Fevereiro foi um mês repleto de alegorias, nas ruas e em palácios, carnavalescas ou não. A imprensa esteve ali, próxima, na medida do possível em relação a sua sobrevivência – ou persistência – e no espaço para a manifestação da opinião e da avaliação de fatos históricos e políticos.
Assim, não causou surpresa a morosidade do STF no caso de Romero Jucá. Hélio Schwartsman pode até se indignar, como em sua coluna “Radiografia de um fracasso” (9/2), mas a Justiça no Brasil, quando funciona, está mais para justiçamento, com vinganças pessoais e convicções prévias superando um julgamento equilibrado. Mas vá o cidadão comum enfrentar o sistema para ver como a espada cai-lhe sobre a cabeça imediatamente. Desta forma, pergunto-me: não seria caso de declararem-se impedidos os magistrados que condenaram Lula por receberem auxílio-moradia, mesmo tendo imóvel próprio? A controvérsia por apenas acatar a lei ou ser proprietário do que nunca usufruiu não é semelhante? Mas aí estaríamos falando de lógica, objetividade e moralidade, que não é o caso da Justiça brasileira.
Dois importantes fatos no mercado jornalístico dão alento a essas questões, se não com soluções, ao menos com forte discussão. A Folha de S. Paulo lança novo Manual da Redação e faz bem jornal em trazer também críticas a seu projeto editorial, mas a questão de apartidarismo no jornalismo precisa ser revista. Nem padres precisam ser eunucos para praticar o celibato; por que a divulgação da notícia deveria ser “isentona”? Muitos veículos da imprensa norte-americana deixam claras suas opções políticas e nem por isso são menos confiáveis ou respeitáveis. Sim, o jornal é plural, mas não pode se esconder com a falácia de ser isento. E também deveria expandir o espaço dos leitores para refletir essa pluralidade de opiniões. Antes havia grande espaço na página eletrônica para as cartas, muito maior do que o impresso. E os comentários são restritos aos assinantes. Também foi alvissareira a notícia da volta do Jornal do Brasil impresso, uma confirmação da necessidade do jornalismo de qualidade para combater as fakenews.
Ousando com outro questionamento, com essa onda de pseudo-moralidade no País, a pergunta – já calada e só colada em meu caderno – é: quem vai colocar juízes na cadeia?
Adilson Roberto Gonçalves, pesquisador no IPBEN – Unesp de Rio Claro, membro da Academia Campineira de Letras e Artes e da Academia de Letras de Lorena.