As perdas, não as derrotas, passam por um processo de cadaverização e são enterradas em mausoléus construídos pelas mãos do tempo. Perdemos muita coisa durante o trajeto, como um caminhão de carga conduzido de portas abertas, que vai deixando a mercadoria pela estrada.
Pensei assim, depois de ler matéria pela internet sobre a "guerra" entre os taxistas e o aplicativo Uber e, na sequencia, os comentários dos leitores. A maioria dizia-se a favor do aplicativo, a justificativa era que trazia mais opção de transporte. É verdade que a concorrência faz com que o serviço melhore, isso é uma lei básica de mercado, mas o que não podemos esquecer, e os leitores favoráveis não pensaram, é que os taxistas têm licença para exercerem suas atividades, pagam altas taxas à prefeitura para prestarem o serviço.
Um leitor mal informado escreveu que o aplicativo não paga para funcionar porque a internet é território livre e só utiliza o serviço quem quer. A internet não é livre para interferir nas leis, em legalizar o ilegal, mas tem gente que acha que naquele território tudo é possível. Nessa lógica até armas e drogas podem ser oferecidas nas redes.
Fiquei com o sentimento de que estamos perdendo a coletividade, a ideia de classe, a solidariedade. Pensamos no individual, no conceito errado do conforto a qualquer custo, sem pensar no outro. Por pior que seja o serviço, cabe ao órgão regulador fiscalizar, autuar e tomar as devidas providências, como fizeram com os ônibus e vans piratas.
Esse Uber não passa de pirataria travestida de aplicativo mal intencionado. A prefeitura precisa ser enérgica e coibir o serviço ilegal, ou, legaliza-lo para que, aí sim, a demanda tenha mais uma opção de transporte.
Ricardo Mezavila é escritor