Dezembro chegou e um ano a mais se foi. Mal abri os presentes do último natal e um ano a mais se foi. Obtivemos algumas vitórias e derrotas, tivemos ótimas idéias, mas nem todas colocamos em prática e um ano a mais se foi. Torcemos pelo nosso time do coração, comemoramos os tropeços dos times adversários, gritamos pela seleção e um ano a mais se foi. Nos despedimos de algumas pessoas queridas, celebramos a chegada de outras tantas bem vindas, reencontramos quem nunca mais se viu e quem sempre nos via, partiu. Um ano a mais se foi enquanto partilhávamos o jantar com nossos amigos mais chegados, corríamos para pegar o ônibus atrasado, olhávamos a paisagem pela janela, pegávamos chuvas de verão e dormíamos o nosso sono sagrado.
A criança que brinca na areia de pés descalços não sabe que um ano a mais se foi. Sequer atualizou-se dos noticiários e muito menos da classificação no último campeonato. Ela corre pelo mato em busca de um pássaro azul da cor do céu, nosso manto que transforma em véu ao cair da noite quando lembramos que mais um dia se foi. Este menino sorri e ri do homem adulto que acredita no tempo, que faz contas e observa seu relógio como quem vê um trem da estação partindo e levando sua história em seu vagão, grande ilusão... pois os ventos que movem moinhos fazem nossa mente girar e ao rodopiar fica difícil sentir o chão no qual pisamos. Relógios... moinhos ... tempo... vento... dom Quixote e suas guerras impossíveis... pura distração de uma vida que jamais existiu, mas que no entanto a sentiu como real, seu bem e seu mal.
Natal... dizem... é tempo de agradecer... rever... repensar... presentear... rever... reatar... e principalmente pensar e se perguntar... quem faz o tempo? Quem o define e classifica-o? Quem estabelece seus limites e convenções? Com quem conversa o tempo? Seu mensageiro é o vento? Ou é apenas uma palavra pra rimar? O que faria se o Natal fosse todos os dias? E se a cada segundo se pudesse dizer... mais um ano se foi...? Os instantes seriam promovidos a grandes momentos e estes em um infidável número de vidas significativamente vividas, pois o breve se tornaria eterno e este definiria o nosso ser... viver intensamente mesmo que nos digam incessantemente que um ano a mais se foi.
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