É muito comum nesses dias ouvir nas conversas cotidianas a expressão "nos Estados Unidos é assim ou assado...", como se tudo que se fizesse naquele país fosse referência para alguém.
O país do genocídio de milhões de indígenas, do racismo, das duas bombas sobre civis japoneses com o país já derrotado, da violência contra crianças e idosos no Vietnam, da agressão gratuita ao povo do Iraque e a dezenas de outros países não pode nem deve ser referência para quem quer que seja.
Para ficar dentro tom, é preciso dizer que nos EUA de hoje, a parte ativa do exército foi privatizada. Empresas privadas fornecem homens - os mercenários - para combates em situações de maior risco, para evitar as constrangedoras mortes de jovens americanos de classe média em conflitos cuja razão a maior parte da sociedade americana não compreende nem quer compreender.
Naquele país, em boa parte dos estados, as penitenciárias são privadas. Não por acaso, os EUA têm a maior população carcerária do mundo.
O limitado sistema de saúde pública americano só atendia até há pouco crianças e idosos. Aparentemente, o atual presidente conseguiu ampliar esse atendimento para pessoas mais pobres entre aqueles dois extremos. Todavia, sabe-se que a qualidade do sistema ampliado deixa muito a desejar. Resta, portanto, à classe média pagar por planos de saúde privados, apoiados em contratos draconianos e caros.
O Brasil periférico, que tanto orgulha alguns desavisados, apenas copia o que se faz de ruim por lá. Se é para copiar que o Brasil copie os bons exemplos europeus, especialmente os do norte da Europa.
O sistema de saúde pública brasileiro é desumano. Apenas quem pode pagar um plano de saúde privado pode ser tratado, apesar de já ter pago uma pletora de tributos que deveriam servir justamente para prover a população desse tipo de atendimento.
As Forças Armadas esvaziadas convivem com treinamento e equipamento desatualizados. O polícias estaduais são decadentes ao passo que as milícias estão em ascensão.
É nesta paisagem que, em Minas Gerais, a entrada em operação da primeira penitenciária privada de uma série de cinco ainda em construção, é noticiada pela imprensa como solução mágica. Foi construída por um consórcio privado que vai operar a casa por vinte e sete anos prorrogáveis. Seu negócio será remunerado pela quantidade de internos nas novas instalações. Ou seja, quanto maior o número de criminosos e de crimes, maior o lucro das operadoras. A mais simples observação desse tipo de remuneração fere toda lógica de uma sociedade que se pretende a caminho do equilíbrio social.
Apesar de o estado não nos eximir de pagar impostos, ele transfere suas funções para grupos privados, ampliando a concentração de renda e, portanto, o desnível social e a injustiça.
No âmbito federal está também em gestação um processo de privatização de portos, aeroportos e rodovias que terá as mesmas consequências: transferência de renda da população para grupos empresariais, aumentando a concentração de renda, a injustiça e o desnível social.
Uma rápida olhadela nos serviços privatizados no estado do Rio de Janeiro nos mostra a qualidade destes: a distribuidora de energia Light tem um altíssimo índice de interrupções de fornecimento, além da falta de manutenção de suas instalações subterrâneas que produzem, volta e meia, explosões em plena área de circulação de pedestres.
O serviço de transporte por barcas na Baía de Guanabara é um dos piores do mundo, com barcas apresentando constantes falhas mecânicas e padrões de qualidade inaceitáveis para os serviços seu cargo.
Há ainda o serviço de trens metropolitanos, responsável pelo transporte de muitas centenas de milhares de passageiros por dia. Estes trens apresentam também um índice de defeitos inaceitável pelo seu grau de incidência. É comum vermos passageiros caminhando pelos trilhos dos trens, expondo sua vida, por causa do desleixo da empresa.
Todos esses são exemplos de privatização fracassada. O caso da privatização de penitenciárias em Minas Gerais, contudo, traz consigo algo adicional e pior. O capital não se arrisca em negócios duvidosos. Se ele - o capital - optou por cuidar de penitenciárias, é um sinal claro de que o crime vai aumentar.