Da experiência do OhmyNews, na Coréia do Sul ao jornalismo impresso de Campos dos Goytacazes

    A primeira vez que ouvi falar de jornalismo participativo foi em sala de aula, através do ex-professor Gerson Dudus. Segundo ele, um dos primeiros jornais participativos do mundo, era da Coréia do Sul, o OhmyNews. O seu principal slogan “cada cidadão é um repórter”, faz com que o site consiga atingir a média de 1,7 milhão a dois milhões de page views diariamente. De acordo com a matéria publicada no Observatório da Imprensa (http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos) em dezembro de 2002, nas eleições presidenciais sul-coreanas, o número de page views, que o site recebeu foi de 25 milhões.

 

    Antes de mais nada é preciso compreender que a Coréia do Sul, vivia até bem pouco tempo atrás um regime ditatorial, que durou há alguns anos. Depois disso, o que se viu foi a vontade das pessoas expressarem suas opiniões sobre diversos assuntos.
    É fato que de todos os veículos de comunicação existentes no Brasil, como os jornais, o rádio, a televisão e mais recentemente a internet, o único veículo que não abriu suas portas para a participação popular foi o jornal, que curiosamente é o mais velho de todos eles, já que a imprensa foi instalada nesse país, em 1808, quando o Príncipe Regente de Portugal, D. João VI resolveu fugir para o Brasil, para não enfrentar o exército de Napoleão Bonaparte. Cuja história todos nós conhecemos.
    Naquela época (1808), Hipólito José da Costa, lançava no Brasil o seu jornal Correio Braziliense, que fora impresso em Londres. Somente com a implantação da Impressa Régia, é que surgiu a Gazeta do Rio de Janeiro, este sim o primeiro jornal brasileiro, mas que, diga-se de passagem, foi o primeiro permitido por Sua Majestade Imperial, porque anteriormente à vinda de D. João VI e sua Corte, houve algumas iniciativas de publicação de jornais, livros e folhetos, mas que por não terem autorização do governo, acabaram sucumbindo, conforme conta Carlos Rizzini  em seu livro, “O Jornalismo antes da Tipografia”.
    Entretanto o primeiro veículo que utilizou a participação popular foi o rádio, já que ele necessitava do convívio das massas e da troca de informações entre os locutores e os seus ouvintes de uma maneira geral.
    Quando surgiu a televisão, na década de 50, este veículo ainda mantinha a mesma via de mão única, transmitindo para os telespectadores aquilo que eles queriam que o povo soubesse. Não me recordo quando foi que a televisão começou a ter mais contato com o seu público, e as informações dessa forma eram passadas ao departamento de jornalismo para que este sim pudesse colocar em pauta as notícias vindas do público.
    Quanto à internet, é bom lembrar que o Brasil, já utilizava em meados da década de 80, a troca de informações por um híbrido de e-mail. Antes para enviar uma mensagem para outra pessoa, era necessário ligar o computador a uma linha telefônica que se ligava com o computador de outra pessoa (provedor) para então conectar com outra pessoa em outro ponto da cidade. Na verdade esse sistema arcaico lembra muito o início da telefonia no país, quando uma telefonista fazia a conexão dos cabos para que pudéssemos conseguir fazer a ligação com um amigo. E em alguns casos as ligações levavam horas.
    Mas com a abertura democrática nessa mesma década (80), o país teve oportunidade de conhecer os computadores pessoais, criados por um jovem chamado Bill Gates. E assim, a informática chegou ao país, e o Brasil, pôde assistir a evolução dessa ferramenta que hoje é indispensável em diversos setores da economia.
    Hoje, posso dizer que é graças à internet, o jornalismo impresso brasileiro, está abrindo suas portas para o jornalismo participativo. Curiosamente no mundo, o jornalismo impresso foi o primeiro que aderiu à informatização já que desde a década de 60, alguns jornais americanos já utilizavam o computador como ferramenta de troca de informações entre pólos distantes, e posteriormente na concepção e impressão dos jornais propriamente dito.
    Daí o fato de acharmos estranho que só agora, em pleno século XXI, e 200 anos depois da implantação da Imprensa Régia no Brasil, vemos os jornais abrirem suas portas a participação popular.
    Como exemplo de jornais que utilizam o jornalismo participativo podemos citar a Folha de São Paulo (talvez seja o pioneiro), posteriormente os jornais cariocas, O Globo, Jornal do Brasil, O Dia, e Lance. Além de outros jornais por este país afora, já que é impossível prever o que aconteceu em outros estados da federação.
    Aqui em Campos, o jornalismo participativo ainda está engatinhando. O primeiro jornal que aderiu a participação popular foi o Monitor Campista, já que há pouco mais de um ano, ele resolveu mudar sua concepção gráfica e nessa mudança de ares, e de roupa, resolveu investir na tecnologia – até porque seu diretor, Jairo Maia, é formado em ciência da informática-, e abriu seu espaço para que o leitor, e principalmente aquele que navega pela internet, envie dados, sugestões e pauta para a redação.
    Acreditamos que apesar dessa iniciativa estar ainda tão recente, o público de uma maneira geral ainda esteja muito longe de alcançar um bom número do envio de sugestões de pauta, como àquele enviado pelos sul-coreanos – respeitadas as suas devidas proporções.
    Mais recente do que isso é o fato de que há poucos meses atrás, o jornal Folha da Manhã, que foi o pioneiro na década de 80, em uma nova roupagem diagramática em Campos, aderiu a essa mudança, e abriu suas portas à iniciativa popular, lançando o projeto “Leitor Interativo”.
    Acreditamos que a partir desses dois projetos, a população campista passe a ter uma relação mais próxima com os dois veículos de comunicação, já que antes disso, cabia ao editor e somente a ele, a iniciativa de colocar em pauta o que o povo deveria ler. E como é sabido em toda Campos, cada um dos nossos jornais possui uma maneira de encarar o momento atual, porque cada um dos jornais está ligado direta e indiretamente a um grupo político. Enquanto o Monitor Campista é o “Diário Oficial” do município; O Diário, defende os interesses dos ex-governadores Rosinha e Garotinho, e a Folha da Manhã, está sempre contra esse grupo político e a favor de quem assume a prefeitura. Já que o seu interesse maior é o comercial.

CONCLUSÃO:

    Após as pesquisas realizadas pela internet e por alguns livros na biblioteca da Faculdade chego a conclusão de que ainda é muito cedo para debater esse assunto, já que esta fase do jornalismo impresso ainda está no nascedouro. Além disso é claro que não dá para comparar a iniciativa dos sul-coreanos com a nossa tendo em vista o fato de que a população sul-coreana era 143,17 vezes (45.943.000:320.888) maior do que a população campista na década de 80, já que sua superfície é 24,45 (98477:4027) maior do que o nosso município, conforme demonstro no quadro abaixo. Isso sem falar, claro, no fato de que na década de 80, quando o OhmyNews surgiu, nós aqui no Brasil, nem sonhávamos com tanta tecnologia.

 

Local

Superfície em km2

População

Campos dos Goytacazes
4.027
320.888*
406.989**
Coréia do Sul
98.477
45.943.000***
* Fonte IBGE, Censo Demográfico 1940-2000, para 1980.
** Fonte IBGE, Censo Demográfico 1940-2000, para 2000.
*** Estimada para 1985


    Conclusões mesmo poderemos tirar daqui a um ano, quando os nossos principais jornais, Monitor Campista e Folha da Manhã, já tiverem subsídios para nos informarem sobre a quantidade de informações recebidas pelos seus leitores. Por ora, ainda é muito cedo para tirar conclusões.


1 Segundo Rizzini, uma das primeiras tentativas do uso da tipografia em solo brasileiro ocorreu em 1700, na margem esquerda do rio Paraná, p. 158. E outra além de tantas outras tentativas, aconteceu no Rio de Janeiro, em 1746, quando o impressor português, Antônio Isidoro da Fonseca, sob as vistas de Gomes Freire, tencionou explorar sua oficina gráfica, fazendo impressos para os padres, mas acabou sendo deportado no ano seguinte para Portugal, e nunca mais se soube notícias dele. Outro fato citado ocorreu em Vila Rica, em 1807, quando um impressor, imprimiu um opúsculo.

CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
RIZZINI, Carlos; O Jornalismo antes da Tipografia, São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1968.
Enciclopédia Mirador Internacional; São Paulo: Companhia Melhoramentos de São Paulo, 1995.
Jornalismo participativo é sucesso no país – Encontrado no endereço eletrônico: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos. Publicado no dia 26/09/2005.
Perfil Demográfico de Campos dos Goytacazes – Encontrado no endereço eletrônico: http://www.campos.rj.gov.br/Perfil-2005
Perfil Populacional de Campos dos Goytacazes – Encontrado no endereço eletrônico:
http://www.campos.rj.gov.br/Perfil-2005 
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