“Toda a história tem que atrair o público pelo início”. Ouvi essa frase do diretor e roteirista Jorge Furtado, de O Homem que Copiava, Meu Tio Matou um Cara, Houve uma vez dois Verões, entre outros longa-metragens brasileiros. Então, queria algo marcante para a minha primeira coluna em O Rebate. Mas hoje em dia o que prende o leitor? Pensei em várias coisas. Primeiro, em escrever uma coluna com alguma história de ficção... Uma história com doze macacos, em que um cientista está fazendo experimentos neles. Os macacos têm asas e estão apostando uma corrida. Seis machos, e o resto você sabe... Ei, não está dando certo. Essa o velho Bukowski já experimentou uma vez e não deu certo. Acabou com um casal de macacos trepando em um beco, e um guarda metendo uma bala na cabeça do macho, e após tentar transar com a fêmea e não conseguir, deu fim a rápida passagem dos macacos voadores na terra. Muito triste, essa história. Eu não queria terminar desse jeito.
Depois, pensei em escrever algo real, que aconteceu, algo que realmente atraísse você, nobre leitorinho tupiniquim. Mas não é fácil atrair você. Não, muito pelo contrário. Ainda mais no meio de tantas notícias desastrosas, tragédia no Quênia, corrupção em Brasília, tráfico no Rio, sempre a mesma ladainha que se repete e que sempre choca. Choca como a cerveja chocou no copo de Jesus Cristo, no dia 9 de março de 1994, quando ele recebeu Charles Bukowski no bar de entrada, localizado na direita de quem passa pela porta do céu.
Em tempos de consulta a pais e mães de santos para as previsões que nunca acontecem para o ano que chega, eu consultei o Pai Xangu para saber o que acontece no tal dia 9 de março. O velho safado só aceitou contar em poucas palavras pós oferecermos uma dose de whisky. Como ele não se mostrava muito disposto a falar coisa com coisa, resolvemos tentar subornar ele com uma caipirinha, que pelo nome ele não conhecia, mas após provar três doses acabou dizendo que amava o Brasil e que iria reivindicar a Jesus que na sua próxima reencarnação ele nasça no país tropical mais sem-vergonha do mundo. “Um charlatão como eu vou me dar muito bem ai”, disse. Mas chega de papo furado, e vamos as revelações do velho Buk:
“Porra, acordei e parecia que tinha tomado uns cinco garrafões de vinho. No início achei que era só mais uma ressaca, já que toda vez que acordava de ressaca achava que tinha morrido, mas no fim era pura ilusão. Dessa vez nem me iludi. Mesmo vendo aquele portão dourado na minha frente, com aquela campainha do lado. ‘Devo ter tomado um porre e me largaram na frente de um hosípicio’, pensei. Resolvei apertar a dita campainha, até porque não havia mais para onde ir.
- Como se chama?
- Quem quer saber? – respondi.
- Como se chama?
- Foda-se.
- Como se chama?
- Porra, só sabe perguntar isso?
- Como se chama?
- Mas que saco. Ok. Henry Chinaski – murmurei, dando meu nome literário.
- Mentira.
- Porra, vai se fuder. Se sabe meu nome por que pergunta?
- Está bem, entre.
Depois disso, abriram-se os portões. ‘Estou no paraíso’, pensei, esperando que viessem um monte de anjinhas peladas pulando no meu colo, cada uma trazendo um litro de cerveja para a festa sem fim... Mas ao contrário disso, encontrei um velho barbudo.
- Venha por aqui – disse ele.
- Não vou – respondi.
- Te pago uma cerveja – retrucou.
- Ok.
O velho me conduziu até um barzinho que parecia com um que eu quebrei a cara de um garçom, certa vez, em Los Angeles.
- Senta ai.
Sentei. Ele sentou-se na minha frente e ficou me olhando com uma cara de quem também estava acostumado a ressacas.
- Você tem alguma pergunta para fazer? – me perguntou.
- Cadê a cerveja?
Ele colocou os dedos na boca e soltou um assovio que quase me deixou surdo. Então, veio uma anjinha pelada com uma garrafa de cerveja e dois copos. Era a Tina Thunder em miniatura. Enquanto ela subia de volta para o além fiquei olhando para o rabinho dela pensando ‘ainda vou te pegar’. Eu via ela desaparecendo no céu do céu, quando de repente só ouvi POW! e um monte de estrelinhas... Olhei para o velho e ele estava injuriado.
- Escuta aqui, rapaz. Meu nome é Jesus Cristo e aquele anja é só minha, portanto, nunca mais olhe para ela assim ou estouro seus miolos.
- Ok – disse ainda meio tonto pela pancada.
- Bom, essa foi a primeira vez em mais de dois mil anos fazendo isso em que perco a paciência. – explicou-se – Na verdade gente como você vai direto para o inferno. Mas como você influenciou milhares de pessoas, e eu não tenho como mandar todas elas para o inferno, resolvi te dar uma chance. No fundo sei que você é uma boa pessoa.
- Todos somos – respondi.
- Exatamente. Todos somos. Está vendo. Você compreende isso. Mesmo sendo do jeito que você é, você entende o que eu levei dois mil anos tentando explicar para as pessoas. Que todos somos boas pessoas.
- O que você quis dizer com ‘mesmo do jeito que você é?’ – questionei, acabando com a cerveja, e já esperando a Tina Tander de volta.
- Olha você sabe...
- Hummm. Sei. Não tem mais cerveja?
Ele deu outro assovio, e agora veio um Silvester Stalone em miniatura pelado. Quando vi, quase vomitei tudo, mas consegui segurar.
- E a Tina? – perguntei.
- É ela. É que esse é um anjo bem humorado, ele gosta de aprontar com os recém chegados.
Não falei nada, apenas continuei bebendo. Ele também não falou nada e ficou me olhando. Gostei dele. Não é chato. Poderíamos ficar a vida inteira bebendo (Mas que vida, se estou morto, apesar de não ter certeza disso). Tomamos mais umas cinco garrafas, até que comecei a me entediar com a cara do velho.
- Eu estou morto?
- Óbvio que sim.
- A gente tem ressaca quando está morto?
- Não.
- A gente fode quando está morto?
- Também não.
Fiquei calculando o que era melhor: estar vivo fodendo ou morto sem sentir ressaca? Acho que é melhor estar vivo, conclui.
- O cara morto é uma merda – comentei.
- É sim.
- Você é foda. Passaram-se dois mil anos e você continua com a mesma popularidade – disse a muito custo, já que nunca admiti que alguém fosse foda.
- É, sou sim.
- Então é isso.
- Éééééé.
- Me empresta a Tina?
POW!!! Só fui acordar agora, sei lá eu quantos anos depois, com você me chamando...”
E assim terminou o depoimento do Bukowski. Ele contou tudo isso enquanto tomava sua caipirinha. Tentamos outros contatos, mas não conseguimos nada. Acho que é porque em início de ano da congestionamento de baixar espíritos alheios. Mas continuaremos tentando novos contatos com o velho Buk. Enquanto isso, contentem-se comigo: Eduardo Ritter, 26 anos, gaúcho de Santo Ângelo, jornalista, escritor, leitor, sonhador e tudo mais que quiserem....
“Qualquer homem pode ser gênio aos vinte e cinco anos: aos cinqüenta fica bem mais difícil” eu, Eduardo Ritter, citando Bukowski, citando Huxley em Contraponto. Bukowski sempre reclamou que depois de velho escrevia quase nada melhor do que quando era jovem, mas só conseguiu suas publicações depois de velho. Eu sei que tenho muito a aprender ainda, mas como diria o próprio Bukowski “escritor já nasce feito, não é conselho que vai resolver”. Portanto, não acredito que o tempo torne alguém escritor. Pode melhorar um trabalho, mas não vou ficar esperando ficar velho (fisicamente falando, porque mentalmente sempre quero ser jovem) para chegar e dizer: “Pronto! Chegou a hora! Agora me tornarei o melhor escritor e jornalista do mundo!”. Não, não. Definitivamente não! Tenho um lema simples e fácil: A hora sempre é agora!
Bom, mas agora vou me apresentar de maneira mais chata, digo, formal: meu nome é Eduardo Ritter, tenho 26 anos, sou formado em jornalismo em agosto de 2006, já trabalhei na Rádio Globo de Ijuí (RS), no Jornal da Manhã de Ijuí (RS), e já fiz estágios na assessoria de comunicação social da Unijuí-RS e na Rádio Gaúcha de Porto Alegre. Atualmente sou editor de esportes do Jornal das Missões, de Santo Ângelo-RS. Já ganhei alguns prêmios acadêmicos e tive algumas publicações, mas o que mais gosto de destacar é o Prêmio Nacional de Incentivo a Pesquisa com o artigo “Erico Verissimo entre o romance e o jornalismo”, que ganhei em 2005 no Intercom realizado na UERJ, na categoria Comunicação, Fotografia e Cultura. Gosto de desafios, e assumir essa coluna é mais um. Estou no aguardo de duas coisas que considero importantes para o meu futuro: a publicação do meu Livro-reportagem “Contos em Vermelho”, que foi meu Projeto Experimental do curso de jornalismo, previsto para 2008, e uma vaguinha como aluno especial do mestrado em comunicação da PUCRS. Espero ter essas duas boas notícias em breve para começar esse ano com o pé direito!
Abraço a todos e boas leituras! Espero que gostem, e meu contato é: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.. Também tenho orkut, só me procurar lá!