"Os jovens desta geração não viveram a
fase inicial, na década de 1980, quando havia uma exposição de casos
problemáticos e dramáticos, como o do Cazuza", diz Barbosa. "O problema é que a
Aids ainda é vista como a doença do outro, ou seja, ninguém acredita que vai ser
contaminado pelo vírus. Além disso, ela não mata como fazia nos anos 80 e existe
tratamento para viver com ela", acrescenta.
No entanto, pesquisas de
comportamento sexual mostram que 94% dos jovens brasileiros, independentemente
do sexo, faixa etária ou escolaridade, sabem que o preservativo previne de forma
eficaz a transmissão do vírus. Segundo a Unaids, no mundo, em 1986, apenas 9%
dos jovens afirmavam que usavam camisinha continuamente. Em 1998, o número subiu
para 49%. Em 2005, 60% dos garotos e garotas no mundo já estavam usando o
preservativo nas relações sexuais.
Porém, Barbosa acredita que ainda
falta uma tomada de atitude que gere uma mudança de comportamento. "Os jovens
devem entender que uma doença de transmissão predominantemente sexual, com vírus
circulante na população, qualquer pessoa que tenha relação sexual desprotegida
pode estar em risco de se infectar pelo HIV".
Conforme informações do
Instituto Internacional para o Desenvolvimento da Cidadania (IIDAC), quase 50%
das infecções no mundo acontecem na população jovem. Apesar das inúmeras
campanhas e programas, apenas 40% dos jovens homens e 36% das jovens mulheres no
mundo têm acesso à informação sobre prevenção de qualidade. Segundo a assessora
executiva do instituto no Brasil e responsável pelo programa Voz dos
Adolescentes, Beatriz Caitana da Silva, outro fator determinante é a frágil
educação familiar e escolar - e ainda a condição social -, que em alguns lugares
afeta o acesso aos preservativos.
Segundo um relatório divulgado em 2006
pela Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de um terço de todas as pessoas
vivendo com HIV na América Latina moram no Brasil. Em 2005, estimou-se que 620
mil de pessoas viviam com HIV no país. Em agosto deste ano, no entanto, durante
a Conferência Internacional de Aids, no México, percebeu-se que o Brasil,
comparado a outros países, está bastante avançado.
"No Brasil vem sendo
discutido o papel dos jovens na luta contra a doença, a participação da
sociedade civil, enquanto muitos outros países ainda não têm acesso à
informação, aos medicamentos e tratamentos adequados", explica Beatriz que foi
ao evento como representante da IIDAC Brasil. "Quanto às demandas propostas
pelos jovens durante a conferência, foi pedido mais respeito, mais acesso à
informação e capacitação e mais investimentos para a faixa etária",
acrescenta.
Educação sexual nas escolas
De acordo
com uma pesquisa realizada em 2007 pela Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), com 135 escolas públicas brasileiras
das cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, João Pessoa, Rio Branco e
Curitiba, 89,5% dos estudantes de 13 a 24 anos e 63% dos pais concordam na
distribuição de preservativos nas escolas.
Para o coordenador da Unaids
no Brasil, Pedro Chequer, porém, a educação sexual deve ser iniciada bem antes
dos 13 anos, e sim, aos 7. "É nessa idade que a criança começa a questionar
coisas e a ficar exposta a riscos. É fundamental que o processo educacional seja
iniciado antes de chegar à adolescência: dentro da escola, mas com uma abordagem
adequada", sugere.
Educação sexual na escola e mais informação aos
adolescentes são posturas necessárias para a prevenção contra a doença, mas não
são suficientes. Para Beatriz Caitana, uma postura mais responsável e pró-ativa
do jovem é essencial para a segurança do indivíduo. "Se a Aids está presente no
mundo, e mata milhares de pessoas, nós jovens precisamos assumir a
co-responsabilidade", diz.
Para ela, "jovens que vivem com o vírus do HIV
devem tomar ações de ativismo e protagonismo juvenil, articulados com outros
adolescentes e jovens que desenvolvem algum tipo de ação na sua comunidade. A
educação de pares é uma metodologia fundamental neste sentido, pois propõe que
adolescentes eduquem uns aos outros, compartilhando suas idéias e experiências
de ação".
Cresce o número de garotas
infectadas
Inicialmente concentrada entre homossexuais do sexo
masculino, a pandemia, logo em seguida, englobou usuários de drogas injetáveis e
finalmente atingiu a população em geral, com um número cada vez maior de
mulheres infectadas.
Estima-se que até hoje, no Brasil, 93% das mulheres
com Aids foram infectadas em relações heterossexuais. Para os especialistas,
Paulo Chequer e Eduardo Barbosa, uma grande proporção das infecções entre
mulheres possa ser atribuída ao comportamento de seus parceiros sexuais
masculinos.
Segundo Barbosa, na faixa etária de 13 a 24 anos de idade,
desde 1998, observa-se que há mais meninas com Aids do que meninos.
Hoje,
36% das mulheres de 16 a 24 anos dizem não se lembrar de usar o preservativo na
hora da relação. 30% dizem confiar no parceiro e, por isso, não usam camisinha.
"O item 'confiança no parceiro' indica a dificuldade das mulheres de negociarem
o uso do preservativo com os parceiros", avalia Barbosa. Para ele, esses dados
demonstram que quando o tema é sexo o "machismo prevalece". E acrescenta, "ainda
temos muitos desafios pela frente. Nosso desejo é que os jovens tenham
informações suficientes para decidir com consciência sobre suas práticas
sexuais".
(Envolverde/Aprendiz)