Cresce o número de casos de Aids entre os jovens

Um relatório divulgado pelo Programa das Nações Unidas para a Aids (Unaids), em julho deste ano, indicou que o número de novas infecções pelo vírus HIV entre 2001 e 2007 caiu 10% na população mundial. A taxa passou de 3 para 2,7 milhões. Porém, o mesmo documento revelou que a doença está se espalhando com força entre os jovens: 45% dos novos casos foram notificados em indivíduos de 13 a 24 anos. Paradoxalmente, a quantidade de informações ao alcance dos jovens sobre a doença é cada vez maior.
No Brasil, segundo o Ministério da Saúde e o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), que realizaram uma pesquisa entre os anos 1998 e 2005 com 5 mil pessoas, o número de casos de contágio na juventude cresce desde o início da pandemia, em 1980. Para o diretor-adjunto do Programa Nacional de DST e Aids do Governo Federal, Eduardo Barbosa, a explicação para isso é que, hoje, os jovens parecem ter menos medo de contrair a doença do que gerações passadas.

"Os jovens desta geração não viveram a fase inicial, na década de 1980, quando havia uma exposição de casos problemáticos e dramáticos, como o do Cazuza", diz Barbosa. "O problema é que a Aids ainda é vista como a doença do outro, ou seja, ninguém acredita que vai ser contaminado pelo vírus. Além disso, ela não mata como fazia nos anos 80 e existe tratamento para viver com ela", acrescenta.

No entanto, pesquisas de comportamento sexual mostram que 94% dos jovens brasileiros, independentemente do sexo, faixa etária ou escolaridade, sabem que o preservativo previne de forma eficaz a transmissão do vírus. Segundo a Unaids, no mundo, em 1986, apenas 9% dos jovens afirmavam que usavam camisinha continuamente. Em 1998, o número subiu para 49%. Em 2005, 60% dos garotos e garotas no mundo já estavam usando o preservativo nas relações sexuais.

Porém, Barbosa acredita que ainda falta uma tomada de atitude que gere uma mudança de comportamento. "Os jovens devem entender que uma doença de transmissão predominantemente sexual, com vírus circulante na população, qualquer pessoa que tenha relação sexual desprotegida pode estar em risco de se infectar pelo HIV".

Conforme informações do Instituto Internacional para o Desenvolvimento da Cidadania (IIDAC), quase 50% das infecções no mundo acontecem na população jovem. Apesar das inúmeras campanhas e programas, apenas 40% dos jovens homens e 36% das jovens mulheres no mundo têm acesso à informação sobre prevenção de qualidade. Segundo a assessora executiva do instituto no Brasil e responsável pelo programa Voz dos Adolescentes, Beatriz Caitana da Silva, outro fator determinante é a frágil educação familiar e escolar - e ainda a condição social -, que em alguns lugares afeta o acesso aos preservativos.

Segundo um relatório divulgado em 2006 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de um terço de todas as pessoas vivendo com HIV na América Latina moram no Brasil. Em 2005, estimou-se que 620 mil de pessoas viviam com HIV no país. Em agosto deste ano, no entanto, durante a Conferência Internacional de Aids, no México, percebeu-se que o Brasil, comparado a outros países, está bastante avançado.

"No Brasil vem sendo discutido o papel dos jovens na luta contra a doença, a participação da sociedade civil, enquanto muitos outros países ainda não têm acesso à informação, aos medicamentos e tratamentos adequados", explica Beatriz que foi ao evento como representante da IIDAC Brasil. "Quanto às demandas propostas pelos jovens durante a conferência, foi pedido mais respeito, mais acesso à informação e capacitação e mais investimentos para a faixa etária", acrescenta.

Educação sexual nas escolas

De acordo com uma pesquisa realizada em 2007 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), com 135 escolas públicas brasileiras das cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, João Pessoa, Rio Branco e Curitiba, 89,5% dos estudantes de 13 a 24 anos e 63% dos pais concordam na distribuição de preservativos nas escolas.

Para o coordenador da Unaids no Brasil, Pedro Chequer, porém, a educação sexual deve ser iniciada bem antes dos 13 anos, e sim, aos 7. "É nessa idade que a criança começa a questionar coisas e a ficar exposta a riscos. É fundamental que o processo educacional seja iniciado antes de chegar à adolescência: dentro da escola, mas com uma abordagem adequada", sugere.

Educação sexual na escola e mais informação aos adolescentes são posturas necessárias para a prevenção contra a doença, mas não são suficientes. Para Beatriz Caitana, uma postura mais responsável e pró-ativa do jovem é essencial para a segurança do indivíduo. "Se a Aids está presente no mundo, e mata milhares de pessoas, nós jovens precisamos assumir a co-responsabilidade", diz.

Para ela, "jovens que vivem com o vírus do HIV devem tomar ações de ativismo e protagonismo juvenil, articulados com outros adolescentes e jovens que desenvolvem algum tipo de ação na sua comunidade. A educação de pares é uma metodologia fundamental neste sentido, pois propõe que adolescentes eduquem uns aos outros, compartilhando suas idéias e experiências de ação".

Cresce o número de garotas infectadas

Inicialmente concentrada entre homossexuais do sexo masculino, a pandemia, logo em seguida, englobou usuários de drogas injetáveis e finalmente atingiu a população em geral, com um número cada vez maior de mulheres infectadas.

Estima-se que até hoje, no Brasil, 93% das mulheres com Aids foram infectadas em relações heterossexuais. Para os especialistas, Paulo Chequer e Eduardo Barbosa, uma grande proporção das infecções entre mulheres possa ser atribuída ao comportamento de seus parceiros sexuais masculinos.

Segundo Barbosa, na faixa etária de 13 a 24 anos de idade, desde 1998, observa-se que há mais meninas com Aids do que meninos.

Hoje, 36% das mulheres de 16 a 24 anos dizem não se lembrar de usar o preservativo na hora da relação. 30% dizem confiar no parceiro e, por isso, não usam camisinha. "O item 'confiança no parceiro' indica a dificuldade das mulheres de negociarem o uso do preservativo com os parceiros", avalia Barbosa. Para ele, esses dados demonstram que quando o tema é sexo o "machismo prevalece". E acrescenta, "ainda temos muitos desafios pela frente. Nosso desejo é que os jovens tenham informações suficientes para decidir com consciência sobre suas práticas sexuais".


(Envolverde/Aprendiz)
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