A Cana e o Açúcar (sua história)

A cana-de-açúcar é das culturas agrícolas mais importantes da História da Humanidade, pois provocou um grande fenómeno em termos de mobilidade humana, económica, comercial e ecológica, abrangendo vários quadrantes do planeta. Além dos efeitos económicos, sociais e políticos da produção açucareira, a cultura da cana produziu níveis de sociabilidade, de enlaces culturais e de cultura material, importantes e ainda visíveis nas áreas abrangidas. A dimensão dessa civilização do açúcar, que vem sendo sistematicamente estudada por pesquisadores de diversas partes do mundo. 
Foi na Nova Guiné que o homem teve o primeiro contacto com a cana-de-açúcar. De lá, a planta foi para a Índia. No "Atharvaveda", o livro dos Vedas, há um trecho curioso: "Esta planta brotou do mel; com mel a arrancamos; nasceu a doçura... Eu te enlaço com uma grinalda de cana-de-açúcar, para que me não sejas esquiva, para que te enamores de mim, para que não me sejas infiel". A palavra “açúcar” é derivada de "shakkar" ou açúcar em sânscrito, antiga língua da Índia.
Desconhecida no Ocidente, a cana-de-açúcar foi observada por alguns generais de Alexandre, o Grande, em 327 Antes de Cristo e mais tarde, no século XI, durante as Cruzadas. Os árabes introduziram seu cultivo no Egipto no século X e pelo Mar Mediterrâneo, em Chipre, na Sicília e na Espanha. Credita-se aos egípcios o desenvolvimento do processo de clarificação do caldo da cana e um açúcar de alta qualidade para a época.
O açúcar era consumido por reis e nobres na Europa, que a adquiriam de mercadores monopolistas, que mantinham relações comerciais com o Oriente, a fonte de abastecimento do produto. Por ser fonte de energia para o organismo, os médicos forneciam açúcar em grãos para a recuperação ou alívio dos moribundos. No início do século XIV, há registros de comercialização de açúcar por quantias que hoje seriam equivalentes € 66/kg. Por isso, quantidades de açúcar eram registradas em testamento por reis e nobres.
A Europa rumava para uma nova fase histórica, o Renascimento, com a ascensão do comércio, entre outras atividades. O comércio era feito por vias marítimas, pois os senhores feudais cobravam altos tributos pelos comboios que passavam pelas suas terras ou, simplesmente, incentivavam o saque de mercadorias. Portugal, por sua posição geográfica, era passagem obrigatória para as naus carregadas de mercadorias. Isso estimulou a introdução da cana-de-açúcar na Ilha da Madeira (Portugal), que foi o laboratório para a cultura de cana e de produção de açúcar que mais tarde se expandiria com a descoberta da América.
Cristóvão Colombo, genro de um grande produtor de açúcar na Ilha Madeira, introduziu o plantio da cana na América, em sua segunda viagem ao continente, em 1493, onde hoje é a República Dominicana. Quando os espanhóis descobriram o ouro e a prata das civilizações Azteca e Inca, no início do século XVI, o cultivo da cana e a produção de açúcar foram esquecidos.
Oficialmente, foi Martim Afonso de Sousa que em 1532 trouxe a primeira muda de cana ao Brasil e iniciou seu cultivo na Capitania de São Vicente. Lá, ele próprio construiu o primeiro engenho de açúcar. Mas foi no Nordeste, principalmente nas Capitanias de Pernambuco e da Bahia, que os engenhos de açúcar se multiplicaram.

MONOPÓLIO BRASILEIRO - Depois de várias dificuldades, após 50 anos, o Brasil passou a monopolizar a produção mundial açúcar. Portugal e Holanda, que comercializavam o produto, tinham uma elevada lucrativamente. A Europa enriquecida pelo ouro e prata do Novo Mundo passou a ser grande consumidora de açúcar. As regiões produtoras, especialmente as cidades de Salvador e Olinda prosperaram rapidamente. As refinarias se multiplicavam na Europa, a ponto de Portugal proibir novas centrais de refinação em 1559 devido ao grande consumo de lenha e insumos para a clarificação do caldo (clara de ovos, sangue de boi, ossos e gordura de galinha).
No ano de 1578 Portugal foi anexado pela Espanha. O rei espanhol, Felipe II, católico fervoroso, se opunha duramente à Holanda e Inglaterra, países protestantes. O comércio da Holanda entrou em colapso e em 1630 os holandeses invadiram o Brasil permanecendo em Pernambuco até 1654, quando foram expulsos. Para diminuir a dependência do açúcar brasileiro, os holandeses iniciaram a produção açucareira no Caribe e mais tarde os próprios ingleses e franceses fizeram o mesmo em suas colónias, acabando com o monopólio do açúcar brasileiro.
A descoberta do ouro no final do século XVII nas Minas Gerais retirou do açúcar o primeiro lugar na geração de riquezas, cuja produção se retraiu até o final do século XIX. Mesmo assim, no período do Brasil Império de (1500-1822) a renda obtida pelo comércio do açúcar atingiu quase duas vezes à do ouro e quase cinco vezes à de todos os outros produtos agrícolas juntos, tais como café, algodão, madeiras, etc.
A partir do início do século XVIII a produção nas ilhas do Caribe e nas Antilhas cresceu e o Brasil perdeu posições na produção mundial de açúcar. Inglaterra e França disputavam em suas colónias os primeiros lugares na produção. A Inglaterra já era uma grande potência naval. Os holandeses perderam pontos estratégicos no comércio de açúcar. O Haiti, colónia francesa no Caribe, era o maior produtor mundial.
As 13 colónias americanas, que mais tarde deram origem aos EUA, lutavam com dificuldade, apesar de um comércio crescente com as colónias produtoras de açúcar no Caribe e nas Antilhas. Em contrapartida compravam melaço, matéria-prima para o rum, que forneciam à marinha inglesa. Esse comércio era ignorado pelos ingleses e concorreu para o fortalecimento económico das colónias americanas. Estes fatores foram decisivos não só para a independência das 13 colónias, mas também para o surgimento da grande nação da América do Norte.
Os ingleses tomaram Cuba dos espanhóis em 1760, dobraram o número de escravos e fizeram da ilha um dos maiores produtores mundiais de açúcar. Em 1791, uma revolução de escravos no Haiti aniquilou completamente sua produção de açúcar e os franceses expulsos foram para a Louisiana, dando início à indústria açucareira norte-americana. O Brasil não estava no centro dos acontecimentos mas continuava entre os cinco maiores produtores.
Os persas, segundo a literatura, aparecem como pioneiros no desenvolvimento das técnicas de produção de açúcar na forma cristalizada, tal como, atualmente, se conhece. Eles obtiveram, por muitos séculos, os cristais grandes de sacarose através de tecnologia simples que consistia em uma simples drenagem do mel, sob a ação da gravidade. Os segredos da produção de açúcar espalharam-se, aos poucos, por toda a região do Oriente Médio. Os árabes e os egípcios aprenderam com os persas a produzir açúcar sólido e foi desta forma que, por volta do século X e XI, se estabeleceram verdadeiras “rotas do açúcar”, com caravanas a fazer o transporte entre os países asiáticos e africanos.
Nos séculos XII e XIII, os chineses juntamente com os árabes, foram os responsáveis pela expansão da indústria do açúcar nas regiões banhadas pelo Mar Mediterrâneo e pelo Oceano Índico. Houve tentativa de introdução da cultura da cana-de-açúcar na Grécia, na Itália e em algumas regiões da França. No entanto, o sucesso não foi grande, devido ao clima impróprio, permanecendo os orientais como maiores fornecedores de açúcar do mundo ocidental.
Nessa altura, eram os mercadores venezianos os principais intermediários deste comércio: em Alexandria compravam o açúcar proveniente da Índia, fazendo-o depois chegar ao resto da Europa.
Com o descobrimento da América, o açúcar produzido pela rápida introdução da cana-de-açúcar neste novo continente, ainda sob condições pouco desenvolvidas, passou a ser uma mercadoria acessível a todas as camadas sociais.
Apesar do desenvolvimento das técnicas para produção de açúcar mostradas pelos europeus no século XVI, foi somente no século XIX, com a introdução da máquina a vapor, da evaporação, dos cozedores a vácuo e das centrífugas, como reflexo dos avanços apresentados pela Revolução Industrial, que a produção comercial de açúcar experimentou notáveis desenvolvimentos tecnológicos.
A partir do século XVIII, as bases da indústria de beterraba foram lançadas na Europa, onde experimentou notáveis desenvolvimentos tecnológicos, chegando sua produção a superar a da cana-de-açúcar no período de 1883 a 1902. Desse período até os dias atuais, a produção do açúcar de cana, embora reagisse mais lentamente no início do século, vem superando a da beterraba.
O açúcar começou a ser divulgado na Europa a partir do século XII. Em Portugal, a cana foi cultivada no Algarve e na região de Coimbra desde o século XIV. Daí, passou para a ilha da Madeira, em meados do século seguinte.
Considerada uma especiaria, o consumo do açúcar ficou por muito tempo confinado as cortes e aos nobres. Após 1500, tornou-se um produto de luxo, ainda raro, mas utilizado de maneira cada vez mais intensa e variada. Somente no século XVIII, porém, como resultado da expansão da produção e do comércio, alcançou um público mais vasto, passando a adoçar o chá, o café e o chocolate, que se vulgarizavam.
Além de adoçante, o açúcar podia ser empregado como tempero (a pitada que ainda hoje se adiciona para cortar o sal), como conservante (frutas cristalizadas, por exemplo), como remédio (indicado pela farmacopeia árabe) e como decoração. Misturado a outras substâncias, o açúcar transforma-se em uma massa que pode ser modelada e pintada. Entre os séculos XV e XVII, e ainda mais tarde, constituía um símbolo de muito prestígio e riqueza rececionar os convidados decorando a mesa com a escultura açucarada de um edifício ou outros objetos.
Em virtude do alto valor do açúcar no mercado internacional e dos conhecimentos adquiridos na produção do reino e da Madeira, a opção dos donatários pelo cultivo da cana em suas capitanias parece uma escolha quase inevitável. Principalmente porque, no litoral do Brasil, a presença de um solo argiloso escuro e pegajoso, rico em calcário, denominado massapê, prestava-se esplendidamente ao cultivo.
No entanto, a fabricação do açúcar tinha outras exigências. De um lado, a instalação do engenho demandava capitais consideráveis. De outro, trabalhadores especializados, capazes de dar o ponto de cozimento adequado e de refinar o produto. De preferência, instalavam-se os engenhos junto a um curso de água, que servia de força motriz para a moenda e de escoadouro para a produção (engenho real). Mas também os havia, e em maior número, movidos à tração animal (trapiches). Os colonos de alguma posse, destituídos porém de recursos para a montagem de um engenho, faziam cultivar a terra ao redor e moíam suas canas na instalação do senhor mais próximo, pelo que pagavam com uma parcela do produto final. Caso as terras pertencessem ao próprio senhor, esses lavradores tornavam-se canas obrigadas, isto é, só podiam moê-las naquele engenho.
A cana-de-açúcar é uma planta perenial, que pertence a família dos capins (grass family), gramineae. Na qual inclui mais de 5000 espécies. As variedades cultivadas e que crescem hoje, são maioritariamente derivadas de hibridização da planta original da cana, saccharum officinarun, originária da Índia. A primeira espécie cultivada foi S.sinense e S. Barberi no Norte da India e na parte Sul da  China. As outras espécies originárias, S.spontanium e S.robustum do género Saccharum são usadas somente pelos engenheiros genéticos nos trabalhos de Brinding (produção de novas variedades).
Alguns Historiadores dizem que foi em 510 Antes de Cristo, que o Imperador Darius do que era então Pérsia invadiu a Índia, enquanto outros dizem que foi Alexandre, que ao invadir a Índia no ano 327 Antes de Cristo,seus escribas notaram que os habitantes daquela zona mastigavam uma cana maravilhosa que mastigavam uma cana maravilhosa que “produzia uma espécie de mel sem ajuda das abelhas”. O segredo da cana de açúcar, como muitas outras descobertas do homem, foi mantido num secretismo muito bem vigiado, ainda que o produto acabado fosse exportado resultando grandes lucros. Desde da Ásia a cana passou para Africa e Espanha.
Foi principalmente a expansão dos povos árabes no sétimo século DC que conduziu a um rompimento do segredo. Quando eles invadiram Pérsia em 642 DC eles encontraram a cana-de-açúcar a ser cultivado e aprenderam como o açúcar era feito. A medida que a expansão foi continuando, eles árabes estabeleceram a produção de açúcar em outras terras que eles conquistaram inclusive Norte de África e Espanha. Na Espanha foi introduzida pelos Árabes, e a cana era cultivada nas regiões de Andaluzia. A partir desta época, as plantações cresceram e em 1150 já existia na Espanha, uma florescente industria açucareira.
Em 1419 foi estabelecido o cultivo da cana na Ilha de Madeira, começando neste mesmo tempo, em grande parte dos Açores, Canárias, Cabo Verde, etc.
O doutor E.W. Brandes estabelece que, a origem desta planta se remonta desde a 100 milhões de anos, tempo durante o qual se cré que existiu um grande continente Asiático-Australiano. Segundo este e outros investigadores, como E.D.Merril, existia no que hoje é Nova Guine, canas silvestres que foram transportadas a outras comarcas para o seu cultivo pelos habitantes da região, se produziram assim as primeiras migrações desta planta e se originaram vários centros de diversificação.
Nas novas regiões a cana evoluiu e adquiriu novas características. Assim pudemos observar que nas zonas de Polinésia até Nova Guine foram recolhidas diversas variedades de cana nobre Saccharum officinarum que era praticamente cultivada pelos nativos.
Toda a zona Norte da Índia foi encontrada um grupo de cana resistente ao frio Saccharum barberi amplamente distribuídas por esta região geográfica. Cresce um grupo de cana na China saccharum sinensis e outros grupos silvestres chamados Saccharum robostum e Saccharumespontaneum totalmente resistentes ou imunes as doenças. Através do cruzamento das variedades pertencentes a estes grupos, se conseguiu obter todas as variedades atuais de cana: canas híbridas.
Açúcar só foi descoberto por europeus ocidentais como resultado das Cruzadas no 11º Século Depois de Cristo. Cruzados que ao voltarem para casa falaram deste " novo tempero " que quão agradável era. O primeiro açúcar foi registrado na Inglaterra em 1099. Os séculos subsequentes trouxeram uma maior expansão do comércio entre a Europa ocidental e o Leste, inclusive a importação de açúcar. Por exemplo, é registado que o açúcar estava disponível em Londres a “dois xelins uma libra” em 1319 Depois de Cristo. Isto equivale a US$100 por quilo aos preços de hoje, de modo que o açúcar era um produto de muito luxo.
O descobrimento da América  e da Índia determinou uma nova etapa do desenvolvimento da produção açucareira. Cristóvão Colombo na sua segunda viagem, em 1493, trouxe cana ao continente Americano, Africano e a Espanha (hoje Santo Domingo). De Espanha, o Diego Velazque , levou a cana para Cuba. Nas viagens do Cristóvão Colombo e Vasco da Gama, traziam canas com eles. Assim se proliferou a planta da cana pelo mundo inteiro. O Vaso da Gama quando chega a Terra de boa gente, (hoje Inhambane), também trazia cana e assim em Moçambique foi introduzida a cana.
Por volta de 1545, o Brasil já dispunha de aproximadamente 25 engenhos espalhados de Pernambuco a São Vicente. Muitos, porém, não vingaram e, após a implantação do governo-geral, a produção tendeu a concentrar-se em Pernambuco e Bahia. Em 1570, essas duas capitanias reuniam 41 dos 60 engenhos do Brasil.

Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro - Marinha Grande - Portugal

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