A indústria da doença no USA

Aqui no USA, a poderosa indústria médico-farmacêutica "doa" cerca de 2 milhões de dólares por dia aos grandes grupos políticos de pressão que infestam os poderes públicos. Ela tem razões inequívocas para exercer uma pressão incoercível junto ao governo para que tudo continue como está no setor do atendimento médico para os estadunidenses, isto é, um caos.

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Dono de um sistema desumano e atroz, o serviço médico atendido por planos de saúde controlados por empresas comerciais (caríssimos e fora do alcance da maior parte da população) deixa de prestar atendimento a cerca de 50 milhões de pessoas (o equivalente a população da Argentina) que não têm plano de saúde, sem contar com os imigrantes 'ilegais' (mais ou menos 12 milhões) que preferem morrer doentes a revelar sua presença em solo ianque.

Diga-se de passagem que o próprio cidadão que tem condições financeiras para comprar um plano de saúde esbarra em mil e uma exigências contratuais, que quando precisa dos serviços médicos, invariavelmente o enviam a uma clínica particular (com custos extras elevadíssimos) acumulando uma conta não muito raramente impossível de ser quitada e que acaba sendo paga pelo governo.

Aliada incondicional e imprescindível para a complementação desse verdadeiro assalto, a indústria farmacêutica está mancomunada com os planos de saúde e médicos, e os dois setores conjuntamente compõem uma indústria diabólica, que obtém lucros incalculáveis a custa da precária saúde de um povo basicamente hipocondríaco, apavorado pelo medo de morrer sem o direito de ter um leito hospitalar, remédios e pelo menos um enfermeiro ao seu lado.

Se um estadunidense da pequena burguesia (proletário nem se fala) cai doente de repente, ele é atendido no serviço de emergência de um hospital. Mas seguramente, se ele escapar da morte, vai à "falência pessoal" (existe isso no USA), porque jamais conseguirá pagar a conta astronômica que o hospital vai lhe apresentar.

Sentindo na pele

Eu mesmo sou vítima desta realidade, pois há mais ou menos 4 anos, recém chegado ao USA, fui acometido de um ligeiro problema cardíaco, resolvido com atendimento inicial na emergência, mais 3 dias de internamento hospitalar e alguns exames de rotina. Quase tive de ser internado novamente dias depois pelo susto que passei ao receber a conta: quase 18 mil dólares! Fui salvo por um seguro que tinha no Brasil, que garantia atendimento médico em viagem num limite de 4 mil e quinhentos reais, os quais foram devidamente engolidos por uma conta hospitalar. O saldo restante certamente foi pago pelo governo ianque, como sempre acontece, quando me declarei estrangeiro e sem a mínima possibilidade de pagar.

Para mostrar um só exemplo da atuação dos monopólios, os representantes da indústria farmacêutica propuseram — noticiado pelo jornal Huffington Post — um "acordo secreto" com o governo oferecendo uma redução de custos dos remédios fornecidos a este mesmo governo num montante de 80 bilhões de dólares. A proposta (até agora) não foi aceita, mas só pelo astronômico valor oferecido como desconto já se tem uma idéia do quanto eles lucram no fornecimento de remédios ao poder público.

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Outra informação que serve como exemplo do lucro absurdo dos planos de saúde médico-hospitalares se deu recentemente através do ativista Robert Greenwald, da Brave New Films, que apontou os lucros do principal executivo da United Healthcare, Stephen Hamsley, somente em 2009: 4 milhões de dólares por semana, ou 800 mil dólares por dia, ou 102 mil dólares por hora. Também é interessante citar o já famoso ativista, cineasta e jornalista Michael Moore, cujo filme "Sicko" (doença) percorreu o mundo e apresenta um verdadeiro libelo contra o sistema de saúde ianque, apontando-o como um dos piores do mundo.

Se orgulhar de quê?

A esse respeito, já é de conhecimento geral uma realidade bastante desagradável para a nação que se auto-intitula a primeira do mundo, onde (segundo palavras do próprio Obama) morrem cerca de 50 pessoas todos os dias por falta de um seguro médico, e que se classifica em último lugar numa lista de países industrializados, ficando atrás de Austrália, Inglaterra, Canadá, Alemanha e Nova Zelândia. Até Cuba, com todas as limitações estruturais e econômicas (impostas desde 50 anos atrás pelos próprios ianques) tem um sistema de saúde superior em qualidade e absolutamente gratuito para todos seus cidadãos.

A verdade é que, além da crise econômica (que a imprensa enganosa insiste em dizer que está diminuindo) temos aqui no USA um eminente colapso de outro setor da economia que atinge profundamente o social: o sistema nacional de saúde pública, já há muito tempo transformado totalmente em lucrativo negócio por grupos que visam unicamente o lucro, como manda a cartilha capitalista.

A previsão dos gastos do governo com a saúde pública é de chegar a médio e longo prazo a 3,5 trilhões de dólares, o que quer dizer o equivalente a cerca de 16% das riquezas produzidas pelo país, até porque o preço dos planos de saúde subiu numa velocidade quatro vezes mais rápida que os salários nos últimos 6 anos, e o estadounidense atualmente vê sumir da sua mão com gastos de saúde 16 centavos de cada dólar que vai para o seu bolso.

Mas a maioria da opinião pública acha que Obama já está começando a mostrar a sua cara ao ceder à pressão dos grandes monopólios, porque seu discurso começa a ficar menos duro na suposta pretensão de "socializar" o sistema de saúde, tendo o governo como pagador único. Como se já não fosse o governo que bancasse quase a totalidade dos gastos (privados) com a saúde, gastos estes que são super-faturados e que segundo as previsões deverão inviabilizar o atendimento nesta área daqui a mais ou menos 10 anos, a continuar as coisas como estão.

Neste verdadeiro "imbróglio" que se tornou a reforma sanitária aqui no USA, tudo por culpa de instituições médico-hospitalares e farmacêuticas, que jogam com a vida dos seus cidadãos para se locupletar com lucros fabulosos, um fato pitoresco chamou a atenção:

Entre os manifestantes da instituição social "Des Moines Catholic Work" (Iowa) que questionavam numa reunião pública um alto executivo da empresa Wellmark Blue Cross/Blue Shield um deles queria saber a todo custo quanto era o salário do executivo que defendia com tanto entusiasmo a manutenção da atual política de saúde. A certa altura, por estarem tumultuando a reunião, vários ativistas foram colocados para fora e presos, inclusive aquele que insistia em querer saber o quanto ganhava o executivo.

O nome do ativista preso pela polícia: Frankie Hughes.

Sua idade: 11 anos...
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