A BOLSA DE VALORES E A PRESIDENTE
A oposição e o “Partido da Imprensa Golpista” estão festejando a queda de popularidade da presidente Dilma Rousseff, segundo pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria, em parceria com o Ibope. O colunista Merval Pereira, do Globo, chega a dizer que “se a reeleição de Dilma for inevitável, os mercados reagirão de mau humor, fazendo a Bolsa despencar e o dólar subir, como aconteceu com Lula em 2002...”.
Como se vê, o mercado financeiro e sua irmã siamesa Bolsa de Valores, têm, para essa turma, uma “personalidade” muito sensível, que pode reagir com mau humor e até mesmo desbancar o prestígio de uma presidente que não se afina com seus negócios estranhos. E ao perceber essa tendenciosa exploração jornalística, lembro-me do famoso economista Mário Henrique Simonsen, numa matéria de Elio Gaspari (ainda no Jornal do Brasil – 11/2001), sob o título “O homem que não lia ficção”. Geisel e seu novo ministro da Fazenda estavam no Rio de Janeiro falando sobre as dificuldades do momento (janeiro de 1974), a crise do petróleo, a inflação alta e a baixa taxa de crescimento, quando a conversa resvala para o mercado de capitais. Simonsen, profundo conhecedor desse ambiente, foi direto: - “Se o senhor quiser moralizar em cinco minutos o mercado de capitais, tem que transformar aquele pedaço da Praça 15 em presídio”. Era onde a Bolsa e muitos dos seus operadores faziam a festa financeira.
Em resumo, para a imprensa golpista e falaciosa de hoje, o mercado de capitais e a Bolsa de Valores ganham um novo status, o poder de elevar ou fazer cair o nível de avaliação de um presidente da República. Mas, com disse a economista Maria da Conceição Tavares, “ninguém come PIB”, nem mesmo o povão se preocupa com a Bolsa de Valores e o mercado financeiro, coisas da elite, antro de capitalistas que dormem e acordam pensando em enriquecimento.
JUPITERIANOS EM CASIMIRO DE ABREU
Foi em 1980, ainda na ditadura, quando chegou a Casimiro de Abreu um misterioso forasteiro contando uma estória que, de tão fantástica, deixou o prefeito Célio Sarzedas fascinado e sua população agitadíssima diante da expectativa de que realmente uma nave, vinda de Júpiter, a cerca de 600 milhões de distância, pousaria numa fazenda na periferia da cidade, em local escolhido e precisamente em oito de março daquele ano. Edilson Barbosa, o nome dele, em sua delirante ficção, dizia ser “mensageiro de Júpiter”, conseguindo convencer o prefeito da então pacata cidade de 22 mil habitantes, que logo começou a tomar providências para receber tão importantes visitantes galácticos, certamente ainda sob influência do filme de Steve Spielberg (1977) “Contatos imediatos de terceiro grau”.
Mesmo sem o poder de comunicação do celular, que ainda não havia, a notícia se espalhou como rastilho de pólvora. Nunca se viu tantos veículos na BR-101 congestionada tentando chegar à entrada da fazenda e ainda percorrer quatro quilômetros de apertada estrada de barro, onde havia um belo vale que foi o local escolhido pelos jupiterianos, segundo Barbosa. Havia gente do mundo inteiro, até pesquisadores da Nasa, figuras com vestimentas exóticas, barbudões silenciosos e com fisionomias misteriosas contemplando o céu estreladíssimo, religiosos que acreditam em ET`s, em outras civilizações mais adiantadas, apontando luzes percorrendo o espaço, mas que não passavam de aviões.
Diante da repercussão, o presidente da Telerj determinou que a Região de Operações Campos desse suporte técnico ao evento. O técnico Luiz Omar Amério Monteiro e eu fomos designados para supervisionar o serviço junto ao pessoal de Macaé, que teve árduo trabalho para espichar fios e levar orelhões, por longa distância, mato a dentro mato até onde se concentravam muitos jornalistas, ávidos para enviar notícias aos seus jornais. Quando passávamos com o carro amarelinho da Telerj pela estradinha, os “viajantes” no delírio do tal Barbosa, gritavam alegremente: - “ Olha, a nave vai pousar mesmo, até a Telerj está aqui!”.
O cenário era belo, uma multidão de cerca de 10 mil pessoas sentadas numa aba de morro olhando, silenciosamente, o vale logo abaixo e à espera de brilhante luz de uma nave a surgir no estrelado céu. Cineastas brasileiros, com fixação em nudez e tragédias nordestinas, perderam a chance de filmar aquela multidão e daí fazer um bom roteiro, porque assunto e cenário não faltavam. Mas, às cinco da manhã, frustração e irritação geral, a ponto de Barbosa ter que sair no camburão da PM para não ser linchado. Centenas de jovens que para lá foram a pé, desceram o morro correndo para pegar carona num trem que passava. Algazarra geral, um espetáculo! Se foi uma jogada de marketing do prefeito Célio não sabemos, mas Casimiro ganhou fama internacional, sem precisar gastar dinheiro com propagandas.
1º DE ABRIL
Uma data bem a propósito com o que aconteceu ao longo de 21 anos que viriam de bocas amordaçadas, torturas, mortes e, ao final, a redemocratização representada num desfecho surreal: Sarney na Presidência, um velho colaborador do regime que os militares tanto queriam.
Como presidente da Federação dos Estudantes de Macaé, numa época agitada por jovens politizados e engajados na luta por um Brasil melhor, enquanto que hippies optavam pelo fumo, sexo e vida livres, numa de paz e amor, despojando-se do consumismo alimentado pelo capitalismo americano, eu e meu secretário Adolfo Lírio Peixoto, faltando oito meses para o golpe, estávamos elaborando a reforma dos estatutos da FEM. Depois do expediente, lá íamos nós para o escritório de Contabilidade do seu irmão Jerônimo, que ficava em frente à Praça Washington Luiz. Não havia computador, mas uma novidade que quase ninguém ainda possuía, uma máquina de escrever elétrica, muito sensível ao peso de nossos dedos acostumados à minha velha Remington. O trabalho estava bem adiantado e certamente iria causar barulho.
Em dezembro de 1963, organizamos um Natal dos Pobres. No momento em que começamos a distribuir os produtos obtidos em campanha pela cidade, eis que, muito apressado, sobe ao segundo pavimento de nossa antiga sede um sargento do Exército procurando pelo presidente da entidade. Ao me identificar, o sargento foi logo dizendo: - “O comandante Costa Braga mandou um material para entregar ao senhor, que está lá no caminhão”. Quando olhei a carroçaria, fiquei assustado. Centenas de calças, gandolas e coturnos do quartel para doar aos pobres. Simpático à luta dos camponeses, certamente ele esperava que esse material seria muito útil. Mas o golpe veio e o culto comandante, com quem já havia batido longo papo sobre a história da humanidade, perdeu o posto e nosso estatuto, que propunha uma interação com o sofrido homem do campo, foi para o brejo.