Geraldo, meu amigão, é como você tivesse me surpreendido com uma amante, não é ? Imagina se a Candinha sabe disto. Logo agora que foi eleita presidente da Liga dos Vegetarianos. Mas também que hora que você tem que aparecer. Esta hora as churrascarias são alcovas. Só tem gente se escondendo.
Particularmente esse negócio de não comer carne vermelha mexe muito conosco, os gastrenterologistas. Os vegetarianos e afins só comem carne de quem se opõem a eles. São feras e têm argumentos imbatíveis, tipo, meu sobrinho só ficou bom do câncer de pulmão quando parou de comer carne; a voz de meu neto só engrossou depois que ele parou de comer carne, meu avô só recuperou a potência depois que parou de comer carne e por aí vai.
Nunca fui contra a carne vermelha. Nunca me arrependi disto. Pelo contrário, tenho até feito bons amigos com esta postura. Chego até a usar clinicamente a carne vermelha em algumas situações, como certas gastrites e diarréias, como potente elemento de estímulo à formação do ácido clorídrico, quando necessário. Um bifinho de filé mignon, duas a três vezes por semana, pode curar muita coisa.
Estas idéias passaram pela minha cabeça porque recebi esta semana um magnífico suplemento do Gastroenterology, muito bem escrito pela Margaret Kay, uma das editoras da Revista, com opiniões bem parecidas com as minhas. Passo a enumerar, de forma sucinta, as que achei mais interessantes:
1) Politicamente, parece incorreto dizer que a carne vermelha faz bem, mas é verdade. Ela contém elementos de grande valor nutritivo, como proteína, ferro, zinco e elementos do complexo B. Não é fácil conseguir quantidades equivalentes destes nutrientes em outras fontes;
2) Várias pesquisas de peso mostraram que a saúde dos vegetarianos não é melhor do que a dos viciados em carne vermelha. O que acontece é que os vegetarianos, com aquele sentido de purgação, fazem mais exercícios físicos, não fumam, não bebem, dormem mais cedo, cuidam mais do peso y otras cositas más;
3) Para manter adequados teores de saúde, principalmente na manutenção de ferro, zinco, vitamina B e mesmo proteínas, os vegetarianos acabam tendo que usar suplementos dietéticos sintéticos, tendo que sair do esquema natureba que tanto preconizam;
4) Estudos feitos na Universidade de Johns Hopkins mostraram que dependendo do corte da carne de boi, suas características são absolutamente equivalentes a da carne dita branca;
5) A carne vermelha menos gordurosa tem incomparável valor para o desenvolvimento muscular das pessoas mais idosas.
Termino eu dizendo, se fomos criados com o delicioso prato de bife com batatas fritas, para que contrariar a natureza ? Abaixo os castelos de farelo! Um viva aos castelos de farofa!
Geraldo Siffert Junior
(MÉDICO – Gastrenterologista)
(Rio de Janeiro, RJ)