Futuros médicos ignoram riscos e engrossam estatísticas de fumantes no país

Estudo revela que jovens universitários, que sonham em salvar vidas, não se preocupam com sua própria saúde aderindo ao tabagismo

Estudo sobre a prevalência do tabagismo em universitários da área de saúde, realizado na cidade de Passo Fundo, no estado do Rio Grande do Sul, apontou ainda um alto índice de tabagismo entre os futuros médicos, revelando a urgente necessidade de estratégias preventivas e de cessação do tabagismo mais eficazes para os jovens brasileiros, particularmente os que se preparam para as profissões da saúde.

Em 2007, 316 alunos - com em média 22 anos de idade - da Faculdade de Medicina da Universidade de Passo Fundo participaram do estudo respondendo a um questionário com perguntas sobre o consumo e atitudes relacionadas ao tabagismo e foram classificados em fumantes diários, fumantes ocasionais, ex-fumantes e não-fumantes.

Dr. Luiz Carlos Corrêa da Silva, professor-titular de Pneumologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Passo Fundo e membro da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) é um dos responsáveis pelo estudo que apontou que 5,1% dos pesquisados eram fumantes diários e 11,2% eram fumantes eventuais; sabe-se que estes últimos terão mais de 50% de chance de se tornarem fumantes diários.

"A prevalência é relativamente baixa em comparação com outras faculdades de medicina do país e do exterior, mas nossa expectativa seria de que nenhum acadêmico de Medicina atualmente fumasse mais, uma vez que sua opção profissional e seu acesso às informações sobre os riscos do tabagismo são crescentes nos últimos anos", explica dr.
Corrêa da Silva.

Para ele, especialmente no caso de jovens universitários da área da saúde, falta no processo educativo maior incorporação de atitudes e mais atuação de campo junto à população.

Além da falta de políticas públicas, o médico pneumologista afirma que existem outros fatores que acabam incentivando principalmente jovens e adolescentes ao hábito de fumar.

"A indústria já percebeu que o adolescente tem grande vulnerabilidade e fez dele um de seus principais focos de negócio na promoção do tabagismo", afirma.

Segundo ele, os jovens são movidos, especialmente, por influências de amigos, pela sensação de poder ou até mesmo para contestar os mais velhos e as regras.

"A atração pelo risco, a sensação de aparentar ser ‘mais velho' e a combinação do cigarro com a bebida alcoólica, além da mídia promovida pela indústria do tabaco, são outros fatores que atraem esse público ao primeiro cigarro."

Providências

Dr. Corrêa da Silva aponta algumas sugestões para que esse quadro seja revertido. A maioria delas é referente à indústria de tabaco e à política que vem sendo aplicada sobre o assunto até então.

"É preciso, em primeiro lugar, comprometer mais o setor político, que ainda está muito dependente da indústria do tabaco. Uma das principais medidas será aumentar os preços dos produtos derivados do tabaco".

Ainda sobre políticas públicas, dr. Corrêa da Silva alerta sobre os perigos do tabagismo passivo e sugere "estabelecer com mais consistência a política de proteção aos não fumantes, particularmente as crianças".

Outras medidas fundamentais são campanhas educativas aplicadas sistematicamente para a população, que precisa de informação sobre o assunto.

"O governo precisa reconhecer, de uma vez por todas, que o risco de adoecimento do tabagista é muito elevado, e a conta a ser paga futuramente é sempre superior a qualquer arrecadação", alerta.

"O Brasil aderiu à Convenção Quadro da OMS - o maior Tratado Internacional para Controle do Tabagismo - como política de Estado, e isto precisa ser assumido efetivamente pelas lideranças como uma obrigação do setor político para com os cidadãos brasileiros", finaliza.


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