INTRODUÇÃO
Existe na cidade de Macaé um trecho da Rua Alfredo Backer, compreendido entre Marechal Deodoro e Conde de Araruama, onde, com os devidos quarteirões anexos, não só foi palco da minha infância como também de um outro tanto de garotos, sem contar os de diferentes lugares que ali vinham brincar com o nosso grupo, pois, aquele pedaço de rua tinha lá um carisma todo especial!
A geografia também ajudava bastante: tinha o viradouro da estação ferroviária, o campinho do seu Juca, as mangueiras da casa de dona Maria, a vala da estação, uns dois campinhos de futebol, a linha ferroviária com as suas devidas manobras, as incursões ao assombrado Monte Elíseo, e mais um tanto de outras coisas.
Não só éramos levados como também criativos nas peraltices e, com todo o carinho de um adulto saudoso, o meu agradecimento especial a alguns daqueles pais que eram detentores de uma enorme paciência. Hoje, entendo essa paciência como uma inesquecível manifestação de carinho, pois, essas casas eram os lugares onde mais atuávamos. O meu profundo agradecimento a todos esses que ficaram em meu coração de menino, e também àqueles que, por qualquer motivo, não foram lembrados: - Dona Alda e Seu Joãozinho, Dona Lourdinha e Seu Zé Ribeiro, Dona Natales e Seu Landor, Dona Emilinha, Dona Luxa, Seu Hipólito, Dona Itaíra, Dona Iaiá, Dona Venina, Dona Neném, tia Moema, Dona Nair e tantos outros que também entendiam as nossas necessidades de sermos levados. Precisávamos queimar as energias que eram produzidas por uma especial felicidade infantil e tão sem maldades.
Uma dessas lembranças e que me é tão cara.
A PRIMEIRA TELEVISÃO
Lembro-me, como se fosse hoje, do meu primeiro contato com uma máquina de diversão chamada – televisão! Ao lado de nossa casa moravam uns vizinhos muito especiais chamados: Dona Lili e Seu José Henrique. Ali funcionava a primeira garagem do Rápido Macaense, e esta companhia de ônibus pertencia à citada família. Tivemos também o prazer de sermos vizinhos do CAFÉ SÃO JOÃO, que também a eles pertencia e funcionava no mesmo local. Consigo, até hoje, me lembrar do cheirinho do café quando estava sendo torrado, passava certeiramente pela copa de nossa casa e alcançava o nariz da minha mãe que dizia com entusiasmo: - Vai lá comprar um pacote de café porque está saindo agora! E como éramos bem atendidos pela Romilda!
Mas, retornando ao planeta TELEVISIVUS e às minhas distantes recordações, eles foram os primeiros da rua a comprarem um desses aparelhos e, Dona Lili, com seu pequeno tamanho e bondade imensa, ligava para a casa de minha mãe (tel-349) e a intimava a mandar-nos até a casa dela para que assistíssemos ao Circo do Arrelia e desenhos do Pica-Pau. Depois, lembro que o Seu Landor (pai de Fred) também comprou um desses aparelhos e encontramos um segundo lugar para vermos também: Falcão Negro, Mike Nelson, Zorro e tantos outros programas em um encantador preto e branco absorvido totalmente pelos nossos olhares infantis.
E, depois de um bom tempo de filações, veio uma para a minha casa: - enorme e pesada, da marca EMERSON! Tão cheia de figuras aventureiras como as outras, e foi uma festa!
Eu gostaria muito que a Dona Lili e o Sr. José Henrique recebessem o carinho das minhas recordações como se fosse uma prece de agradecimento por estes inesquecíveis momentos de minha infância. Como é bom relembrar estas pessoas que tivemos o privilégio de compartilhar, lado a lado como bons vizinhos, esta estada no planeta. Que Deus os ilumine cada vez mais! Aquele abraço, maior do que o do Gilberto Gil!
Como tantos outros grandes vizinhos que também tivemos nesse pedaço de rua. Ainda moro nele e, a cada um que vai indo embora, vai ficando uma horrível sensação de solidão e saudade. Meus queridos vizinhos!
Luiz Cláudio Bittencourt