“Do Leme ao Pontal. Nada Igual...”. É impossível se deparar com essa frase sem nos lembrarmos do saudoso Tim Maia que, entre tantas letras marcantes, eternizou essa verdadeira reverência à bela visão da orla carioca. O artista contemplou a beleza natural da Cidade do Rio de Janeiro que, hoje, embora permaneça soberana, infelizmente, sofre com os problemas crônicos das grandes metrópoles, dentre eles a poluição e agressão ao meio ambiente. Porém, outra questão é ainda mais complexa, que é a violência que constantemente mancha de sangue a imagem da cidade maravilhosa. Os recentes assassinatos em áreas nobres, como Lagoa, onde a facadas um ciclista perdeu a vida, e no Recreio, onde ao sair da academia uma mulher é morta a tiros, demonstra que de uma ponta a outra do Rio a realidade é igual.
Na semana passada, outra mulher, abordada no estacionamento do Shopping Via Parque, sofreu um sequestro relâmpago, ficando por mais de uma hora no poder dos bandidos. Portanto, ainda que repleta de novos empreendimentos, Barra e Recreio já sofrem o impacto da criminalidade crescente. Se antes essa era a realidade peculiar somente na Zona Norte e Baixada, hoje já não podemos dizer o mesmo, pois os paradisíacos bairros, com condomínios de luxo, sofrem com a falta da presença do Poder Público.
Em verdade, atualmente no Rio não há a delimitação territorial antes facilmente identificada como zona de perigo ou de risco. Como dizem os mais jovens, “estamos juntos e misturados”.
E concordo com aqueles que afirmam que segurança pública não é só polícia. Está na hora de parar com essa hipocrisia daqueles que tentam, por conta de uma visão limitada ou tendenciosa, jogar todo o ônus do atual cenário na conta do policiamento. O que estamos passando é um problema crônico e de ordem social. Algo muito mais abrangente, muito além da polícia.
A falta de investimento em cidadania, por exemplo, de uma formação sociológica e cívica desde a base fez com que chegássemos a esse estágio de distorção de valores morais. A má distribuição de renda é outro ponto que abala a sociedade, pois há pouquíssima gente com alto poder aquisitivo e muitíssima com baixo padrão de vida morando lado a lado, compartilhando as mesmas redes sociais, porém “navegando” em realidades totalmente diferentes, na qual a oportunidade de viver dignamente é a linha que os separa.
*Advogado criminalista