É noite, correntes se arrastam no chão frio das senzalas, trazendo de volta pés cansados.
Gemidos, dores e lágrimas escorrem de homens e mulheres mutilados em sua liberdade.
Mas, de repente, na calada da noite, uma milagre acontece, uma mão
calejada e inchada da labuta no corte da cana bate com a palma da mão
no couro esticado de um tambor. E assim, mesmo fatigados, os tambores
começam a tocar.
Bate tambor, chora, chama sua gente!
Bate tambor, acorda quem está dormindo, morto de cansado por um dia exaustivo no canavial.
Bate tambor! Chora, chama e clama a tua gente que é hora de acordar, de levantar, encontrar forças para lutar.
Bate tambor! Bate com força!
Faz o teu couro gemer, ranger e ecoar a noite.
Mostra tua força tambor!
Mostra a garra e a força de seu povo!
Faça com que acordem, que se levantem da letargia.
Faça com que eles se ergam e dancem ao som de tuas batidas.
Invada o coração deles, faça os pulsar,
Bater mais forte, lembrando das noites de tua terra natal,
Onde a liberdade reinava,
E havia sorrisos nos rostos de sua gente.
Bate tambor!
Retumba e ecoa nas senzalas,
Faz seu povo delirar, e no ritmo frenético do jongo faz seu povo acordar.
Bate tambor!
Acorda tua gente!
Ensina a eles a viver sob a esperança,
O sonho da dignidade, o sonho da humanidade!
Bate tambor! Bate com força!
Mostra a raça do teu povo a dançar,
E ensina os ideais de liberdade.
Injeta neles a vontade de lutar,
guardar as energias para o dia que virá.
E um dia finalmente, chegará.
Em que tu tambor, baterá e chorará de alegria,
Pela liberdade de seu povo.
Agora bate tambor!
Bate, com vontade,
E viva a liberdade
De seu povo,
Cantador de jongo!
Agora bate tambor!
Bate, bate com força!
Bate para a eternidade!