Dois extremos a serem evitados. O primeiro é o otimismo extremado, fiado na convicção de que a Rio+20 colocará em andamento todas as propostas para a construção de um mundo melhor. Esta atitude se manifestou na Rio-92, paralisando por alguns anos os movimentos de defesa do ambiente. Houve uma catarse por parte da sociedade civil, pois acreditou-se que todos os documentos assinados na Conferência e os compromissos assumidos pelos governantes seriam cumpridos. Avançamos muito pouco de lá para cá.
O segundo extremo consiste em negar a Conferência Rio+20 porque ela será dominada pelos países capitalistas ricos e emergentes, alegando-se que, dentro do capitalismo não há saída. Em princípio, concordo estrategicamente. Contudo, taticamente, é ingenuidade acreditar que o capitalismo mergulhará em sua crise final nos próximos dez anos. Assim, avançar dentro do capitalismo é o caminho que nos resta.
Como, atualmente, a concepção de futuro não está mais bipolarizada entre economia e ecologia, mas sim pautada por uma visão tridimensional que pensa a proteção do ambiente, a melhoria das condições sociais e o crescimento da economia, arvoro-me a levantar os principais problemas planetários. Os meios de combatê-los ficam para outra ocasião.
1- Desacelerar, frear e reverter a crise ambiental. O ocidente criou um modo de vida ecologicamente insustentável baseado no consumo infinito de recursos e no descarte infindável de dejetos. Este modo de vida foi imposto a todos os povos ou adotado por eles, gerando uma crise ambiental planetária de origem humana. Temos em torno de 50 anos para reverter este quadro, pelo menos para desacelerá-lo. Precisamos adotar um modo de vida ecologicamente sustentável para o planeta.
2- Combater as desigualdades sociais entre países ricos e países pobres. Os países ricos precisam adotar modos de vida menos perdulários. Os países pobres precisam ter acesso ao mínimo indispensável com dignidade.
3- Combater as desigualdades sociais regionais no interior de cada país para terminar, por exemplo, com um nordeste pobre e um sul-sudeste rico, no interior do Brasil; ou uma Itália do norte rica e uma Itália do sul pobre.
4- Combater os bolsões de pobreza dentro de todos os países, inclusive nos países ricos.
5- Combater as desigualdades sociais dentro de cada país como um todo, inclusive nos ricos, não propriamente para criar sociedades igualitárias, porém com mais justiça social.
6- A experiência socialista não deu o resultado esperado; a capitalista flexível vem mostrando seus efeitos negativos. Ao que parece, o modelo do futuro deve combinar a liberdade com a justiça social. O Estado tanto não pode reduzir a economia e a sociedade a si próprio quanto não pode abandoná-las a sua sorte. O caminho parece ser um estado suficiente.
7- Ao contrário do que alguns autores supuseram no século XX, a tendência mundial não aponta para a redução de estados nacionais, mas para o aumento de seu número. Há etnias no interior de vários países reivindicando aquilo que esses países prezam tanto: a soberania nacional. Geralmente, essas questões étnicas se manifestam de forma beligerante. O mundo deve aprender a viver com duas situações: a de uma grande multiplicidade de Estados Nacionais e de uma confederação mundial forte e respeitada para administrar os contenciosos e a competição irrefreada.
8- No plano cultural, parece que o fenômeno denominado globalização é mais forte, neste momento, que os movimentos em favor da diversidade cultural. Tudo indica que ela continuará progredindo, mas cabe cuidar da diversidade cultural do mundo ou de recriá-la dentro de uma cultura globalizada.
9- O pluralismo deve incluir, também, o direito das mulheres, das crianças, dos idosos, dos homossexuais e de outras minorias.
10- A democracia deve progredir no sentido de fortalecer a sociedade civil, promovendo o fortalecimento da cidadania.