Várias crianças no acampamento de Abala estão desnutridas. Foto: William Lloyd-George/IPS
Bamaco, Mali, 26/7/2012 – Uma farinha enriquecida, cujo principal ingrediente é o milho, constitui o elemento fundamental de uma resposta local e sustentável à desnutrição em Mali. Na cidade de Kati, 15 quilômetros a nordeste da capital, uma dezena de mulheres trabalha processando o grão cultivado na localidade para produzir a “Misola”. A iniciativa Misola, criada pela organização francesa de mesmo nome, é um projeto de saúde pública que tem o objetivo de reduzir a desnutrição infantil.
“Compramos milho, o ingrediente básico da farinha enriquecida que produzimos, de comerciantes da cidade”, contou Ramata Traoré, encarregada do centro de produção de Kati. A farinha contém 60% de milho, 20% de soja e 10% de amendoim. Além disso, são adicionadas vitaminas e sais minerais para obter um alimento balanceado que atende às deficiências nutricionais conhecidas.
A procura pela farinha aumenta em Mali devido à má colheita da última safra. A desnutrição é um problema grave neste país semiárido da África ocidental, onde a segurança alimentar foi prejudicada pela seca dos últimos anos, situação que piorou com a rebelião tuaregue no norte. O Ministério da Agricultura disse, em dezembro do ano passado, que a colheita nacional fora de apenas cinco milhões de toneladas de grãos, bem menos do que os oito milhões previstos.
“A atual crise alimentar aumenta o risco de desnutrição em várias regiões de Mali, como Kayes (sudoeste), Koulikoro e Segou (sul)”, alertou Aminata Sissoko, especialista em nutrição da Cruz Vermelha neste país. E a ocupação de três regiões no norte, Kidal, Tombuctu e Gao, por grupos islâmicos rebeldes do Movimento Nacional para a Libertação de Azawad (MNLA) só agravou a situação, acrescentou. “Não podemos chegar às áreas controladas pelos grupos armados para avaliar as necessidades. Contudo, ajudamos os refugiados da guerra com farinha Misola”, disse à IPS.
Uma em cada cinco crianças no país sofre desnutrição, segundo Abdulaye Sangho, coordenador do capítulo da Misola em Mali. “Somos uma organização que apoia as produtoras de farinha Misola”, destacou à IPS. “Nosso objetivo é melhorar a nutrição da população, focando especialmente nas crianças entre seis e 60 meses e em grávidas e mulheres que estão amamentando”, detalhou.
A primeira fábrica de Misola em Mali foi criada em 1993, na localidade de Diafarabé. A iniciativa rapidamente se ampliou e hoje há dez pequenas unidades de elaboração dispersas por todo o território, salvo em Kidal. O projeto ultrapassa as fronteiras nacionais. De fato, a produção de farinha enriquecida começou em 1982 em Burkina Faso. Também é produzida em Benin, Níger e Senegal. Todas as organizações produtoras de Misola têm algo em comum. “As mulheres que participam dos projetos também promovem melhores práticas alimentares onde moram e organizam demonstrações em centros de saúde ou outros lugares públicos”, explicou Sangho.
“Aos sete meses, meu filho estava muito doente e fraco. E eu não sabia que o problema era a desnutrição. Me dei conta disso em uma demonstração de Misola no mercado”, contou a vendedora de especiarias Assetu Traoré. Ao capacitar as mulheres para produzir farinha e promover seu consumo nas comunidades, a organização Misola gera consciência sobre uma boa nutrição e o conhecimento para consegui-la. Em um jardim de Kati, Traoré e suas companheiras espalham o milho lavado várias vezes, com extremo cuidado, para que seque sobre uma lona ao sol.
“Como o alimento que produzimos se destina às crianças, damos muita atenção à higiene”, acrescentou, explicando porque ninguém pode entrar no armazém de grãos usando sapatos. Chata Mariko, enfermeira de um centro de saúde de Bamako, disse à IPS que os medicamentos recomendáveis para a desnutrição são fácies de adquirir. “Um envelope desses alimentos não custa mais do que 500 francos CFA (equivalente a um dólar). Infelizmente, há pais que não trazem seus filhos a tempo”, lamentou. Envolverde/IPS
(IPS)