Aids, a doença esquecida

Bruxelas, 17/12/2007 – A Aids se converteu na "doença esquecida" da União Européia, segundo Markos Kypiranou, comissário de Saúde deste bloco de 27 países. "A pandemia da síndrome de deficiência imunológica adquirida foi alvo de campanhas "agressivas" nos anos 90, com slogans como "Não morra na ignorância", disse Kyprianou, mas, depois, toda uma geração de jovens não recebeu as mesmas mensagens. A "falta de conhecimento" sobre a doença entre os jovens veio à luz através de pesquisas, acrescentou. Alguns acreditam que não precisam se preocupar com a aids, outros não sabem como é transmitida e pensam, de forma errada, que se pode pegar Aids por compartilhar um copo ou beijar uma pessoa portadora do HIV (vírus da deficiência imunológica humana, causador da Aids).

 


Kyprianou contou aos membros do Parlamento Europeu na semana passada que a visita a uma escola pelo dia Mundial de Luta Contra a Aids, no último dia 1º, foi revelador. Os alunos com os quais se reuniu "sabem que a melhor forma de se proteger é usando camisinha", mas, "têm muita vergonha ou são muito tímidos" para comprá-las, acrescentou. pelo menos 760 mil cidadãos da União Européia são portadores do HIV, segundo os últimos dados da Organização das Nações Unidas, e o número de infecções aumenta desde 2002. Na Europa e Ásia central, a quantidade de portadores do vírus duplicou nos últimos seis anos, de 1,25 milhão para 2,4 milhões de pessoas. Em 2005, foram diagnosticados na UE quase 27 mil novos casos de HIV.

A Aids ocupa um lugar prioritário na agenda política do bloco, mas a Comissão Européia, seu órgão executivo, carece de poder para adotar todas as medidas necessárias para combater a doença, disse Kyprianou. A responsabilidade em matéria de políticas de saúde foi guardada zelosamente pelos governos dos países-membros. O eurodeputado conservador britânico John Bowis disse que cerca de 2,3 milhões de meninos e meninas têm HIV no mundo e um terço deles morre antes de seu segundo aniversario.

Mais de 15 milhões de menores de 18 anos perderam um ou os dois pais devido à Aids. É possível que esse número chegue a 20 milhões até o final desta década. "O grau de conhecimento básico a respeito, na Europa, diminui há cinco anos, enquanto os mitos e os mal-entendidos aumentam", disse Bowis. "Um em cada cinco não sabe que o vírus pode ser transmitido pelo sexo sem camisinha", disse. Bowis também se mostrou preocupado com a situação das pessoas que tiveram negado seus pedidos de asilo e são portadoras do vírus, porque isso significa que não recebem tratamento médico.

Eurodeputados socialistas lançaram uma campanha para que o imposto sobre valor agregado (IVA) que incide no preço da camisinha seja comum em toda a União Européia. Na Dinamarca e Suécia, este imposto é de 25%, o maior do bloco, enquanto na Irlanda é de 21%. Os socialistas também pediram revisão da variação do IVA quando em 2008 for analisado o sistema desse imposto no bloco. Além disso, pedem que não se aplique mais que o mínimo legal de 5%. A Grã-Bretanha decidiu há pouco tempo retirar essa cobrança dos preservativos, que era de 17.5% a 5%.

"Há milhões de pessoas com HIV/Aids no mundo", disse o eurodeputado socialista holandês JanWiersma. "Porém, muita gente não quer falar disso porque tem a ver com sexo". As campanhas de informação devem adotar um enfoque "quanto mais audaz, melhor", segundo o eurodeputado democrata-cristao alemão Hlger Krahmer. Já oeuro deputado italiano de esquerda Vitrorio Agnoletto queixou-se porque, segundo disse, esperava "propostas muito mais concretas e pragmáticas" por parte da Comissão Européia do que as apresentadas até agora.

O órgão executivo da UE, disse Agnoletto, deve pressionar para que seja obrigatória a educação sexual nas escolas dos países-membros. O deputado também expressou sua precupaçao porque os direitos de propriedade intelectual sobre medicamentos utilizados para combater a aids os tornam muito caros para os doentes, especialmente nos países pobres. As gigantes do setor farmacêutico procuram conseguir patentes de 20 anos, como norma, para os novos anti-retrovirais, acrescentou.

As terapias anti-retrovirais reduzem a carga de HIV no organismo, retardando o avanço da ais e prolongando ávida. Agnoletto também questionou o apoio que os laboratórios receberam do comissário de Comércio da UE, Peter Mandelson. No último verão, Mandelson enviou uma carta de protesto ao governo tailandês reclamando da quebra de patentes farmacêuticas para garantir que pessoas pobres com aids e outras doenças possam ter acesso e medicamentos genéricos, mais baratos.

A Aids é "um dos flagelos do século XX", ressaltou o eurodeputado socialista francês Pierre Schapira, elevar o acesso a medicamentos é vital, ressaltou, pois é sabido que os doentes de aids geram resistência a alguns deles e precisam contar com os últimos remédios disponíveis. Não se deve incluir nenhuma disposição nos novos acordos comerciais que limite a possibilidade de os países renunciarem à quebra de patentes quando devemlidar com uma situação urgente de saúde pública. (IPS/Envolverde)

(Envolverde/ IPS)

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