Ryan Coogler, ao dirigir o filme ‘Pantera Negra’, traz uma ampla riqueza de elementos que está além da questão racial, enfatizada pela maioria das críticas. É claro que é ótimo ver crianças de todas as raças poderem ter um herói negro como ídolo, mas, acima de tudo, temos um protagonista pleno de complexidades num universo de reviravoltas.
O reino de Wakanda é uma encantadora visão da África, mas o melhor está em alguns de seus personagens, principalmente os femininos, com uma cientista jovem e bem-humorada, uma general fiel ao seu país em qualquer circunstância e uma espiã que acredita que as causas sociais devem mover qualquer reino.
Em meio a isso, o rei T'Challa, o Pantera Negra, além dos poderes que uma armadura tecnológica lhe dá associada a uma erva das profundezas do continente africano, convive com os mais diversos problemas políticos, como a decisão de tornar o reino mais ou menos visível no mundo e enfrentar um erro de avaliação de seu pai que idolatrava.
Mesmo os personagens malvados têm motivações plausíveis, principalmente o fato de estarem alijados do poder, o que gera uma revolta compreensível, mas não justificável quando caminham para o excesso. O resultado é um filme de super-herói em que as cenas de ação são superadas pelas idas e vindas da história e a riqueza interna das personagens. Vale muito a pena!
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.