Isso não significava que ela não sentisse saudade dele. Como sentia!!! Suas palavras escritas revelavam isso, um pulsar de dor de saudade em cada parágrafo, mesmo que disfarçado em pontadas de sorrisos, esboços de felicidade.
Ele estava distante. Ela, que acreditava em liberdade, deixava que ele impusesse essa separação entre eles. Começava a pensar que existia dúvida e medo nele, e deveria respeitar isso. Assim, mantinha uma distância respeitosa e um silencio cordial.
Novamente ela mergulhara em um sentimento que sequer tivera tempo de analisar, simplesmente pulara nele, sem proteção. Um perigo para alguém que, na última tentativa, quase perdera a vida. Ela sorriu, e daí? A vida foi feita com fim, então, viver o melhor possível era o objetivo. O fim viria mesmo...
Só que ela sentia falta dele, das palavras de carinho, dos pequenos momentos, das conversas complicadas pela diferença de idiomas. Ela sentia falta da voz, do sorriso e das covinhas. Sentia falta até dos silêncios. O que fazer? Nada, ela não podia fazer nada. Sabia desde o começo que se metia num buraco complicado, um labirinto de contradições, uma espécie de incerteza certa. Mas...
Bem, ela estava escrevendo. Ele estava trabalhando. Ela não falava com ele. Ele não falava com ela. Tudo bem. Esse silencio poderia ter tantos significados. Ela sabia muito bem que não deveria dar os seus, fizera isso antes e criara a maior confusão.
No entanto, era inevitável pensar: "ele se arrependera", "ele voltara ao porto antigo".. e todas as baboseiras que alguém com saudade pensa...
Ela sorri, olha pela janela, chove, uma tempestade de inverno. Agora o sorriso permanece, é, sua alma esta sofrendo uma tempestade de inverno também..
(Diário de uma Mulher)