Washington, 2 de junho (Terramérica) - Os mercadores do tabaco apontam cada vez mais sua mira para a juventude, mesmo sabendo que o tabagismo é a principal causa evitável de morte no mundo. A multimilionária indústria do cigarro desenvolve campanhas publicitárias e de mercado altamente sofisticadas para pegar a juventude em suas garras. Por isso, dedicamos a comemoração do Dia Mundial Sem Tabaco, neste 31 de maio, a combater a nefasta rede promotora do tabagismo.
Pesquisas mostram que a maioria dos fumantes adquiriu o vício antes dos 18 anos. De fato, uma grande quantidade, a quarta parte desse grupo, começou a fumar antes dos dez anos. Quanto mais cedo se prova pela primeira vez o tabaco, maior a probabilidade de se transformar em um consumidor regular, já que a nicotina tem grande poder de viciar, e é menor a probabilidade de deixar o consumo. Por esta razão, a indústria do cigarro age intensamente sobre a juventude.
De seu ponto de vista, há uma razão multimilionária para isso.
Mas é macabra. Recordemos que o tabaco mata entre um terço e a metade dos
fumantes, e que essas mortes encurtam a vida, em média, em 15 anos. Além disso,
o tabagismo provoca enormes custos adicionais sobre nossos sistemas de saúde,
que poderíamos destinar a outros problemas sanitários. Por suas características
demográficas, nossa região é mais vulnerável ao ataque da rede promotora do
tabaco. Das pessoas entre 10 e 24 anos de idade, 85% vive em países em
desenvolvimento, que se convertem em alvo principal dessa mortífera indústria,
que necessita pegar a juventude para manter seus lucros de dezenas de milhares
de milhões de dólares anuais.
A exposição direta ou indireta às
estratégias publicitárias e de mercado usadas pela indústria do setor aumenta a
experiência dos jovens com o cigarro, com o conseqüente risco de se
transformarem em consumidores habituais. São numerosas as vias diretas e
indiretas para promover o hábito de fumar. Desde a televisão, as revistas e o
rádio, até a Internet e a mala direta, passando por pôsters, outdoors, cupons,
entrega de prêmios e vinculação de marcas com produtos que não contêm tabaco.
Sem deixar de lado o paradoxo do patrocínio de esportes, nem o desenvolvimento
de atos especiais em lugares populares para jovens, como bares e clubes. O que
for, para pegá-los.
Frente a um ataque desta magnitude, é imperativo que
nossos países se defendam com energia para ter uma juventude livre do tabaco.
Proibir todas as formas de publicidade direta e indireta, incluindo a promoção
de seus produtos e o patrocínio por parte da indústria do tabaco de qualquer
tipo de atividade seria uma medida altamente eficiente nesse propósito. Apenas
uma proibição total e ampla pode reduzir efetivamente o tabagismo. Estudos
feitos em países que proibiram a publicidade mostraram uma queda do consumo de
até 16% como resultado dessa medida, e também é claro que as proibições parciais
têm pouco ou nenhum impacto, já que os anúncios simplesmente migram para meios
alternativos.
Para comemorar o Dia Mundial Sem Tabaco, temos que
convencer os legisladores a adotarem uma proibição integral por lei de toda
forma de publicidade, promoção e patrocínio dos derivados do tabaco. Devem estar
conscientes de que as políticas voluntárias não funcionam, pois a indústria do
setor não tem o menor interesse nelas e não são uma resposta aceitável para
proteger o público, especialmente os jovens, das táticas dos promotores do
tabagismo.
Na OPS, continuaremos lutando para que a região das Américas
aumente o número de Estados partes do Convênio Marco da Organização Mundial da
Saúde para o Controle do Tabaco. Neste momento, é a região do mundo com menor
porcentagem de países que ratificaram esse Convênio, apenas 23. O último foi a
Colômbia, no dia 10 de abril de 2008. Chamamos os jovens, a sociedade civil e o
público em geral a participarem desta luta por uma juventude livre de tabagismo
e que solicitem dos encarregados de tomarem decisões políticas que proíbam a
publicidade, a promoção e o patrocínio dos derivados do tabaco. Defendamos a
vida, vamos proteger os jovens e as crianças, vamos romper a rede promotora do
tabagismo.
* A autora é diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (OPS). Direitos exclusivos Terramérica.