língua macuxi. Depois foi rezada uma missa campal em ação de graças.
Lendário Monte Roraima que emprestou seu nome ao Estado. É dividido por três nações: Venezuela, República Cooperativista da Guiana, antiga Guiana Inglesa e o Brasil.
O monte inspirou o cineasta na produção do filme o Mundo Perdido, exibido no mundo todo..
De posse das novas coordenadas, foi elaborado um relatório e enviado para o então Ministro da Educação, Paulo Renato. Durante meses foi aguardado resposta e nada. Inconformado, liguei diversas vezes e falei com funcionários do Ministério da Educação, cobrando deles a devida correção. Quatro anos depois, em 2002, essa correção foi feita. Os livros editados e distribuídos nas escolas de todo território brasileiro trazia o “Monte Caburaí” como verdadeiro Extremo do Brasil.
Infelizmente uma décadas depois a mídia nacional: Radio, Televisão, jornais e órgão do governo Federal em suas propagandas, continuam a dizer erradamente do: “Oiapoque ao Chuí”.
Uma nova expedição está sendo organizada para irmos ao Caburaí em setembro.
Que se corrija e se diga: Do Caburaí ao Chuir...
Platão Arantes
Jornalista