As artistas mais destacadas atualmente são Adriana Varejão e Beatriz Milhazes. Com razão. Adriana acaba de inaugurar uma mostra de sua criação no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Numa entrevista, ela disse que, em sua arte, tudo parece, mas não é. Parece pintura, mas não é; parece azulejo, mas não é; parece carne, mas não é.
Contudo, devo confessar que não percebi novidades na pintura brasileira da atualidade. Posso entender que estamos num impasse. Tudo parece esgotado nas artes de um modo geral depois das correntes pós-modernistas. Como, entretanto, não sou especialista, posso muito bem estar enganado.
A própria Adriana Varejão concebeu trabalhos que parecem retomar a Op Art e o Abstracionismo. Mas, como ela diz, pode parecer não sendo. Tratar-se-ia de uma retomada e de uma atualização sem compromissos com escolas. Este processo é vivenciado por todos os outros artistas enfocados no livro. Os quadros de Alex Cerveny parecem muito influenciados pela arte Naïf. Vejo, em Ana Elisa Egreja, muito do Fauvismo. Ana Prata tem quadros inspirados no Surrealismo e na Pop Art. Ana Sario se movimenta um pouco no âmbito do Cubismo. Já Beatriz Milhazes parece tangenciar o Raionismo e a obra de Fernand Léger. Vejo influências de Mondrian e de Paul Klee em Caetano de Almeida.
E assim em diante. O minimalismo da obra de Cássio Michalany tem muito do Abstracionismo Geométrico de Mondrian. Eduardo Berliner flerta com o Surrealismo. Gisele Camargo também tem marcas nítidas do Abstracionismo Geométrico. Luiz Zerbini tem traços do Fauvismo e do Abstracionismo Geométrico. As cores da pintura de Mariana Palma lembram o Fauvismo, com seus tons fortes e berrantes. O consagrado Paulo Pasta, mestre de toda uma geração de artistas, parece muito influenciado por Mondrian. Em Rafael Carneiro, vi muito do Hiperrealismo, assim como percebi influências do Abstracionismo Informal em Rodolpho Parigi.
Mas, neles todos, as correntes pós-modernistas estão misturadas: Conceitualismo, Neoconceitualismo, Neoexpressionismo, Minimalismo e Sensacionalismo, conforme definição de Stephen Little, no livro ... Ismos: para entender a arte (São Paulo: Globo, 2010).
Agora, vamos ao assunto central deste artigo. Entre as mais altas expressões da pintura brasileira atual, figura o nome de Lucia Laguna, nascida em Campos em 1941 e desde os anos de 1970 residindo no Rio de Janeiro. Depois de se aposentar como professora de língua portuguesa, ela estudou pintura, teoria e história da arte na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Os organizadores do livro dizem que sua obra é uma das mais consistentes da pintura brasileira contemporânea. Suas telas dialogam diretamente com a paisagem urbana do Rio de Janeiro e com a espacialidade do seu ateliê. Ela se expressa de forma esplêndida com a cor e colagens. Deixemos que a própria artista ilustre este artigo com um trabalho seu intitulado paisagem nº 50.