Encarei o teto por alguns minutos. Derramadas ali, minhas angústias manchavam aquela superfície branca e lisa de gesso. Elas escorriam... e pingavam em mim.
Rolei para o lado. Bem que esses problemas podiam grudar nos lençóis e soltar de vez de meu corpo cansado.
Mas não. Eles levantaram comigo e acompanharam meu cambaleado sonolento até a cozinha.
O cheiro do café perfumava aquela manhã e a calma com que eu preparava o desjejum me fazia acreditar que estava vivendo as primeiras horas de um descompromissado sábado. Era bom fingir que acreditava naquilo.
O dia se exibia por trás da janela. Flertei por alguns segundos com aquele exuberante céu. Indeciso, ele ainda não havia resolvido que cor preencheria sua imensidão. Meu coração apertou.
Senti vontade de lamentar.
A poucas horas dali, uma cadeira me esperava no escritório. Todo dia, a necessidade me algemava àquele lugar.
Senti meus problemas me cutucarem no ombro. Havia esquecido por valiosos instantes que eles estavam ali.
“Que inconveniência”, pensei, a testa franzida e o peito cheio de reclamações.
Fechei a cara e o dia. Enquanto me preparava para sair, coloquei o guarda-chuva na bolsa.