Caros Amigos e Amigas,
Há um ano, a Étnica Comunicação e
Produção vem divulgando eventos sócio-culturais dos mais variados
ritmos, estilos e cores. Mas hoje, coloque-me aqui, apenas como mulher.
Apenas como uma mulher que traz na pele negra o orgulho do canto, da
tradição e da sabedoria da ancestralidade africana. E, de repente,
vejo-me paralisada, estarrecida com a crueldade e total promiscuidade
que a sexualidade da mulher angolana foi tratada no programa do Jô
Soares. E aí, não tem como fingir que não dói. Ainda mais se tratando
de uma comparação com o cabelo, quantas crianças sofrem nas escolas com
isto? Quantas de nossas irmãs já tiveram sérias complicações com
produtos químicos? Quantas entraram ou estão em depressão por causa
disto? Quantas têm vergonha do seu corpo e de seu crespo cabelo? As
pesquisas atestam, a mulher negra é base da pirâmide social, não
aparece em capa de revista, sua beleza e intelectualidade não são
ressaltadas e agora, até o direito de amar e sua sexualidade são
banalizados.
Realmente estou indignada, mas jamais desisto de lutar!
Antes tarde do que nunca!
Companheiras e Companheiros,
O Coletivo de Mulheres Negras do Rio de Janeiro nasce com esta missão: olhar para nós, envolta de nós e fora de nós.
Por este motivo, aguardamos durante todo este tempo a reação e a indignação de toda comunidade negra em atividade
sobre este desprezível ataque às tradições de nossas irmãs e irmãos angolanos, veiculado pela TV Globo no programa do Jô Soares.
Respeito aos mais velhos e a nossa tradição pautam nossas ações político-sociais. Por representarmos os novos tempos através de uma nova articulação conclamos às
instituições, ao movimento de Mulheres Negras, em particular, e aos ativistas, em geral, a cerrar fileiras com o Coletivo de Mulheres Negras do Rio de Janeiro , que entende a defesa da dignidade das mulheres negras do Brasil e do mundo enquanto compromisso ...
Antes tarde do que nunca. Sempre!
Saudações Negras Feministas
Vilma Piedade