É comum, em uma discussão étnica, alguém usar da literatura e das artes em geral, para fazer comparações sobre os espaços ocupados por negros e brancos e os papéis que desempenham.
Está em cartaz a comédia "Deu a louca na Branca", com Cacau Protásio protagonizando uma Branca de Neve negra. O texto fala dos problemas da sociedade brasileira por meio de uma personagem fora dos padrões estabelecidos.
É uma estratégia muito batida que utiliza do senso comum de que toda princesa é branca, para contrariar a regra e 'pichar' nos velhos muros dos clichês.
A crítica é interessante, mas frágil. O estigma da princesa branca, loira e com os olhos azuis dos contos, deve-se à origem de seus criadores, na maioria europeus que, privilegiados, podiam estudar e escrever.
Para lá do 'Era uma vez...', princesas de verdade vivem em países menos cobiçados pela estética ocidental, como a princesa nigeriana Arewa Folashade Adeyemi, da família real de Oyo, região no sudoeste do país africano, que recebeu, recentemente, a medalha Pedro Ernesto da Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
Quantas princesas e príncipes africanos foram capturados e trazidos para cá e aqui escravizados? Quem pode garantir que um de nós não seja descendente da realiza africana?
Caso interessante, mas longe de ter sido um conto de fadas, foi o de Sarah Culberson que vivia com a sua família adotiva em West Virginia, até descobrir que seu pai biológico era membro da família real da tribo Mende na província do sul de Serra Leoa. Ela era na verdade uma princesa e foi convidada a conhecer sua família na África, criando lá uma Fundação para ajudar a reconstruir escolas destruídas na guerra civil.
De princesas e de príncipes o Brasil está cheio, só que longe dos roteiros fictícios, do radar social e do portão do palácio.
Ricardo Mezavila autor de "O Cínico, o poeta e a lamparina" em O GLOBO