A tv Cultura de São Paulo, tem exibido aos domingos às 18 horas uma série de documentários sobre os índios que vivem no Parque do Xingu cujo título “Xingu, a terra ameaçada”, é sem sombra de dúvidas um dos melhores documentários que já assisti. Tenho acompanhado desde o primeiro e posso confessar que estou impressionado com o alto grau de profissionalismo de Washington Novaes em abordar tantas questões com relação aos habitantes daquele parque.
Nesse último domingo, 7 de outubro de 2007, o tema foi a relação dos homens brancos com os índios e como os principais chefes indígenas como, Raoni e Megaron (este, diretor da Funai), vêm a aproximação dos homens brancos.
Para Raoni, a aproximação não é muito boa, tendo em vista que muitos
índios morrem por ano, com as doenças dos homens brancos e esse tem
sido seu dilema, além do problema das terras indígenas que ainda não
foram demarcadas, e são constantemente invadidas pelos homens brancos.
Para Megaron, que vive entre brancos e índios, em alguns aspectos a
aproximação do homem branco tem seu lado positivo e negativo. Mas que
ele, apesar de tudo sabe distinguir os dois mundos em que vive, e não
perde o costume de dançar, caçar, e viver com seus irmãos, como um
índio.
Novaes chegou a questionar a Megaron o fato de que muitos índios
desejam produtos criados pelos homens brancos, como espingardas e
lanternas, mas ele nesse foi enfático quando disse que não se importa
em dar ou conseguir para seus irmãos as espingardas e as lanternas,
desde que, eles também saibam caçar com seus arcos e suas flechas.
Já um outro chefe indígena, Tabata (se não me engano), falou que tem
desejo de ver seus irmãos da tribo aprenderem os costumes do homem
branco, como sua língua, seus usos e costumes.
Esse pra mim é o grande dilema e grande problema, porque na matéria
exibida neste domingo, Washington Novaes mostrou uma tribo que
praticamente foi dizimada, e teve que mudar de suas terras face ao
progresso e a construção de uma rodovia. E essa tribo também sofreu
tanto com a aculturação que muitos deles perderam o significado dos
seus costumes, ritos e tradições.
O grande problema da demarcação das terras indígenas consiste nisso, em
dar-lhes a oportunidade de ter um lugar para viver em paz,
tranqüilidade, e principalmente serenidade. Isolados ou não da
civilidade humana, mas mantendo seus rituais e não perdendo a essência
de sua cultura.
Além disso, um dos momentos significativos para mim, em relação ao
documentário exibido pela TV Cultura de São Paulo e transmitido pela
ViaCabo, foi quando Megaron falou de sua cultura, e que era necessário
que seu povo aprendesse a falar como homem branco. Só que o índio em
sua pureza – e Raoni exemplificou muito bem -, vive condignamente
apesar dos pesares. Que em sua aldeia ou na aldeia das outras tribos
não há índio com mais posses do que outros. Todos compartilham seus
pertences. Todos falam a verdade, e a palavra dita e pronunciada é
mantida. Não há mentiras, não há falsidades, não há meias-palavras. E
“o índio ainda é gentil para com os visitantes”, foi uma das frases
pronunciadas por Washington Novaes, para mostrar como ele e sua equipe
estavam se sentindo ao viver no Parque do Xingu.
Ainda neste domingo, estive em Mineiros, localidade da Baixada
Campista, para encontrar uma anciã que conhecia o modo de fazer um doce
feito à base de farinha de mesa, o Fate. Infelizmente a notícia que
recebi não foi boa, a anciã, Alaíde Vital falecera há um ano, com 96
anos, de velhice.
Pior ainda do que isso é o fato de que duas de suas filhas sofreram com
doenças cardiovasculares, uma com “isquemia” e a outra um AVC. Ambas
sabiam como fazer o Fate, fato desconhecido por suas netas e bisnetas.
Essa aculturação é um grande problema que atinge a todos nós,
principalmente porque as pessoas que dominam os saberes, não tem como
deixar para a posteridade o seu legado, os seus conhecimentos, e a
indústria da mídia, e a indústria mercadológica acaba levando os nossos
jovens à práticas e vícios nocivos à nossa principal riqueza, a cultura.
Como pesquisador que sou do Nipec – Núcleo de Iniciação à Pesquisa
Científica em Comunicação tenho acompanhado esse problema de perto,
através do Mestre-Professor e Coordenador do Nipec, Orávio de Campos
Soares, que é um apaixonado pela arte e cultura popular em Campos dos
Goytacazes.
Não faz muito tempo ainda, estive acompanhando um trabalho sobre os
Quilombolas na localidade de Deserto Feliz, e ao perguntarmos sobre as
danças antigas como a Mana-Chica e o Jongo, à matriarca de uma
comunidade nos respondeu que a juventude de hoje só se liga em música
funk, mostrando dessa maneira a aculturação e a perda de uma tradição.
Cheguei a ler em algum lugar, que um país que perde a sua tradição e as
suas raízes históricas e culturais é um país fadado à morte. Até quando
iremos nos deixar vencer pela aculturação de nossas raízes?
Qual será o legado que deixaremos para nossos filhos e netos, quando
não queremos mais ouvir nossos pais e avós, sobre como era a vida deles
décadas atrás. Como foi viver em meio à crises financeiras, tirar um
presidente do governo, viver diante de uma ditadura militar que oprimia
a liberdade de expressão? Como era viver numa sociedade que ainda não
havia se rendido a indústria da mídia?
Espero e anseio que ainda haja tempo de revermos nossas posições e
possamos ainda ter um “dedo de prosa” com nossos filhos para contarmos
o que fizemos e como éramos felizes, e não sabíamos.
Até a próxima.
Paulo de Almeida Ourives.
é jornalista recém-formado pela Fafic.
PAULO DE ALMEIDA OURIVES
BIOGRAFIA
Sou natural do Rio de Janeiro, mas campista de coração, porque vivi toda a minha infância e adolescência nesta cidade. Mas também residi no Rio de Janeiro, Marataízes e Vila Velha, no estado do Espírito Santo.
Sou filho de jornalista, acompanhei de perto a carreira de meu pai, e o desejo de fazer comunicação social veio crescendo dentro de mim por instinto.
É bem verdade que foi a partir de 1990 que comecei a colaborar com meu pai, na edição da Revista Momento. Uma revista de variedades criada e publicada durante alguns anos na Grande Vitória. Nessa época, eu trabalhava na expedição da revista. Somente alguns anos depois, e posteriormente ao falecimento de minha genitora, é que passei a editoria da mesma, criando pautas, recebendo releases dos governos do estado, das prefeituras de Vitória, Vila Velha, bem como suas Câmaras Municipais e outras empresas como a Chocolates Garoto. Até que meu pai sofreu um AVC, e resolvemos finalmente em 1998, retornar para o Estado do Rio de Janeiro.
Mas foi somente neste século que o instinto voltou a carga, tanto que ao retornar para Campos dos Goytacazes, criei um jornal alternativo com o mesmo nome da revista capixaba, Momento. Desse jornal consegui publicar duas ou três edições até que tive a oportunidade de trabalhar para o Jornal A Cidade, onde atuei como repórter das editorias de Geral, Polícia, e fiz também algumas matérias de Esportes e Cultura.
Saí do jornal nove meses depois, para colocar novamente na praça o jornal Momento. Publicando apenas mais três edições e encerrando momentaneamente o projeto, face ao novo desafio, cursar comunicação social, na Faculdade de Filosofia de Campos.
Ao entrar para a faculdade, tive a oportunidade de participar do primeiro núcleo de pesquisadores do NIPEC – Núcleo de Iniciação à Pesquisa Científica em Comunicação, revivendo a trajetória do Coronel Ponciano de Azeredo Furtado, personagem criado por José Cândido de Carvalho, em “O Coronel e o Lobisomem”. Por dois anos, estivemos ampliando nossos horizontes em pesquisas de campo, buscando as referências e as reminiscências culturais da Baixada Campista, como as danças Mana-Chica, Jongo, Lanceiro, Mazurca, Fado; da arte, culinária como o desconhecido Fate, doce feito a base de farinha de mesa; e outros tipos de culturas.
Durante esse período e paralelamente as pesquisas do NIPEC, participei de congressos de caráter nacional, levando o conhecimento sobre a origem do “chuvisco”, doce conhecido no Brasil inteiro e que dá fama à cidade de Campos, além dos projetos sobre o marketing político no carnaval campista e o último, “Os Milagres de Santo Antônio Casamenteiro”.
Ainda como membro do Nipec, participei durante dois anos de um projeto sobre a vida de Zé Gamela e a literatura de cordel, além de outros trabalhos de campo, como o encontro de populações de descendentes dos Quilombolas.
Enquanto graduando de Comunicação tive a oportunidade de atuar como estagiário em Assessoria de Comunicação e Imprensa, para o Asilo de Nossa Senhora do Carmo, para o pré-candidato do PMDB e atual deputado federal, Geraldo Siqueira Pudim; e para o Rotary Club Campos São Salvador - no ano do centenário do Rotary Internacional. E ainda como estagiário da Rádio Educativa FM na qualidade de redator-noticiarista; na Hemeroteca da Faculdade, e finalmente no controle-mestre da Unitv, emissora de televisão universitária, que é um laboratório para todos os graduandos em Comunicação Social.
Paulo de Almeida Ourives, 45 anos.
Bacharel em Jornalismo.
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