Dois dos expoentes mais conhecidos da nova direita se indignaram com a participação de pregadores de um golpe militar nos protestos deste sábado, 15: Reinaldo Azevedo garantiu que, na capital paulista, a grande maioria dos participantes estava lá só para pedir o impeachment de Dilma, e não uma reditadurização do País; e Lobão foi embora quando notou a existência de faixas das vivandeiras de quartéis.
Sinceridade ou conveniência tática? Sei lá. Não serei eu a apresentar como verdades absolutas as minhas conjeturas -ainda mais quando estas se referem a personagens com os quais antipatizo. Vejo o ad hominem e as campanhas de satanização como duas das maiores pragas da internet, então tento ser justo com todos, até mesmo com os Azevedos e Lobões.
O certo é que o ingrediente verde-oliva só entra nas receitas golpistas no momento de levar a porcaria ao forno. Trata-se do toque final do chef. Então, quem fala nisso precocemente está sendo tão desastrado quanto quem vandaliza portas de editoras.
É gratificante perceber que as quarteladas se tornaram tão impopulares no Brasil que a própria direita tenta delas se dissociar.
Mesmo assim, não devemos baixar de todo a guarda. Salta aos olhos que a cartada do impeachment será tentada e tem chance de resultar. As hipóteses, então, serão três:
- o governo conseguir evitar que o impedimento seja votado pelo Congresso, o que manteria intacto o potencial nocivo desta bandeira e, pior ainda, levaria água para o moinho dos que defendem uma solução inconstitucional;
- o impeachment tramitar, ser votado e rejeitado, o que provavelmente desarmaria a bomba-relógio, garantindo a incolumidade do Governo Dilma;
- o impeachment ser aprovado, o que levaria ao poder Michel Temer, o qual dificilmente terá deixado sua digital impressa numa ilegalidade que justificasse também sua impugnação (é matreiro demais para isto e não responde pelos pecados alheios, como a presidenta).
Numa análise fria, as perspectivas são estas.
E eu insisto que a pior possibilidade possível é a do golpe de estado. No século passado, nossa primeira ditadura durou 15 anos e a segunda, 21. Depois de instaladas, é muito difícil as removermos. E o preço que por elas pagamos, do ponto de vista da civilização, é altíssimo. Equivale a retrocedermos um milênio, voltando ao absolutismo medieval.
Acredito que, como consequência da Operação Lava-Jato da Polícia Federal e de seu novo desdobramento (Juízo Final), bem como do que ainda está por vir, o Governo Dilma terá pouquíssima credibilidade se simplesmente driblar o desafio. Vai se tornar um morto-vivo, a exemplo de Guido Mantega, que está ministro da Fazenda mas há bom tempo deixou de ser visto, acatado e respeitado como tal.
Para o Brasil, o melhor será se a rejeição do impeachment colocar uma pedra em cima do assunto da conivência ou não de Dilma com a corrupção na Petrobrás; ou se a aprovação do impeachment desobstruir os trilhos para sairmos do limbo atual.
JUÍZO FINAL
RIU MELHOR QUEM RIU POR ÚLTIMO!
"[Quando se constatou que] havia alguma coisa de podre no reino da Petrobras, meu primeiro pensamento foi o calvário de um jornalista, meu amigo Paulo Francis. No programa que então fazia, gravado em Nova York, ele acusou os sobas que mandavam na maior estatal do Brasil.
Não chegou a citar nomes, falou que o estado maior da Petrobras, engenheiros, diretores e seus respectivos patronos formavam uma quadrilha de bandidos que roubavam descaradamente a empresa, justamente em sua cúpula administrativa e técnica.
Evidente que a 'suspeita' do Francis foi desmoralizada pela própria Petrobras, que usando e abusando do dinheiro da fraude, processou o jornalista por calúnia, no foro de um país que tem a fama de ser o mais severo na matéria. A multa chegaria a US$ 100 milhões, mais custas e honorários.
...A Petrobras, com o dinheiro dos outros, venceu a questão.
Paulo Francis entrou em depressão, tal e tanta, que meses depois morreu subitamente..." (Carlos Heitor Cony)
Celso Lungaretti, no seu blogue.