Devido à histórica falta de consciência republicana existente na capitalista sociedade dividida em classes sociais e que se reproduz em nosso comunitário mundo do samba através do acriticismo da mídia burguesa mesmo a especializada. A direção da agremiação representativa da 4ª divisão do Carnaval Paulistano, grupo 3 da UNESP-União das Escolas de Samba Paulistanas, a Iracema Meu Grande Amor está divulgando a logomarca do não inédito tema-enredo afro 2018 intitulado: "Carukango, axé grande quilombo... Príncipe guerreiro" que foi criado e será desenvolvido pelo carnavalesco Fernando Santos, há dois anos na tricolor em vermelho-verde-branco da comunidade Jardim Iracema.
De acordo com a falta de concepção republicana da direção da citada escola de samba e do seu carnavalesco: "Os compositores interessados em participar do processo de escolha do samba devem enviar e-mail para Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo., solicitando a sinopse completa e o regulamento da disputa, feita na íntegra através de audições internas. Compositores de todo o Brasil podem participar enviando a letra da obra e, a única exigência, é que a gravação do áudio contenha cavaco e voz"; disse ele ao site SRzd-Carnaval. Ou seja, em nome da direção da coirmã & afilhada da preto-branco Vai-Vai, o carnavalesco da Iracema Meu Grande Amor repete o seguinte caô que virou "moda".
Muitos dirigentes de escolas de samba atribuem à crise político-econômica mundial eventualmente corte de subvenção imposto por prefeitos burgueses contrários aos desfiles carnavalescos bancados pelo poder público, para desrespeitarem as alas de compositores à medida em que os imprescindíveis concursos-disputas em quadra deixam de ser realizados. Em muitos casos, para ser adotada a nefasta encomenda de sambas-enredo ou, porque conforme é o caso da agremiação paulistana Iracema Meu Grande Amor, através de audições internas. Tudo disfarçado pelo democratismo de a disputa ser aberta para compositores de todo o país, isto é, não pertencentes à própria ala da agremiação.
O agravante em ambos os casos é que as alas de compositores não é treinada no restante do ano, isto é fora do período carnavalesco através de concursos-disputas em quadra de outros tipos de samba como o de roda, partido-alto e pagode. Isso tem cada vez mais ensejado sambas sem excelência na qualidade nos sub quesitos letra-poesia-rimas e melodia-ritmo-DNA ou a sempre heterogênea identidade musical da escola, em relação aos temas-enredos das sinopses. E quando há disputas são caras e inviáveis para os compositores pobres e oprimidos que acabam explorados por compositores-empresários ou sambistas de escritório, em função da grana de direitos autorais paga pelas gravadoras.
A não divulgação da sinopse do enredo 2018 por parte da direção e do carnavalesco Fernando Santos da escola de samba do carnaval paulistano Iracema Meu Grande Amor cujo título é "Carukango, axé grande quilombo... Príncipe guerreiro" nem pode ser alegado temor a um suposto 'vazamento' do conteúdo de um enredo inédito. Outras agremiações carnavalescas em diferentes cidades já o fizeram. Primeiro na 4ª divisão/então grupo a atual Série C do Carnaval Carioca 2007 a Unidos da Villa Rica apresentou o enredo "Carukango" do carnavalesco Oswaldo Luiz o 'Deco', samba-enredo de coautoria dos compositores Leonardo 30, Everton Cesar, Ricardinho e Leo Torres.
Segundo em 2008 na 2ª divisão/Grupo 2 do Carnaval de Macaé (RJ) a escola de samba Unidos do Santana apresentou no desfile oficial o título-tema-enredo "Carukango" do saudoso carnavalesco Arlei Araújo, que infelizmente faleceu às vésperas da Folia, e samba-enredo de coautoria dos compositores Jorge Moura e Abel. Terceiro no Carnaval da cidade de Campos dos Goytacazes (RJ) em 2011 a escola de samba Unidos de Santa Cruz apresentou o enredo intitulado "Carukango o príncipe dos escravos" do carnavalesco Fábio Pereira e samba-enredo de coautoria dos compositores Beto da Viola, Badanho e Virgínia Lúcia.
Quem foi o intrépido líder quilombola lutador Carukango.
São quatro diferentes grafias (Carukango, Carucango, Curukango e Querucango) que designam o intrépido-líder-lutador do maior quilombo que existiu no Estado do Rio de Janeiro, durante a opressão colonial & escravista portuguesa no Brasil. Numeroso, resistente e combativo quilombo, o de Carukango equivaleria atualmente a um grande sindicato ou federação de lutadores. Porém, nem tanto quanto o maior deles a confederação de quilombos de Palmares comandada pelo maior herói negro brasileiro, Zumbi, assassinado em 20/11/1695.
A grafia Querucango, designativa de tal líder-lutador-quilombola, refere-se a uma localidade com esse nome situada às margens do rio Zambezi, no país do continente africano, Moçambique. Nascido na tribo Bechuana, Carukango foi aprisionado, escravizado e levado junto com outros nativos para Cantebe, a atual capital moçambicana Maputo, onde foi trocado por barris de cachaça e grandes tabacos, pela tribo Zulu a serviço de traficantes europeus. Tudo, feito para sonegação de impostos devidos pela vil comercialização dos escravizados bechuanos. Já dentro do tumbeiro, Carukango destacou sua liderança entre os escravizados.
Carukango foi desembarcado entre o final e o início dos Séculos XVIII e XIX no porto de Macaé então vila pertencente a Cabo Frio. Conhecido também como "príncipe dos escravos", ele não deu trégua à luta de classes da época. Ou seja, durante décadas comandando os quilombolas muitas vezes em batalhas sangrentas, Carukango combateu até o fim da vida a repressão militar e policial exigidas pelo colonizador absolutista português Dom João VI (1767-1826) a Antônio Coelho Antão de Vasconcellos, o coronel-chefe da Capitania do atual Estado do Espírito Santo que à época se estendia até a atual cidade de Campos dos Goytacazes.
Depois de inúmeras derrotas para os lutadores quilombolas comandados por Carukango, o coronel aprisionou e torturou um deles. O qual acabou fazendo a delação da localização exata do quilombo, conforme Palmares, no cume de uma região serrana entre Macaé e o então distrito o atual município Conceição de Macabu, na nascente do afluente do rio São Pedro, o rio Deitado. Tendo contado com as ajudas de mercenários milicianos do Espírito Santo, Cabo Frio e Macaé que se juntaram a voluntários agentes policialescos ou inocentes úteis da região, a tropa comandada pelo coronel Antão de Vasconcellos, em 01/04/1831, assassinou Carukango.
Almir da Silva Lima
jornalista – militante do Movimento Negro Socialista (MNS) e da seção brasileira da Corrente Marxista Internacional (CMI) a Esquerda Marxista (EM) corrente interna do PSOL, no RJ é torcedor da Portela e em SP da Nenê de Vila Matilde.