Veranico de março – Ontem mesmo, os ruralistas estavam reclamando do excesso de chuvas e pressionando os governos para drenarem, fosse como fosse, o excesso de água acumulado nas baixadas, pois ele ameaçava a cana e o pasto de morte por umidade. Agora, logo após as chuvas, os ruralistas enfrentam um veranico em março, melhor dizendo, a falta de chuvas num mês em que costuma chover, o que já está acarretando o endurecimento da cana e dos pastos. Os ruralistas nunca estão contentes. Se fosse possível um painel de controle para regular a umidade, certamente eles exigiriam que o poder político o adquirisse e que eles o operassem. Fico com pena dos presidentes do Sindicato Rural, da Asflucam, da Acic, do Sindicato dos Ceramistas e da Coagro. Eles sofrem muito na sua relação com São Pedro. Vai demorar para que eles percebam a necessidade de um zoneamento ecológico-econômico que devolva terras roubadas aos reservatórios naturais de água e que promova a sua restauração. Vai levar tempo para que eles se ajustem à era do aquecimento global da atmosfera, com fenômenos extremos. Tenho conversado com especialistas e técnicos que consideram cedo creditar as intensas chuvas de janeiro e fevereiro às mudanças climáticas. Temo que seja tarde demais quando eles se convencerem de sua realidade. Por isto, adoto o princípio da precaução.
Violência na região – O entusiasmo com o crescimento econômico de São João da Barra e de Quissamã arrefeceu um pouco no ânimo dos prefeitos Carla Machado e Armando Carneiro. O motivo foi o anúncio da Organização dos Estados Ibero-Americanos de que Macaé se tornou uma das dez cidades mais violentas do país. Os dois prefeitos acreditam que só existe uma forma de desenvolvimento: a que Macaé adotou com a instalação de grandes empresas. No princípio, ninguém viu ou quis ver a contrapartida ambiental e social deste pseudodesenvolvimento. Tive o desplante da escrever sobre o futuro da Princesinha do Atlântico, mas julgaram-me alarmista, ridículo, ecochato. Aí está o resultado. Agora, que São João da Barra está prestes a ver a instalação de um mega-empreendimento com o porto e o mineroduto da MMX, enquanto Quissamã e Campos receberão de braços abertos o estaleiro das empresas transnacionais Aker-Promar (norueguesa) e Edson Chouest (norte-americana), Macaé aparece como o futuro dos três municípios. Existe a previsão de 7 mil empregos diretos e indiretos, mas os dois prefeitos já conseguem vislumbrar o outro lado da moeda na forma apenas da violência. A proposta deles é reforçar a segurança. Há quem aponte para a educação e para o planejamento. Depois de prever, no início dos anos 80, o que aconteceria com Macaé e com o terminal pesqueiro de Barra do Furado, sinto-me mais seguro para declarar, senhora e senhores, que nada impedirá a macaeização de Quissamã, de Campos e de São João da Barra. Os prefeitos não podem isolar seus municípios com cercas eletrificadas, não podem impedir o direito constitucional de ir e vir. Com este caminho para o "desenvolvimento", será impossível deter o desemprego, a favelização, o aumento das doenças contagiosas, a prostituição, o narcotráfico, a violência, a queda da qualidade de vida e a deterioração sócio-ambiental de mais três municípios do norte fluminense. E notem que eles têm tudo para buscar o desenvolvimento por uma via mais branda, limpa e de baixo impacto.
Política econômica de Campos – Parece que o governo de Campos, desde o prefeito Arnaldo Vianna, definiu a sua política econômica: 1- apoiar seu orçamento no estrondoso ingresso dos royalties do petróleo; 2- gastar dinheiro em obras desnecessárias (que atendem aos interesses de empreiteiros); 3- em espetáculos superfaturados; 4- em desapropriações de bens pertencentes aos amigos do rei; e 5- em convênios. Agora, com a política conservadora do Fundo de Desenvolvimento de Campos (Fundecam), 6- criar facilidades para a instalação de indústrias no município e, pelo Fundecana, 7- favorecer os ruralistas. A visão das lideranças políticas e econômicas é gerar empregos através de empresas e não diretamente através de iniciativas do poder público. Não há nenhuma política agrícola e agrária que se dirija diretamente ao trabalhador rural para que ele se fixe à terra, produza alimentos para o mercado interno em consorciação com a restauração e a revitalização de microbacias e com o reflorestamento para contribuir na minoração do aquecimento global. Para uma visão convencional de desenvolvimento, uma fábrica de tubos pode simbolizar progresso. Acontece, porém, que ninguém come tubo, embora o ambiente e os pobres possam entrar por ele.
Aí fica difícil – Por falar nisso, o deputado federal Arnaldo Vianna descobriu a existência do Programa de Microbacias do Estado do Rio de Janeiro. Ele teve quase oito anos, como prefeito de Campos, para fazer tal descoberta e apoiá-la. Este programa não tem as palavras "ambiente" e "ecologia" em seus títulos, mas objetiva exatamente o que foi dito acima: fixação do trabalhador rural à terra, cultivo de alimentos e recuperação das matas ciliares. Enfim, um desenvolvimento realmente sustentável do ponto de vista ecológico e social.