O PATRÍCIO MINO ME VÊ COMO "RUDE" E "IGNARO". CONFESSO: SOU MESMO PLEBEU. COM ORGULHO!

Não jogo xadrez há alguns anos, mas tenho espírito de enxadrista. Gosto de encarar desafios.

Vem daí meu interesse por polêmicas, principalmente sob o ângulo da estratégia e tática adotada pelos contendores.

Grandes polemistas foram: 

  • Karl Marx, que, em Miséria da filosofia, fez picadinho de Pierre-Joseph Proudhon e seu livro Filosofia da miséria. O velho barbudo era simplesmente brilhante, mas tinha o defeito de amiúde exceder-se na virulência. Não deveria ter antagonizado de forma tão exacerbada um contendor do campo da esquerda, tratando-o pior do que aos inimigos de classe;
  • Paulo Francis, que travava muitas e ganhava quase todas, tendo feito com a feminista Irede Cardoso exatamente o que Marx fez com Proudhon (passou como um trator por cima dela):
  • Roberto Campos, menos dado ao sarcasmo e às alfinetadas que os outros dois, mas capaz de esgotar totalmente os assuntos sobre os quais discorria, deixando os adversários num mato sem cachorro, impotentes para responderem à altura.

Humildemente admito que ainda estou muito longe desses três modelos. Mas, a voz corrente é de que me sai bem contra Marcelo Paiva (que não era propriamente um adversário, mas sim um companheiro que estava muito mal informado a meu respeito) e Olavo de Carvalho (este sim um antípoda ideológico, a quem, contudo, respeitei demais, apenas voltando contra ele os ataques que me lançava, quando deveria é ter-lhe virado um caminhão de melancias em cima, pois hoje percebo que jamais passou de um tigre de papel).
Uma polêmica totalmente desequilibrada é a que está em curso entre Mino Carta e Demétrio Magnoli, cujos textos são os seguintes (clique p/ abrir):

Embora considere indesculpável a arrogância com que o MC me excluiu à última hora de uma matéria de capa da Carta Capital depois de eu haver desperdiçado horas e horas falando à sua repórter e posando para seu fotógrafo, e também o deplorável papel de caçador de bruxas que desempenhou no Caso Battisti, confesso que neste sábado, ao tomar conhecimento do tiro de misericórdia com que Magnoli o despachou, cheguei a sentir dó dele.
Não bato em bêbados, crianças, mulheres, deficientes físicos, idosos e, enfim, em ninguém que seja incapaz de se defender (mesmo bichos...). A lista, a partir de agora, passa a incluir o MC. Não o desafiarei mais, como vinha fazendo, na esperança de puni-lo exemplarmente pelos episódios acima citados.
Por quê? Porque, depois de vê-lo reduzido a pó de traque pelo Magnoli, percebo que não haverá mérito nenhum em repetir o massacre. Seria, isto sim, uma covardia.
A menos que, como no filme Wild Bill (d. Walter Hill, 1995), houvesse um jeito de colocá-lo em igualdade de condições. Bill Hickock (Jeff Bridges), desafiado a travar tiroteio com um cadeirante (Bruce Dern), pede para ser atado a uma cadeira. Mas, como em polêmicas isto é impossível, esquece!
O que não implica passar batido pela bílis que MC, em seu descontrole, venha a expelir sobre mim. Como estas pessimamente traçadas (ridiculamente empoladas) linhas:
"Raymundo Faoro, amigo fraterno e companheiro de algumas aventuras, recomendava: 'Não exagere em ironias, eles acham que você fala sério'. Eles, os privilegiados rudes e ignaros. Digamos, os Magnolis e quem acredita neles, e quem os divulga (grifo meu, já que se trata de uma óbvia alusão a este artigo)".
Não aceito, evidentemente, a pecha de divulgador do Magnoli. Na verdade, o que fiz foi dar o máximo de quilometragem ao editorial que o dito cujo desencavou nos arquivos da veja: aquele no qual, por ocasião do sexto aniversário do golpe de 1964, MC proclamou sua admiração incondicional pelos militares, chegando ao cúmulo de louvar os esforços dos fardados no combate à corrupção e à subversão!!! [A alegação de que se tratava de ironia é um insulto à nossa inteligência...] 

Isto também era ironia?

Privilegiado?! Esta é a última acusação que me pode fazer quem atravessou a ditadura a pão-de-ló, enquanto eu comia o pão que o diabo amassou. 

Rude e ignaro?! É exatamente como os patrícios costumavam se referir à plebe na Roma antiga. Freud qualificaria tal escolha de palavras de ato falho. Já o homem da rua diria que MC, narcisista a ponto de levar a sério o apelido louvaminhas de 'imperador', se entregou, deixando perceber quais são realmente suas devoções.

Quanto a mim, jamais aspirarei a ser algo além de plebeu, filho de um honrado operário da Mooca. Mesmo assim, certos aspirantes a uma condição aristocrática que não é de berço (pois ascenderam à sombra do poder, qualquer poder) têm uma paúra imensa de enfrentar meus argumentos rudes e ignaros. Por que será?

     * Plebeu, jornalista, escritor e ex-preso político. http://naufrago-da-utopia.blogspot.com 

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