O Museu do Santander Cultural, em Porto Alegre, RS, foi fechado e a exposição em cartaz, denominada Queermuseu, foi cancelada domingo último (10/9). A questão merece breve análise, que pode ser feita pelos pontos de vista de seus protagonistas: quem produziu a exposição, quem a mostrou e quem a vê. No fundo, é claro, está uma reflexão ainda maior, a discussão do que é a arte e qual é o seu papel.
Vamos começar por esse último ponto. A arte é geralmente vista de duas grandes maneiras: ou como uma forma do criador trabalhar a diferença entre o mundo que ele vê o que gostaria de ver; ou como uma eterna diferença entre aquilo que se deseja fazer e o que efetivamente se consegue. No primeiro caso, haveria uma inquietação permanente; no segundo, uma frustração.
Qualquer exposição, portanto, do ponto de vista do curador e dos artistas que a integram, traz um posicionamento crítico perante o mundo. A instituição que a abriga, no presente caso, uma casa com nome e experiência suficientes para ter avaliado previamente o material, deve estar preparada para repercussões variadas. O público, por sua vez, tem o pleno direito de gostar ou não do que vê e de se manifestar, desde que de maneira civilizada e republicana, se assim julga necessário e importante.
Interromper a exposição parece romper o círculo virtuoso acima proposto: artistas e curadores inquietos, instituições que estimulam o diálogo e livre opinião do público. Pode gerar um círculo vicioso: receio de curadores e artistas, pavor das instituições e restrições para o público ver o polêmico e diferente - e se habituar a conviver com a diferença e a diversidade. A cultura, que se alimenta justamente dos diálogos entre os dissemelhantes - não da confirmação das igualdades - sai perdendo nesse processo, o que é ruim para a arte de modo geral e para o cenário plástico brasileiro em particular.
Oscar D'Ambrosio é Doutor em Educação, Arte e História da Cultura e Mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp.