Consumo de mais de um refrigerante por dia – diet ou não – está associado ao aumento dos fatores de risco para doenças cardíacas, indica estudo norte-americano
Agência FAPESP – O hábito de beber mais de um refrigerante por dia, mesmo que em versão "diet", pode estar associado a um aumento dos fatores de risco para doenças cardíacas, de acordo com pesquisa realizada por uma equipe do Instituto Framingham, nos Estados Unidos. O estudo foi publicado na revista Circulation, da Associação Norte-Americana do Coração.
"Entre os que bebem um ou mais refrigerantes diariamente há uma
associação com um maior risco de desenvolver a síndrome metabólica", disse o
autor principal do estudo, Ramachandran Vasan, pesquisador do instituto e
professor da Escola de Medicina da Universidade de Boston.
A síndrome
metabólica é um aglomerado de fatores de risco para doenças cardiovasculares e
diabetes, incluindo excesso de circunferência abdominal, alta pressão sangüínea,
triglicerídeos elevados, baixos níveis de lipoproteína de alta densidade (o
"colesterol bom") e altos níveis de glucose em jejum. A presença de três ou mais
desses fatores aumenta o risco do aparecimento de diabetes ou doença
cardiovascular.
"O mais impressionante foi o fato de o risco aumentar
tanto para quem consome refrigerantes diet quanto para os que tomam a versão
normal", disse Vasan.
De acordo com o pesquisador, estudos anteriores
ligavam o consumo de refrigerantes a múltiplos fatores de risco para doença
cardíaca, mas, pela primeira vez, foi demonstrado que a associação incluía
também os refrigerantes com adoçantes artificiais.
O estudo teve como
base observações feitas com 9 mil pessoas de meia- idade durante quatro anos em
três ocasiões diferentes. Os pesquisadores concluíram que os indivíduos que
consumiam um ou mais refrigerantes por dia apresentavam um aumento de 48% na
prevalência da síndrome metabólica em comparação aos que consomem
menos.
Considerando apenas os pacientes livres da síndrome metabólica –
6.039 dos indivíduos observados –, o consumo diário de um ou mais refrigerantes
foi associado com um risco 44% maior de desenvolvimento da síndrome durante um
período de quatro anos.
Os cientistas observaram que os participantes que
beberam mais de um refrigerante por dia tinham chances 31% maiores de
desenvolver obesidade, 25% mais risco de ter triglicerídeos elevados e 32% mais
propensão de apresentar baixos níveis de colesterol bom. O risco de
desenvolvimento de síndrome metabólica aumentou de 50% a 60%.
"Os
resultados aparentemente não tiveram interferência dos padrões dietéticos dos
usuários de refrigerantes, isto é, por outros itens que são tipicamente
consumidos com essas bebidas", disse Vasan.
Os pesquisadores ajustaram as
análises em relação ao consumo de gordura saturada, de gordura trans, fibras
alimentares, taxa calórica total, consumo de tabaco e atividade física. "Mesmo
assim, observamos uma associação significativa do consumo de refrigerantes com o
risco de desenvolvimento da síndrome metabólica", destacou.
Uma
explicação possível para o fenômeno é que o xarope de frutose de milho nos
refrigerantes causaria ganho de peso e poderia levar ao diabetes. "Mas, nesse
caso, fica difícil explicar por que as versões 'diet' não apresentaram
diferença", disse Vasan.
Outra hipótese é que o maior consumo de líquidos
estaria associado com um grau mais baixo de compensação alimentar. Normalmente,
segundo o pesquisador, quem come muito em uma refeição tende a comer menos na
próxima. "Mas os líquidos não têm o mesmo grau de compensação dos sólidos.
Portanto, se você bebe uma grande quantidade de líquidos em uma refeição, tende
a beber tanto quanto na próxima", explicou.
Outra tese é que os
refrigerantes, em versão "diet" ou não, são altamente adocicados. Isso poderia
fazer com que a pessoa ficasse mais propensa a consumir doces. Ou, ainda, que o
caramelo dos refrigerantes poderia promover o desenvolvimento de complexos de
açúcares – que, por sua vez, poderiam resultar na resistência à insulina,
causando inflamação.
"São teorias que precisam ser estudadas. Nossa
pesquisa teve caráter observacional e, embora tenhamos demonstrado a associação,
ainda não provamos que há uma relação de causa e efeito", disse Vasan.
O artigo Soft drink consumption and risk of developing cardiometabolic risk factors and the metabolic syndrome in middle-aged adults in the community, de Ramachandran Vasan e outros, pode ser lido por assinantes da Circulation: Journal of the American Heart Association em http://circ.ahajournals.org.
(Envolverde/Agência Fapesp)