Em tempo, de Armando Barreto

RUANDA, REPÚBLICA E FERNANDO HENRIQUE
Neste mês de abril faz 20 anos que, em apenas três meses, cerca de 800 mil pessoas, homens, mulheres, jovens e crianças da etnia tutsis foram massacrados em Ruanda por seus inimigos hutus, sob os olhares omissos da ONU.

Essa explosão de ódio entre negros africanos habitantes de um mesmo país, que chocou o chamado mundo civilizado, tem por trás a perversidade do branco europeu, os belgas colonizadores disseminando um preconceito com base em características físicas para dividir e manter o poder. Antes da independência em 1959, os hutus já vinham sendo rejeitados por apresentar traços físicos que os diferenciavam dos tutsis, mais claros, altos  e feições delgadas, enquanto aqueles mais baixos, nariz achatado e pele mais escura.  A ignorância levou as etnias a entrar nesse jogo, que ainda  não conseguiram superar esse ódio provocado, que dormita como um vulcão  temporariamente silenciado.

A rejeição à cor negra no Brasil é também fato histórico, vem desde quando o escravo era visto e usado pelos colonizadores como um semovente, uma espécie de burro de carga, um ser desprovido de alma, bom para o trabalho duro, uma atividade vista como algo degradante, vil, uma forma de desonra àqueles que detinham  e exerciam o poder econômico e o controle social.

Diante disso, seria bom que a imprensa brasileira não alimentasse tanto a questão das cotas para negros, já que milhões de brancos também estão à margem do desenvolvimento social em razão das políticas de governo que vêm desde a Velha República. E é pertinente pensar no que diz o escritor Laurentino Gomes: - “É quase impossível entender o Brasil de hoje  sem estudar as três datas (1808-1822-1889) que marcaram a construção do Estado brasileiro durante o século XIX”.  E, para arrematar, é ele que também que nos dá esse histórico nexo causal: - “Vocês fizeram a República que não serviu para nada. Aqui agora, como antes, continuam mandando os Caiados” (Capitão Felicíssimo do Espírito Santo Cardoso, bisavô do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em telegrama enviado de Goiás ao filho, Alferez Joaquim Inácio, que ajudara a proclamar a República em 1889). Este Inácio Cardoso, avô de Fernando Henrique, então com 29 anos, ao planejar o golpe, propunha o fuzilamento de Pedro II, assustando Benjamin Constant, que o chamou de sanguinário. Por ironia da história, o neto presidente Fernando Henrique, mais de um século depois, teve como aliado o deputado Ronaldo Caiado, ex-presidente da União Democrática Ruralista (UDR) contra o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), que reivindicava reforma agrária. Como se vê, as famílias  continuam aí mandando. 

AÉCIO X DILMA
Apoiado pelo Partido da Imprensa Golpista (PIG), o candidato do PSDB Aécio Neves, que só fala em mudança e ainda não tem  nenhuma proposta concreta explícita, continua pegando pesado, “tratando o governo Dilma como incompetente, corrupto e perto do fim”. O Jornal Nacional fala sobre a queda da popularidade da presidente e omite dado da pesquisa que mostra o senador patinando nos 16 pontos percentuais.

E POR FALAR NESSA IMPRENSA
Veja como ela explora o lado negativo em tudo que o governo faz, sempre colocando o país como um dos piores do mundo. Agora, dá eco às críticas da imprensa estrangeira, como o inglês Financial Times, que coloca a economia brasileira como um fracasso. Mas foram a Europa e os Estados Unidos que entraram em colapso. Mas veja o que diz o jovem arquiteto alemão Ranier Hehl, com doutorado pela Universidade de Zurich, sobre a urbanização das favelas do Rio: - “Nas favelas, 60% das comunidades pertencem à classe C. É uma surpresa ver que, no Brasil, finalmente é possível ter essa composição mesmo em lugares tradicionalmente mais pobres”.

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