Diante de um dos verões mais rigorosos dos últimos tempos, cuja sensação térmica em alguns dias ultrapassou os 50 graus, o desejo para que chova é quase uma unanimidade. Afinal, como se não bastasse a alta temperatura, estamos vivenciando a maior escassez de água que o país já sofreu nos últimos tempos. No entanto, no Rio de Janeiro, conhecido dentre outras coisas pelo clima quente, com muito calor e até pelas fortes chuvas de verão, a única coisa que tem caído do céu é bala perdida, fazendo novas vítimas e colocando a cidade maravilhosa nas páginas policiais de toda a mídia nacional e até internacional. Tudo isso as vésperas das "badaladas" olimpíadas.
Vale ressaltar que o Brasil é o segundo país da América Latina em casos de bala perdida e o aumento desse tipo de crime volta a ser uma realidade no Rio. A guerra de traficantes tem se intensificado em vários pontos da cidade, mesmo nas comunidades pacificadas e monitoradas pelas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Só nesse início de ano já foram quatro casos em menos de uma semana e, entre as vítimas, duas crianças.
Paralelamente, outras situações de violência, como assassinato de policiais, cidadãos mortos em assaltos mesmo sem reagir e arrastão nas praias também tem crescido fazendo a polícia rever estratégias e mudar o esquema de policiamento. Mesmo assim, o sentimento da população é de muita tensão, pois, de certa forma, vivíamos nos últimos anos a sensação de que havia uma tendência real de controle da violência e manutenção da ordem.
Enquanto todos nós nos chocamos com o fuzilamento do primeiro brasileiro condenado à pena de morte na Indonésia, episódio que fez a presidente Dilma apelar pela vida do rapaz pedindo clemência às implacáveis autoridades daquele país, por aqui nossos cidadãos têm sido cada vez mais abatidos à bala em plena luz do dia. Uma pena de morte não institucionalizada, na qual qualquer um pode ser a próxima vítima.
Infelizmente, no corredor da morte indonésio há outro brasileiro que terá dia e hora para ser executado. Mas por aqui, em cada grande capital, em cada quarteirão, somos milhões de brasileiros vulneráveis e propensos a aumentar uma estatística crescente. Tudo isso a qualquer momento ou em qualquer lugar, sendo alvo de disparos que surgem de qualquer direção, inclusive de cima pra baixo, do céu, onde no lugar de água, a chuva tem sido de bala.
* Advogado criminalista