Leio no Estadão que as "áreas mais pobres da cidade (...) foram tomadas por uma aflição geral", temendo que a água termine de vez em São Paulo. E, como sempre, os moradores correram a policiarem uns aos outros:
"Em lugares como o Parque Cocaia, no extremo da zona sul, moradores, com auxílio de comerciantes e lideranças comunitárias, criaram até um 'código moral' para o uso do recurso. Eles avaliam que agora ninguém mais tem direito a desperdiçar 'nenhuma gota'.
Jovens passam o dia circulando de motos pelas vielas estreitas do bairro, chamando a atenção de quem é flagrado lavando calçada ou veículo".
Assim é o brasileiro: um inspetor de quarteirão em potencial, doidinho para ter uma chance de exercer sua otoridade sobre os iguais.
Nunca lhe ocorre que tais paliativos podem, no máximo, atenuar um tiquinho o problema.
Como São Paulo não é nenhum território independente, cabe ao Brasil encontrar uma solução real, obviamente desviando água de Estados dela menos carentes para socorrer os paulistas.
Mas, a terrível obtusidade e pequenez dos governantes faz com que o elástico seja esticado ao máximo, com risco de arrebentar na cara das criancinhas, dos idosos e dos inválidos. A racionalidade só virá depois da eleição. Até lá, os brasileiros de São Paulo estarão sendo tratados como reféns, pois seu desespero serve aos objetivos da mais ignóbil politicalha.
Os patrulhadores de vizinhos nunca voltarão o olhar para o alto. Sempre vão preferir aporrinhar e fustigar outros coitadezas, pois assim sentem-se menos coitadezas.
E, tão valentes quando se trata de baterem boca ou partirem para arranca-rabos com idênticos zé-manés, borram-se de paúra ante a perspectiva de confrontarem os poderosos e os governantes, sempre os maiores culpados pelos infortúnios que se abatem sobre estes tristes trópicos.
Por Celso Lungaretti, no seu blogue.